Capítulo 63

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Lia Grimes P.O.V

Já fazia quase cinco minutos que a mulher de cabelos castanhos claros que se apresentou como Deanna, me encarava enquanto eu examinava a espaçosa sala comum da casa da mesma.

- Está tudo bem se eu filmar? - Sua voz saiu confiante, simpática, e apenas concordei com a cabeça, olhando pela janela a rua daquele "conto de fadas". - Por que não se senta? - Eu não respondi.

O silêncio se instalou na clara sala novamente e meus olhos pararam na espaçosa estante de livros. Há alguns anos, aquilo teria sido meu paraíso.

- Gosta de ler, senhorita? - Ela procurava saber meu nome, eu me virei para a mesma.

- Lia. Lia Grimes. E já gostei. - Um sorriso adentrou seu rosto, o que me fez franzir o cenho.

- A filha do líder. Deve ser um cargo difícil.

Nós nos encaramos. Deanna aparentava ter uns 50 e poucos anos, parecia vivida no mundo antigamente, mas com a tolice de deixar estranhos entrarem armados em seu território, só me mostrava que aquele grupo era fraco. Talvez não fraco, mas despreparados para o que sempre acontecia.

- Seu pai parece ter passado por muita coisa. Passou tanto quanto ele? - Ela voltou a perguntar e um sorriso de lado apareceu no meu rosto.

- Algumas cabeças rolaram. - Nossos olhos se encontraram e dei de ombros, voltando a olhar a estante, reconhecendo uns clássicos. - Acontece.

Ela sorriu ao se ajeitar na cadeira e debruçar os cotovelos sobre os joelhos.

- Seu humor será algo memorável por aqui.

Quem dera se eu estivesse apenas brincando.

- Porque olha assim para as coisas aqui? - Ela chamou minha atenção, sua voz saindo quase como se estivesse incomoda. - Com tanto desdém?

Me encostando na janela, eu a encarei.

- Eu deveria olhar de outro jeito? - Ela juntou as sobrancelhas com minha pergunta. - Sabe Deanna, perdemos muitas pessoas até chegarmos aqui. Muitas mesmo.

- Sim. Eu entendo. - Disse, me fazendo sorrir.

- Não. Acho que não. - Ela abaixou a cabeça, e passei o dedo pela estante pouco empoeirada, enquanto andava para o outro lado da sala. - Vocês sempre estiveram aqui? Atrás de grandes muros?

- Meu marido, Reg, é professor de arquitetura. Ele e os homens dessa comunidade subiram o muro quando tudo começou. Achamos esse lugar e estavam construindo um shopping a alguns quilômetros daqui, então, não tinha como não dar errado. Tínhamos uma comunidade, quando mais pessoas foram aparecendo.

Eu ri, fazendo a mesma me encarar.

- Sabe, isso me faz pensar que ou vocês são abençoados por algum tipo de Deus, se isso existir mesmo, ou tem muita sorte. Mas você já é vivida, deve saber que a sorte não funciona assim. - Ela me encarou, engolindo em seco enquanto eu me apoiava sobre as mãos na mesa de centro em nossa frente. - Então se quer saber por que olho com tanto desdém, é porque não acredito. Ainda não.

E por algum motivo, seus olhos se iluminaram.

[...]

Depois de mais algumas perguntas sobre o passado, eu finalmente pude sair daquela sufocante conversa. Por um instante, eu estava me sentindo em uma entrevista de emprego.

Quando quase metade do grupo já havia sido interrogada, Deanna junto com uma moça mais gordinha e de óculos, começaram a recolher as armas.

- As armas continuam sendo suas. Podem pegá-las sempre que saírem daqui. Mas aqui dentro, ficam guardadas com segurança.

Destino Travesso | Daryl DixonWhere stories live. Discover now