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O corpo da fada está suspenso no ar e seus braços estão abertos como se pedisse rendição.
- O que foi roubado precisa retornar. O que foi roubado precisa retornar. O que foi roubado precisa retornar.  – fala uma voz não humana e com raiva.
Kaled está assustado apoiado pelos cotovelos no chão. O ambiente estava infestado com um cheiro forte e inebriante de magia. Era diferente das magias que ele já havia tentado usar. Era pesada, e mais antiga que as dos elfos.
Um estalo de ossos. Depois outro em seguida. O elfo percebeu que conforme a vó mais repetia as palavras, mais o corpo ficava rígido no ar, e os dedos das mãos começavam a se dobrar para trás.
- Devolva. Devolva. Devolva agora! -  a voz cada vez mais estridente.
Ele estava com medo,  e não sabia quanto tempo a avó iria aguentar nesse transe. Então ele se levantou, mas logo foi jogado pro chão novamente. Havia uma nevoa rosada que parecia prender seu corpo no chão e fazer as janelas vibrarem a ponto de começarem a se rachar.
O chão tremia e os estalos ficavam cada vez mais frequentes.
- Vó, você precisa me escutar. – disse entrecortado. – Sou eu, Kaled.
De primeiro momento as palavras não pareceram causar efeito. Até a cabeça a senhora se virar em um ângulo sobrenatural com um estalo para sua direção. OS olhos eram inteiramente brancos e sangue escorria como lagrimas pelas bochechas.
Sua expressão primeiro se era neutra. Os dentes eram presas a mostra na boca entre aberta. Até que ela fez algo que fez o corpo do elfo gelar ainda mais.
Ela sorriu. O sorriso mostrava as presas afiadas e logo se tornou uma gargalhada que ele sabia que assombraria nos seus piores pesadelos.
- Eu sei quem você é.
Voltou a gargalhar e os vidros se estilhaçaram todos ao mesmo tempo. Nesse momento de distração Kaled terminou de traçar os símbolos no chão que havia começado desde o momento que cairia.
Eles brilharam em uma luz verde forte.
- Mas o que...
Antes que pudesse falar algo Kaled se levantou e apontou as palmas da mão para o peito da vó. As runas desenhadas nas palmas ganharam luz conforme o sangue escorria das palmas e braços dele.
A criatura gritou conforme a luz ficava mais intensa.
- Quebrar Elo. – falou em seu idioma antigo conforme a magia de sangue fazia efeito.
A casa toda tremeu e um grito monstruoso ressoou tão alto que fez os ouvidos dele sangrarem.
Um ultimo flash de luz até tudo ficar calmo. O corpo da vó de Kaled caiu no chão imóvel, e o silencio tomou conta do ambiente.
Kaled foi até o corpo da vó e caiu de joelhos. Virou o corpo e tentou fazer com que ela voltasse a respirar. Suas mãos manchando as roupas dela de vermelho pelas feridas abertas.
Iriam deixar cicatrizes feias, mas ele não ligava.
- Vamos lá, reage. Vovó...- ele continuava a fazer a massagem cardíaca, e desenhar símbolos de cura mesmo sendo inútil já que sua magia estava esgotada. – Não me deixe agora. Eu não posso ficar sozinho...
Sentiu as lagrimas saírem queimando pelo rosto, mas não parou de tentar.
- Por favor. Por favor. Por favor. – ele caiu sob o peito da senhora chorando. Seu corpo todo tremia e doía. O gosto de ferrugem e sal imundavam seus sentidos.
Eles estavam sozinhos afastados de todos.
E ninguém lembraria deles.
A voz do mercador do outro dia retumbou em sua mente. Os insultos, o desprezo...
- Kal...
Ele levantou a cabeça. A mão dela estava sob sua bochecha.
- Vovó. – falou chorando mais.
Ela estava com rosto mais cansado que o normal. Mas havia um leve brilho dos seus olhos.
- Kal...
- Não precisa falar nada, vovó. Vou tirar você daqui, e...
Ela balançou a cabeça e respirou com dificuldade. Os cabelos brancos estavam desegranhados e os dedos da mão esquerda todos retorcidos.
-Escute o que vou dizer, Kal... – Ele ficou calado e tentou acalmar seus sentidos. – Eles estão de volta.
Ele estava mais confuso.
- Quem está de volta?
Ela respirava com dificuldade, mas falava com calma.
- Os percursores do caos.

Filhos da Magia e CaosWhere stories live. Discover now