PARTE 02 - FÚRIAS

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A parte dois da coletânea é composta apenas por um conto intitulado 

ALLYPIOS,O DESPERTAR

A garganta do espécime arranhava provocando dor, sua anatomia não possuía traços humanos, por mais que sua fisiologia tivesse uma certa semelhança com mamíferos. 

A criatura abriu os olhos rapidamente como se acordasse de um pesadelo assombroso, o ser buscava alguma memória que o fizesse entender o porquê de estar ali acorrentado ao chão com um líquido de um cheiro perturbador na altura do seu pescoço. 

A cavidade nasal por trás do globo ocular deixava o sentido da visão perturbada por conta da substância química. O monstro entendia que estava detido em um cubo de vidro numa sala opaca e já era noite.

A pele preta com aspecto de escamas ardia e a criatura soltava um pequeno grunhido, balançava a cabeça de um lado para o outro na esperança de expulsar a dor. 

No alto do seu crânio, uma calda surgia estendendo-se para suas costelas e dali risadas de outro ser surgiam. O monstro não conseguia distinguir aquelas lembranças, no entanto, ele entendia que sua calda lhe proporcionava o ato de pensar.

Durante dias, a criatura chorava silenciosamente enquanto observava a sala vazia com aspecto metálico, apenas uma janela, sempre imersa em escuridão, era seu passatempo.

 Ele ainda tentava sem sucesso entender algumas cenas que se formavam em sua mente nos últimos dias. O espécime via tonalidades diferentes e também um líquido azul enquanto observava uma pequena criatura, estranha e magricela, mergulhando aquela matéria no que lembrava ser a sua pata direita; nas imagens, as risadas vinham dela.  

Naquela noite foi diferente, a porta se abriu de baixo para cima, deixando-o alerta, rapidamente fechou seus olhos e descobriu que podia ver até de olhos fechados. 

O cheiro que banhava o local era diferente e, ao mesmo tempo, conhecido, era o mesmo aroma que a criatura de suas lembranças emanava.

— Checar os sinais vitais do Allypios 0120 —por extinto o monstro inclinou a cabeça e uma cavidade surgiu do lado esquerdo o fazendo soltar um som diferente ao captar aquele comprimento de onda vindo de trás, rapidamente ele voltou ao estado estático, pois sentiu medo daquele ser desconhecido — faça um relatório dos últimos trinta dias também.

— Sinais vitais alterados, sistema cerebral danificado — uma voz robotizada banhou o ambiente — os picos dos últimos trinta dias relataramcolapso mental, medicamentos com princípios ativos para estabilizar esses danos foram administrados ao Allypios 0120, porém não houve progresso, Melissa.

— Como isso é possível? — Com o questionamento o espécime tremeu com uma certa aflição de ser descoberto. 

— Melissa, talvez por alguma falha no sistema, posso fazer uma busca na cápsula para identificar — o monstro viu uma movimentação estranha atrás de si, a pequena figura desconhecida colocou as mãos na testa e em seguida ergueu o rosto para o alto. 

Ele percebeu luzes com códigos projetados ao lado de uma imagem com seu próprio corpo, estava gostando de descobrir o quanto seus sentidos eram apurados.

— Ótimo então — Allypios percebeu que Melissa estava vindo em sua direção, ela então deu a volta na cápsula, não demorou muito para os dois monstros ficarem cara a cara — por precaução administre dois de aremanina e quatro de metoxtoxilina — a voz de Melissa subiu algumas oitavas enquanto ela observava o ser imerso em um  sono profundo, mal sabia ela que era tudo fingimento.

— Ejetando medicações nível quatro —Allypios desconheceu o nome daquelas substâncias, mas logo sentiu uma dor imensa em sua pata esquerda, mascarou a dor para não entregar seu despertar.

 — Se não fizer efeito, me contate rapidamente. 

— Ok Melissa, lembrete adicionado ao sistema.

O monstro achou estranho quando aquele ser magricelo protegido por um jaleco branco e um traje que cobria todo o seu corpo repousou a mão sobre o vidro.

 Allypios observou bem as características do pequeno ser — Melissa — ele disse em seus pensamentos.

 Observou que Melissa possuía olhos amendoados e uma pele preta, no entanto, constatou que o preto é menos intenso, o que o deixou curioso para tocar a pele dela. O espécime estranhou o fato de Melissa não possuir a pele escamosa como a sua, ele projetou as características de Melissa ao outro ser de suas memórias.

— O que está errado com você? — A voz dela exibiu preocupação enquanto fazia o questionamento para si mesma após retirar sua mão do vidro, deixando o monstro enjaulado em dúvidas — você está proibido de morrer, você me ouviu? — Allypios sentiu uma queimação vinda da parte posterior do seu peito, ouviu batidas rápidas dentro da sua caixa torácica, a voz daquele ser provocou tal situação

Melissa deu a volta e seguiu em direção a saída, possibilitando que o monstro continuasse vendo por trás de sua cabeça, em seu interior não queria que ela partisse. Sem entender, o ser estranhou aquela situação, ao ver a pequena figura magricela deixar a sala. 

Em questão de minutos, as substâncias começaram a agir no organismo da criatura fazendo-o dormir novamente — não dormir — protestou em pensamentos antes de se entregar para a escuridão.

UM MÊS DEPOIS 

A sala possuía uma movimentação estranha chamando a atenção do espécime que acabara de acordar, porém, acreditara que seu pensamento positivo fez efeito. 

O que para Allypios foi um segundo, para a realidade, trinta dias se passaram.

 — Você não tem permissão para estar aqui — disparou uma voz grave e rouca, a criatura tentou assimilar aquele comprimento de onda a alguma imagem, no entanto, não obteve sucesso —você falhou Melissa, e por sua culpa corremos risco de vida, olha esses picos sem explicação, o que você pensa que é?O silêncio reinou por segundos, o monstro sentiu uma atmosfera sombria sentindo fisgadas de pequenos choques elétricos por todo o seu corpo. 

— Não quer dizer que o mesmo acidente vai acontecer novamente. Os picos podem ser parecidos, e se estivéssemos em risco o Allypios 0120 já teria acordado, não estaríamos mais aqui — a voz de Melissa ecoou grave em resposta para aquele outro ser desconhecido — e digo mais, enquanto eu for responsável sempre terei permissão para entrar aqui quando quiser....

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Você pode conferir mais desse conto adquirindo a versão fisica ou digital em todas as lojas. Mas caso queira saber sobre esse conto eu te convido para conhecer o meu podcast no spotify. Lá eu conto tudo em primeira mão sobre esse conto.

O nome do podcast é : Mundos em Fúrias e Chamas.

vou deixar algumas parte do programa aqui. 

Esse episodio ainda irá ao ar - dia 18 de julho

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Mundos em Fúrias e  Chamas - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now