nós hostilizamos o amor

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Quando a garrafa de molho quebra ao chocar-se com o chão, eu recuo para não ser atingido. E então Taeyong olha-me com o maior terror que poderia nutrir. Não por mim, mas pela situação em si. E eu não sei o porquê disso, já que ele literalmente terminou comigo.

— Puta que pariu! — exclama com delay, como se não tivesse levado sei lá quantos segundos para dar-se conta de que melou o chão e o molho respingou em tudo que é canto. — Calma, calma... Ten, so fique aí, ok? Vamos conversar... Vamos comer um pouco, sim? Eu vou fazer o Yakisoba, então.

Eu sei o que ele está fazendo. Aí, todo atrapalhado, esfregando a palma das mãos pelo chão na vã esperança de que irá adiantar de algo. Eu sei o que ele está fazendo. Aí, todo atrapalhado, me pedindo para esperar e ter calma na vã esperança de que irá adiantar de algo. Eu sinto que não vai.

— Não, não ajude — ele agarra um pano aleatório e esfrega no chão assim que me vê inclinando o corpo para ajudar na limpeza. — Pode melar seus bandaids. Só... Tem como esperar na sala? Juro que dou um jeito aqui.

Eu consigo enxergar-me nos seus olhos quando balanço a cabeça positivamente e saio devagar para a sala. E meus lábios estão tremendo, mas deve ser só o frio. É sempre o frio. Engulo em seco, sento-me no sofá e me alimento de uma raiva repentina acerca do fato de ele não mais ter uma televisão e eu não ter mais como me distrair senão com livros espalhados e plantas aleatórias em qualquer lugar.

Eu escuto sua limpeza daqui da sala. Ele é rápido, mas sei o porquê. Está nervoso e tudo bem. Desbloqueio meu celular e me distraio com qualquer coisa. Sobre como a nova coleção da Burberry está imperdível ou como minha expressão de nojo está estampada em cada canto da internet porque decidiram fazer um meme. Eu poderia me entreter com isso. Mas meus dedos deslizam pela tela, sem saber o que mais fazer, porque de repente ler piadas se tornou algo muito difícil para se fazer agora.

— Vai estar gostoso quando ficar pronto, tenho certeza — e lá vem Taeyong, com um sorriso triste, condescendente, sentar-se ao meu lado. — Enquanto isso... Por que não conversamos?

Encolho os ombros quase que involuntariamente.

— Por que trouxe minhas coisas? — ele aponta para a caixa.

— Você sabe o porquê.

Vejo-o levar alguns segundos olhando diretamente para mim sem nem piscar. Não sei se incrédulo ou tentando ver através de mim. Talvez os dois. Eu sou mesmo alguém difícil de se entender. Nem eu o faço, na maioria das vezes. Então eu não quero que ele se sinta mal. Não mais do que já estamos.

— Antes de te encontrar hoje — viro o rosto para frente outra vez, e encaro a parede como se nela fosse estar projetada as respostas para todos os meus problemas. É como se eu estivesse esperando que o universo me dê a cola nessa prova ridícula que estou tendo que passar. Essa dor irá bonificar? — Eu não sabia se viria me despedir ou, literalmente, implorar para que me dê uma nova chance. Acho que agora estou em cima do muro, porque... eu quero os dois. Entende?

— Ten...

— Você... está distante pra cacete também e eu não sei o que fazer com tudo isso, porque de repente te ver fazer o tipo de coisa que costumo fazer me machuca — meu rosto ganha calor e eu sei o que isso quer dizer. Atrapalho-me nas palavras, acho que nunca fui tão bom neste idioma. — Eu sei... as coisas mudaram, você mudou demais, e eu... sei lá, acho que sou o mesmo de sempre.

— Você não é. Você está aqui falando comigo, acho que se fosse antes nem viria, não é?

— Talvez eu viesse, sim — engulo em seco. — Para dizer sobre o quanto não preciso de você. Eu diria que não preciso de você para ser feliz, que eu mesmo posso fazer isso. E tem uma parte de mim que quer fazer isso, e... porra, é como um grito na minha cabeça, sabe? Porque é verdade. Eu posso ser feliz aí fora com outras coisas e pessoas, comigo mesmo... Embora eu almeje a felicidade que sinto estando junto a você.

crises et chocolat༶✎༶tae. tenOnde histórias criam vida. Descubra agora