Capítulo 22

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Após as duas pílulas, meus olhos se abriram pela primeira vez quando senti Scooby lambendo minha bochecha esquerda com alegria enquanto pisoteava a minha barriga com a mesma empolgação. Quando eu consegui me livrar dele, olhei para a janela, vi a Space Needle de Seattle e entendi que havíamos feito uma parada. Meu corpo, porém, não exibiu qualquer reação motora que pudesse me fazer acordar de verdade e me levantar, então tudo o que fiz foi fechar os olhos novamente e mergulhar no sono profundo.

Shaggy: Velma! Tipo, acorda, vamos! Precisamos abastecer!

Shaggy chacoalhou os meus ombros e eu abri os olhos com irritação. A urgência visível nas expressões corporais dele e do cachorro me fez entender que eram eles que precisavam ser abastecidos com comida, e não o avião. Eu fiz um gesto com as mãos sinalizando que eles podiam descer sem mim, virei para o outro lado em posição fetal e voltei a dormir. Logo em seguida, Daphne me cutucou e falou uma dúzia de frases que o meu sono REM ignorou completamente. Diante da minha ausência de resposta – quiçá, da minha ausência de vida, tamanho era o meu estado de letargia -, ela simplesmente arrancou a minha bolsa dos meus braços e começou a esvaziá-la. Novamente eu abri os olhos com irritação – e, dessa vez, com certa confusão.

Velma: Daphne, você tem duzentas e noventa e seis bolsas de dez marcas de luxo diferentes, só queria entender por que diabos você precisa usar a minha...

Daphne: Em primeiro lugar, você está desatualizada: agora eu tenho trezentas. Em segundo lugar: eu só trouxe quinze dessas trezentas. Em terceiro lugar: em nenhuma dessas quinze que eu trouxe cabe mais do que dez mil dólares em notas de cem...

Por um momento, meu cérebro fez um esforço para formular a pergunta "por que raios você quer carregar mais de dez mil dólares em uma bolsa?", mas quando ele percebeu que logo em seguida deveria ouvir uma resposta longa e entediante, ele simplesmente desistiu, fechou meus olhos e me devolveu aos braços de Morfeu. Certo tempo depois – sinceramente, não faço ideia de quanto – Fred me acordou delicadamente ao melhor estilo Fred Jones ao apertar o botão do meu assento e fazê-lo voltar à posição vertical para a decolagem. Depois que a inércia do movimento brusco quase fez o meu pescoço quebrar eu abri os olhos com muita irritação. Fred sorriu um pouco desconcertado pelo que havia feito e sinalizou para eu apertar o cinto. Eu obedeci e aguardei a decolagem ser realizada. Daphne devolveu a minha bolsa, disse meia dúzia de frases e mostrou algumas sacolas de bolsas e sapatos que responderam a minha dúvida anterior sobre a finalidade de carregar dez mil dólares em uma bolsa. Consegui manter meus olhos abertos até que os desenhos bonitos das nuvens contrastando com o céu azul me embalassem novamente em um sono profundo por horas.

Shaggy: Velma! Velma! Tipo, acorda, você vai morrer se dormir tanto!

Dessa vez, eu despertei totalmente revigorada, como se todo o sono que eu estava sentindo anteriormente tivesse se esgotado. O avião estava escuro, exceto pelas pequenas luzes do corredor e das luzes das duas poltronas onde Shaggy e Scooby estavam. Ao me ver acordada, Scooby passou por Shaggy e veio me cumprimentar. Eu alonguei os meus músculos e verifiquei as horas no relógio: 4:40 da manhã.

Velma: Jinkies, eu dormi tudo isso?

Shaggy: Tipo, eu já estava achando que você tinha morrido...

Antes que eu pudesse responder, Shaggy se levantou depressa de sua poltrona e se sentou na poltrona ao meu lado. Infelizmente, Scooby fez o mesmo, mas como não havia espaço livre, ele literalmente subiu em nossos colos e tentou acomodar seu enorme corpo em cima de nós. Ao olhar ao redor, notei Daphne adormecida e envolta em um sobretudo preto algumas poltronas à frente, e Fred dormindo em duas poltronas do meio. Percebi, então, que Shaggy e Scooby estavam com medo de ficarem sozinhos no escuro.

Scooby Doo: Wicked GameWhere stories live. Discover now