A Sombra de Copas

15 - Explicações

- Ok, a gente se vê no restaurante, tampinha - Bia se despediu ao telefone logo antes de desligar e continuar dirigindo. 

A carioca tinha recebido a notícia do namoro de Gizelly e Ivy na noite anterior e passou quase toda a noite pensando. Amava Ivy, assim como Gizelly. Eram suas amigas e queria o melhor para elas. Queria vê-las feliz. Mesmo assim, concordava com Manu. Elas não se amavam. Essa relação é apenas comodo para ambas e, mesmo odiando pensar que Manu poderia estar certa, parecia muito conveniente Ivy ter mudado de ideia depois de perceber que Gizelly estava começando a se interessar de verdade por Fernanda. 

Além disso tudo, Bianca ainda não havia contado a ninguém sobre quem encontrou em um restaurante na cidade a poucos dias atrás. 

Rafaela Kalimann. O assunto proibido de tantos anos havia retornado. 

Apesar de Bia ainda ter certa magoa da amiga que sumiu sem qualquer explicação, deixando Gizelly numa situação catastrófica, nunca deixou de sentir falta de sua velha amiga. Sempre se perguntou o que havia acontecido, pois depois de todos esses anos, ainda era difícil acreditar que Rafa realmente faria o que fez com Gizelly. Desde que Bianca conheceu Kalimann, a mineira só faltava morrer de amores pela capixaba. Sempre se lamentando que não podia tê-la e depois com medo de perdê-la. Foram muitos dias de luta para conquistar alguém e depois sumir com uma denúncia de abuso. Simplesmente não se encaixava. Sem contar o fato de Rafa sempre morrer de medo do pai e do que ele faria se descobrisse sobre as duas.  

Seja como for, algo dentro da carioca a impelia a fazer algo. Não podia apenas ficar sentada e não fazer nada. Sabia que Gizelly nunca realmente superou a mineira, e pelo que viu de Kalimann, a mineira não parecia muito melhor sozinha em um bar de restaurante. 

Foi pensando nisso tudo que Bianca deixou o pequeno Chris com a mãe e ligou para Manu marcando um almoço para mais tarde. Ela mataria dois coelhos em uma cajadada só... 

A carioca encostou o carro no estacionamento da empresa e logo já foi descendo do carro apenas com o celular na mão. Pegou o ticket do valet que o manobrista a entregou e seguiu para o elevador. 

- Moça - a recepcionista chamou ao ver a mulher passar reto.

- Olá, posso ajudá-la? - a secretária de Kalimann também questionou ao ver a carioca, levantando-se apressada ao ver a mulher seguir seu caminho para a sala de sua chefe. - Ei, você tem horário agendado? Não pode ir entrando assim... 

Bianca escancarou a porta, divertindo-se ao ver o leve susto que Rafa tomou de sua mesa. A mineira estava atrás de uma elegante escrivaninha de vidro com um notebook de um lado e uma bagunça de papéis do outro, onde ela parecia bastante concentrada. 

Assim que viu os olhos castanhos de Bianca, Rafa relaxou com um sorriso de divertimento. 

- Desculpa, senhorita Kalimann - titubeou a secretária, envergonhada. - Ela simplesmente foi entrando e...

- Tá tudo bem, eu conheço essa doida aí - Rafa tranquilizou a secretária, já rindo. - O que faz aqui, Bia? 

Bia sentiu a vontade de sorrir quase lhe vencer, mas manteria sua pose ou não teria êxito. Cruzou os braços sob o peito e fechou sua expressão, ficando o mais séria que conseguia ficar. 

- Eu te dei meu número, não dei? - perguntou, claramente irritada.

- Sim, deu... - Rafa respondeu com uma expressão culpada e um sorriso amarelo.

- E se eu não troquei meu número, tem alguma outra explicação pra eu não ter recebido um oi seu, sua vaca ingrata - Bia exclamou, se aproximando da mesa de Rafa.

- Eu ando super ocupada com o trabalho e... - a mineira tentou se explicar, mas a carioca a cortou.

- Não interessa! Me dá o seu número! Agora - ordenou entregando seu celular desbloqueado para a mineira que sorriu, derrotada.

Rafa digitou seu número no celular da carioca e entregou-o para a dona, que salvou seu contato como Cabeçuda e um emoji de uma carinha irritada.

- Ninguém me chama mais assim - Rafa pontuou, cruzando os braços.

- Esse foi o melhor apelido que a Luiza criou pra você - Bia respondeu, distraída ao visualizar uma mensagem de Manu avisando que já estava chegando ao restaurante. - Agora vamos! Levanta esse rabo gordo daí que vamos almoçar.

- Como? Bia, eu não posso! - Rafa exclamou, mostrando os relatórios espalhados na mesa.

- Você é a dona, mulher! Você faz o que bem entende! Eu sei porque também sou dona da minha empresa! Agora vamos logo antes que eu te levante no chute, sua otária - Bia exclamou já abrindo a porta e esperando Rafa.