Capítulo 23

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Dancei com a Celeste por muito tempo, não só eu, Will e Carlos também estavam juntos. Devo confessar que meu ânimo, ao menos por dentro, seguia quase zerado, de todas as formas, quis aproveitar desse tempo para pelo menos tentar me divertir com eles.

Muito óbvio eu dizer de novo que precisei me afastar quando tocou Alcione. Fui para mais perto do mar onde estava mais escuro e não demorou para a irmã do Hélio aparecer e sentar ao meu lado. A música estava um pouco distante, eu não chorava como em alguma outra ocasião aconteceria, mas sou humana, as lembranças dela vinham a todo segundo na minha mente. Acho que é por isso que as pessoas falam que não se deve apresentar seu cantor favorito. As lembranças podem estragar um dia.

- Tudo bem?

- Não se preocupa. Saiu da dança, é? — tentei brincar.

- Alcione pega pesado. — a vi rir.

Celeste parou de sorrir e me olhou com carinho, tocou no meu rosto e se aproximou para um beijo. Beijo esse que durou o suficiente para me lembrar dela outra vez, quase como um golpe, e afastar devagar, já com indício de lágrimas nos olhos. Lágrimas essas que, felizmente, não caíram.

- Desculpa... — falei sussurrando.

- Não tem que me pedir desculpas.

- Você é tão encantadora que uns meses antes na minha vida e eu teria deixado meu padrasto louco. Junto com minha mãe, claro. Imagina eu chegar e dizer que estava apaixonada pela cunhada da minha mãe.
— Celeste riu. Ao menos meu humor estava intacto.

- A cunhada não mas... a amiga?

- Como?

- Se apaixonou pela Fanny, não foi?

- Depende. — sorri mexendo nos meus pés.

- Não vou falar a ninguém, imagina. E nem quero parecer invasiva. É que pra uma mulher como eu, não fica difícil notar. Imagino como deva estar se sentindo.

- Não sei muito bem como lidar, mas vai passar.

- Nem sempre. Ás vezes a gente aprende a lidar e o sentimento vai continuar lá, existindo, só que de uma forma mais amadurecida. Vem, levanta, vamos voltar e aproveitar esse samba.

Celeste me levantou, mudando completamente de assunto. Também notei que nas horas seguintes ela me empurrou a beber bem mais a água do que bebida com álcool. Claro que aceitei. Ficamos lá até certo horário e voltamos para casa antes que acabasse, todos dormiram lá em casa, era a mais próxima do cais onde havíamos descido do barco. Uma noite de mistura não programada de recentes amigos em um mesmo ambiente.

Nas semanas que seguiram, me dediquei em organizar minha vida profissional mas com o casamento mais próximo, fiquei mais presente para minha mãe, eu e Celeste. Estava mais próxima dela, viramos boas amigas, ela não falava da Fanny, contou mais suas histórias, seu trabalho e seu último relacionamento.

Celeste carrega um humor que lembrava do Hélio, meu padrasto. Falava feliz sobre o trabalho dela como diretora de teatro, eu passaria horas ouvindo.

- E então, tia Vera, Fanny confirmou que vem? É que só faltam quatro dias e ela ainda não veio. — Will perguntou enquanto estávamos na sala ajeitando umas caixas.

- Não sei, tem mais de uma semana que Fanny não responde ao meu email, me resta esperar. Mas sendo ela como é... Já espero de tudo.

Will deu de ombros e notei que Celeste me olhou mas não disse nada. Acho que esperou alguma reação minha, seja por gestos ou palavras.

- Vivi, esse colar é lindo, sabe que sempre esquecia de perguntar quem deu pra você?

- Ah, foi a Fanny, mãe. — ela segurou mais de perto, olhando com detalhes o objeto.

Faz uma loucura por mim Where stories live. Discover now