Culinária

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Quando voltamos para a pequena casa de Chrome começamos a dividir os elementos que usaríamos para criar o ferro. Suika era curiosa e perguntava o que faríamos a cada passo, mesmo que sempre perguntasse para a grande Santa.

- Então a areia preta que pegamos no rio vai virar esse tal de "ferro"? - Questionou a menor.

- Exatamente. Só misturar quatro partes de areia de ferro, uma parte de carvão e, por fim, aquecer. - Respondeu a morena.

- Isso é fácil! - Respondeu Chrome, contente com a falsa aparência que era a preparação de ferro.

- Quem dera se fosse. - Murmurou S/N.

- É mais difícil do que parece. - Respondi. - Não é como fazer potes de argila. O máximo que conseguimos queimando a madeira é 700 graus. Mas, para a fundição de ferro, transformar a areia de ferro em ferro precisa de 1500 graus.

- Não é nem perto do suficiente. O que vamos fazer? - Questionou Kohaku.

- Vamos assoprar bastante. - Brinquei e S/N deu um tapa em minha nuca.

- O que ele quis dizer é que precisamos colocar o máximo de oxigênio que pudermos, nós vamos mandar um monte de ar e dobrar o poder de ataque de 700 para 1500. - Complementei entregando as bolsas de ar. - Eu tenho uma ideia melhor que vai ajudar o papel de assoprar forte como o "lobo mal", mas antes eu preciso ir falar com Ruri. Divirtam-se.

A garota deixou um selar rápido em meus lábios e saiu, o beijo tinha sido tão rápido que nem o gosto de morango eu havia conseguido sentir direito. Ela não estava apenas indo falar com Ruri, mas também querendo fugir do trabalho manual. E não posso julga-la, eu faria o mesmo.

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S/N só voltou a noite quando todos nós já estávamos esgotados. Ela parecia tão cansada quanto nós, mas substituiu o lugar de Suika e fez o trabalho manual sem que ninguém pedisse e mesmo com as reclamações de Kohaku.

Viramos a noite com aquele trabalho e não tínhamos alcançado o ponto de calor, então seguimos o plano de S/N e, como sempre, ela estava um passo a frente.

- Tanto Suika quanto eu já ouvimos todos os desejos da vila e sabemos o que a maioria quer, contudo, não podemos dar a maior parte. Mas, como precisamos de mão de obra urgentemente, podemos usar o que sabemos. Senku, as pessoas aqui não tiveram a mesma vida que nós, elas não conhecem pouco dos verdadeiros prazeres da vida, como Coca-Cola e cinema, elas não sabem o que é a música nem um laboratório completo, não sabem o que é pizza e muito menos milk-shake.

- Eu acho que estou entendendo onde quer chegar. - Murmurei. - Comida é igual a ciência.

- Comida? - Questionou Chrome indignado. - Como pretendem usar comida como isca?

- Macarrão. - Respondeu a morena que logo ergueu um painço de rabo de gato.

Não consegui conter o sorriso quando percebi que ela já tinha formado o plano todo, ela já sabia quem atrair e como, sabia onde encontrar os ingredientes e como mistura-los. Nunca me orgulhei tanto de um dos passa tempo dela ser a culinária.

- Você é uma gênia, minha garota. - Vi a mais nova sorrir e conter o bocejo. - Mas vamos fazer isso amanhã, precisamos de muita força, então descansem.

Me levantei e saí com minha mão entrelaçada na de S/N. Por mais que eu tenha dito para que todos descansassem, aquilo não significava que eu deixaria minha amada dormir sem antes me permitir ter o sabor de sua boca novamente.

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O sol já havia raiado, S/N dava as ordens e, sem pensar em hesitar, tanto Kohaku e Suika quanto Chrome, faziam com esforço. 

A criança com cabeça de melancia nos mostrou o caminho para o campo de painços, Kohaku os cortou e os colhemos rapidamente. Quando voltamos para o pequeno acampamento de Chrome, não medimos esforços para bater o painço.

- Não vamos comer painço de rabo de gato, não é? - Questionou Kohaku que analisava os ramos. - Acho que não vou querer.

- Temos que bater o que dá para descascar para que possamos comer. - Respondeu S/N que aumentava o fogo. - Painço de rabo de gato é um grão.

Kohaku olhava com nojo para as cestas repletas de grãos de painço, mas logo Chrome chegou com a água a história mudou. Ajudei S/N a por a água nos grãos e ela mexeu a água em círculos, para que assim eles se descascassem, depois a vi separar os grãos descascados da água com empenho e sem pedir ajuda, então me prontifiquei em fazer o carrinho que a garota pedira. Moer as pequenas sementes verdes não foi difícil.

No final do processo, S/N parecia contente com o resultado.

- Agora temos farinha de painço de rabo de gato! - Comemorou e começou a misturar os ingredientes em uma tigela.  - É só colocar junto de ovos de pássaros selvagens e amaciar com carbonato de potássio

A garota estava animada enquanto cortava a massa e preparava o caldo, mas aquilo, por um momento, não me importou mais, o que me importava era o grande sorriso no rosto da mulher, um sorriso animado de alguém que se divertia com algo simples. S/N nunca quis seguir uma faculdade de culinária nem ser uma chefe, ela fazia apenas porque gostava.

Quando terminávamos as tarefas e eu estava estudando na sua cozinha, eu me divertia em vê-la testando as receitas do livro da mãe, até que ela decorou todas e se começou suas próprias receitas que sempre tinham um gosto incrível

Por isso eu não me admirei com a grande dispensa de comida na pequena cabana onde tinha chamado de casa.

Eu não sei quando a garota terminou de preparar o macarrão, apenas percebi quando ela me entregou a tigela com mais ovos cozidos que as dos outros e então me lembrei um dos motivos do porquê eu ter me apaixonado por ela, a sua memória impecável. Eu comentei apenas uma vez que gostava de ovos no macarrão e isso se tornou o motivo de que ela duplicasse os complementos.

- Sem ofensa, Santa, o cheiro está ótimo, mas isso na verdade é painço de rabo de gato, não é? - Comentou Kohaku e, por um breve momento, vi o sorriso da morena vacilar.

Eu levei a massa até a boca e não segurei o gemido, de fato, a massa não tinha ficado a mesma já que a farinha era diferente, mas a minha garota havia conseguido alcançar o ponto da massa e do molho.

- Se o Senku comeu, então não deve ter nada. - Ouvi Chrome dizer e começar a comer. - Que gostoso!

O trio começou sem hesitar, o que encorajou S/N que, em resposta a própria comida, suspirou em descontentamento.

- O que eu podia esperar de painço de rabo de gato? - Sussurrou a mesma para que apenas eu ouvisse. - Está esfarelento e tem um gosto amargo no final. É comestível se pensar nisso como um remédio.

- Está gostoso, querida. - Sussurrei de volta e deixei um beijo em seu rosto e vi um sorriso em seus lábios. - Está muito gostoso.

Você vai nos salvar, meu doutorWhere stories live. Discover now