Da Cor do Vinho • taekook

Sol, algodão e café

Caríssimos,

Escrevo para todos os admiradores de romances, todos os amantes, os últimos apaixonados e aqueles que já tiveram o peito invadido pela chama calorosa desse sentimento que outrora batizaram de amor.

Este que vos fala, é nada mais que um observador da vida. Estou neste planeta desde que me lembro, não sei quando ou como apareci, mas o ser humano com sua mania de tudo nomear, chamou-me Tempo.

Muitos são os significados que atribuem à minha existência. Alguns me personificavam como Cronos, um titã, um deus, o "pai do tempo", o tempo cronológico, e Kairós, o "momento certo". Outros, apenas me viam como o passar dos dias, meses e anos, como as estações que os presenteavam com sua presença e suas mudanças.

Alguns dizem que sou o melhor remédio, outros se dizem meus inimigos, muitos gostam de ver as mudanças que trago, outros de dizer "dê tempo ao tempo". Certas pessoas agradecem minha passagem, outras choram por esse motivo. Algumas depositam suas esperanças em mim e dizem com fé que "dias melhores virão".

Certa vez, ouvi dizerem "Alguns infinitos são maiores que outros", se me lembro bem, fora um escritor, o meu tipo favorito de apaixonado. Particularmente, gostei disso, o ser humano que tudo controla encontrou algo que não pode tocar ou impedir, algo imprevisível.

Porém, apesar de tudo, sou um grande admirador de histórias. Gosto das que fazem rir, das que emocionam e nos causam medo e angústia, mas as melhores são os romances e é um caso desses que lhes contarei agora.

Foi uma apaixonante aventura que se iniciou no século XX, em 1925, onde a Coreia se encontrava em uma difícil situação. Suas terras estavam ocupadas pelo Japão desde a Primeira Guerra Sino-Japonesa, eram tempos sombrios que assolavam os cidadãos coreanos. Pouca opção restava, senão partir em busca de dias e vidas melhores.

Neste cenário, Sr. Kim avistou a luz que iluminaria seus caminhos obscuros. Soube de um país que estava a receber diversos imigrantes, que diziam ser a "terra das oportunidades". Não podia negar que era uma proposta atrativa. O que teria a perder pessoas que já não tinham nada? Junto de seu amigo de infância, Sr. Jeon, buscou novos caminhos. Venderam tudo o que possuíam e conseguiram o máximo de dinheiro de podiam, logo rumaram todos ao novo país, Brasil.

A família Kim vinha de origens humildes e bons valores, formada por um pai e uma mãe, um casal amoroso e feliz, acompanhados de um filho mais velho responsável e o caçula, Kim Taehyung, agora desfrutando de seus 16 anos e todos os sonhos e oportunidades que essa idade traz.

Já os Jeon, traziam consigo uma bagagem de uma família tradicional e respeitada, os casais tinham ideais que faziam o possível para transmitir para seu único filho, Jeon Jungkook, atualmente com seus 15 anos.

Apesar de se conhecerem há tempos, ambas famílias nunca haviam apresentado seus filhos uns aos outros. Portanto, o primeiro encontro de nossos personagens não poderia ser mais memorável.

Como bom poeta, Taehyung se lembraria eternamente do momento em que avistara os Jeon no lado oposto do navio, cercados de malas e acenando para que se juntassem a eles. O clima agradável, os raios de sol que aqueciam suavemente seus rostos, o cheiro do cais que os inebriava. Mas, entre todas as pessoas que ali estavam, as crianças que corriam de um lado pro outro fazendo amizade, as famílias que se despediam aos prantos dos que permaneceriam em sua terral natal, nenhum deles seria ou lhe causaria tal emoção como a que sentiu assim que seus olhos se chocaram com os de Jungkook. Naquele momento, sentiu todas as borboletas em seu estômago, por anos adormecidas, finalmente se agitarem incessantemente.

Não demorou para que os dois rapazes fizessem amizade. Com o passar dos dias, parecia que se conheciam há anos.

A personalidade agitada e radiante de Kim Taehyung completava e contrastava com a serena e pacífica de Jeon Jungkook. O mais novo passara horas ouvindo Kim tagarelar sobre o novo país, as portas que se abririam e o quanto estava empolgado para ver como tudo seria.