A luz que se apaga

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Eu estava na porta do banco parada com o telefone na orelha, meu corpo tremia, havia um informante armado atrás de mim

"Você não poderá se encontrar com os anjos"

Com certeza ele estava dizendo que eu iria para o inferno... No final acho que ele estava certo

Fechei os olhos esperando levar um tiro, não queria abandonar as meninas mas também não fiz o mínimo esforço para tentar desviar da bala

1...
2...
3...
4...
5...

Contei até cinco com os olhos fechados, não teve tiro nenhum

Criei coragem e olhei para trás, não havia mais ninguém no banco

Ele não ia me matar, ele nunca pensou em me matar, então foi naquele segundo que eu me dei conta do que ele estava falando

Ele iria tirar o meu anjo de mim naquela noite

Eu comecei a tremer mas eu não tinha tempo pra isso, corri o mais rápido que eu consegui, minha cabeça parecia girar, nem sei como não morri atropelada, e dentro da minha cabeça só vinha o nome dela

Erika...
Erika...
Por favor...
A Erika não...

Eu finalmente cheguei na porta da nossa casa, bati com tudo na porta que estava trancada, peguei a chave no bolso tremendo e a encaixei na fechadura, abri a porta e junto com o barulho do rangido eu escutei aquele barulho que se repetiu por meses na minha cabeça o tempo todo

O barulho de dois tiros que me deixou estática por um segundo, até eu ouvir o barulho de vidro quebrando, era um dos caras do chefe do tráfico que fugia pela janela

Eu voltei ao mundo real, tinha a opção de ir atrás dele ou tentar salvar o meu anjo, lógico que tentei salvar ela

Corri pela casa gritando seu nome desesperadamente, até me deparar com ela caída no chão da sala com um tiro na barriga e outro na altura da costela

Akyra:ERIKA!

Eu me ajoelhei desesperada ao lado dela, arranquei minha blusa pra tentar estancar o sangue

Me dei conta do quanto eu tremia, mas eu não podia desmaiar

Erika:Akyra...

Akyra:Me desculpa Erika! Me desculpa!

Eu chorava desesperadamente enquanto o sangue dela molhava minhas mãos, o cheiro dominava completamente meu cérebro

Erika:F-foi o chefe do t-trafico... Q-quem mandou ele... N-não foi?

Akyra:S-sim, mas não fala nada, eu tenho que te levar pro hospital a gente tem que...

Erika:Akyra...

Akyra:Tem sangue pra todo lado... Você tá sangrando demais e...

Erika:Akyra...

Akyra:Eu vou dar um jeito, eu tenho que dar um jeito, eu posso...

Erika:E-eu não vou resistir Akyra...

Akyra:Erika! Você não pode...

Ela segurou minha mão e me olhou com aqueles olhos azuis como o mar, mesmo cheios de lágrimas eles brilhavam forte iluminando a minha escuridão como fizeram desde o dia que eu a conheci

Erika:Por favor Akyra... Para...

Eu parei de lutar contra o que já estava óbvio

Erika:S-sabia que eu consigo ver facilmente quando você está c-com raiva?

Akyra:Erika... Você não vai morrer... Você não pode...

Erika: É assustador p-perder alguém não é? L-lembra quando você disse... Que um dia nós íamos morar com seu irmão... Q-que ele ia gostar muito de mim?

Akyra: Lógico que eu lembro...

Erika:V-você disse que a g-gente ia ser muito feliz, que um dia íamos adotar uma criança e íamos v-visitar a Raquel e meu avô nas férias... Você disse brincando, m-mas eu queria muito viver isso com você

Akyra:Me desculpa Erika, por favor...

Ela segurou mais firme minha mão

Erika:Você s-salvou o meu avô, você me fez s-ser feliz mais feliz do que eu jamais imaginei... V-você cuidou das nossas meninas até o final

Akyra:Mas eu não protegi você...

Erika:E-eu já estava morta antes de te conhecer Akyra... Foi muito difícil cuidar do meu avô e da Raquel... Eu vivia por eles... Mas quando eu te conheci Akyra... Eu comecei a querer viver, você me ensinou a viver de novo Akyra

As lágrimas escorriam do rosto dela enquanto eu via as luzes da polícia no lado de fora refletirem na parede branca

Erika:Se não fosse eu seria uma das minhas meninas... Eu não me arrependo de morrer por elas

Akyra:Mas fui eu que...

Erika:P-por favor Akyra... Não se arrependa de tudo que você viveu aqui... Não se arrependa de me salvar... De salvar as nossas meninas e de salvar meu avô...

Akyra:Mas foi você quem me fez perder o medo do escuro Erika...

Erika:Você mesma disse que eu nunca consegui te tirar de lá... Você vai achar alguém que consiga... Eu sei que você vai atrás do Chefe do tráfico... Sei que vai dar um jeito de se safar... Quando fizer isso vá ver o seu irmão... Sei que ele se arrepende...

Ela deu uma pausa e colocou meu cabelo atrás da orelha

Erika: Só quero que você me prometa cuidar das nossas meninas e do meu avô e da Raquel... Que não vai se arrepender do que viveu aqui... E que vai viver a vida que queria viver comigo

Akyra:Eu não...

Erika:Por favor...

Ela me puxou para perto com suas últimas forças e eu a dei um selinho, senti sua boca fria e vi seus olhos abrirem para me olhar uma última vez

Akyra:Eu... Eu prometo

Ela deu um sorriso tímido e fechou seus olhos

Erika: Obrigada Akyra...

Sua mão escorregou por trás da minha orelha caindo no chão

O barulho dos passos estavam muito perto, eu olhei para ela a última vez, vi seus olhos que antes me iluminavam agora fechados, meu corpo se levantou sozinho e correu na direção da mesma janela que o assassino da Erika

Eu pulei a janela, olhei para as pessoas paradas em frente da casa, vi o Senhor Fernando, que me olhava correr com o sangue de sua filha pelo corpo

O velho chorava enquanto a Raquel se agarrava em sua cintura

Eu corri desesperadamente sem rumo e chorei como nunca antes

Lua De Sangue (Irmã Do Baji) Onde histórias criam vida. Descubra agora