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Athanasia Alger de Obelia.

E seu eu lhe disse que estou a alguns minutos de subir no altar e mudar meus status civis, assim realizando um dos meus sonhos de infâncias, e que ao mesmo tempo estou sob um efeito bomba-relógio que irá explodir e fugir desse casamento a qualquer momento. Você acreditaria?

Eu quero me casar. Eu quero mesmo me casar. Mas não com Ijekiel. Não mais. Me dói muito admitir, pois ele foi uma das pessoas mais importantes com as quais eu já esbarrei na vida. E eu já fui apaixonada por ele. Já fui encantada por seus cabelos brancos, e olhos gentis que sempre me admiravam como se eu fosse a garota mais especial do mundo. Porém hoje, só vejo ele como um grande amigo que eu irei sempre comigo carregar no peito.

Faz semanas que eu não me sinto mais feliz com o meu noivado, só que eu tinha medo de desmanchar tudo e acabar magoando o coração do meu noivo - Ijekiel sempre foi apaixonado por mim, e nunca fez questão de esconder.

Outra coisa que também me afligia era a corte. Eles nem pressionavam para forma laços com os Alpheus, já que eles eram a segunda família mais importante do império. E um importante apoio na minha futura coroação como imperatriz.

Agora estou na pior situação possível, onde meu único desejo é fugir minutos antes de subir ao altar. O que não é justo com ele, e com todos aqueles que estão aqui prestando serviços ou que foram convidados.

Definitivamente, eu sou um fracasso.

Minhas lamúrias são interrompidas quando eu ouço o ranger daquela enorme porta ao ser aberta por meu pai, o grande Imperador de Obelia.

Tentei mostrar o meu melhor sorriso para ele, para que ele acreditasse que eu estava feliz e decidida a me casar, - mesmo com ele deixando claro que era contra o meu casamento desde o início. - Mas foi uma tentativa falha, pois ele percebeu que algo estava errado comigo assim que ele entrou. É um trabalho árduo tentar enganar alguém que te conhece tão bem.

- Caso não tenha certeza sobre o casamento, é melhor cancelar. Não quero que você faça escolhas das quais se arrependa depois. Você não merece viver em arrependimentos. - ele disse com o seu tom mais gentil possível. Porém, eu senti o baque da última frase dita por ele. Meu pai sabe bem o que é uma vida feita de arrependimentos.

- Não posso cancelar, pai. Todos os convidados já estão aqui. Já estão todos prontos, eu estou pronta-

- Não, você não está pronta e sabe disso. - ele me parou antes que eu usasse qualquer outra justificativa vaga.

Eu não consegui dizer mais nada depois disso. Eu apenas fiquei em silêncio e voltei a me encarar naquele enorme espelho em minha frente, o qual só mostrava o reflexo de uma noiva confusa e com maquiagem além da conta. Dei um longo suspiro e percebi meu pai se aproximando de mim pelo reflexo do espelho.

- Você não precisa fazer isso se você não quiser. Ninguém está te cobrando nada, filha. - sei que ele está tentando me reconfortar. Mas eu sinto pelo seu tom de voz que tudo que ele mais quer é que eu não me casa, assim não voando do seu ninho.

- Você sabe que eu quero isso. Desde que eu era pequena, eu sempre quis me casar com alguém que me ame assim como você amou a minha mãe.

- Mas você o ama?

Essa única frase foi o suficiente para fazer meu cérebro entrar em pane. Eu não sabia o que responder. Eu queria ama-lo, queria mesmo amá-lo. Queria amá-lo da mesma forma que eu sei que ele me ama. Mas eu não consigo.

- Querida. - essa foram as palavras proferidas por meu pai, antes dele passar os braços ao meu redor e me dar um abraço apertado. Aquele que ele sempre me dá quando eu tenho vontade de chorar. E eu não podia chorar, iria estragar a maquiagem.

- Não aceite menos do que você merece por causa dos outros filha. Você merece o mundo. Mas o mundo não merece você.

Minha mente foi limpa novamente. Agora, esta frase fica se repetindo inúmeras vezes. À medida que ela se repetia, tudo ficava mais claro para mim. Eu não posso me casar, por mais que eu me esforçasse para tal. Não hoje. Nem com ele. Por mais que me doa admitir, eu não posso casar com Ijekiel Alpheus pois eu não o amo. Nem sequer tenho coragem de dizer isso na cara dele.

Como eu havia dito antes, eu sou um fracasso. Que nunca tem coragem de enfrentar seus problemas. Ou de quebrar o coração tão puro de alguém como Ijekiel.

E por um momento eu me vi no reflexo do espelho. Mais uma vez aquela garotinha assustada estava ali, procurando conforto no colo do pai.

- Papai, eu não quero me casar. Não hoje. Não com- - eu não tive coragem de terminar. Mas meu pai entendeu muito bem o que eu queria dizer.

- O que eu vou fazer? Os convidados já estão aí! Tudo já está preparado! Mas eu não posso! - era inevitável, as lágrimas começavam a escorrer pela minha bochecha. A minha maquiagem deve estar um horror.

- Você é a princesa deles, é dever deles entender as suas decisões. - ele disse com aquele seu olhar que dizia que mataria qualquer um que ousasse me contrariar.

- Mas não vai ser justo pra ninguém daqueles aqui presentes e principalmente, não vai ser justo pra ele.

- Se o duque realmente gostar de você, ele iria te entender.

Realmente. Ijekiel provavelmente dirá que entende, e que está tudo bem entre eles. Mesmo ele sendo apaixonado por mim desde que eu me lembro.

- Eu não tenho coragem de fazer isso com ele.

- Você não precisa fazer. Pelo menos, não agora. - suas palavras despertaram curiosidade em mim.

- O que está dizendo?

- Eu posso lhe conseguir um tempo para que você se afaste de tudo e consiga pensar com clara para encerrar tudo. - disse ele fazendo meu coração palpitar de esperança.

Eu não podia ir lá agora e encerrar tudo. Eu não tenho um plano, não sei o que dizer e definitivamente não tenho saúde mental para tal. Mas se meu pai me desse só mais um pouquinho de tempo para eu me preparar e conseguir coragem, eu sei que consigo. Eu tive inúmeras oportunidades de dar um ponto final nas coisas. Porém resolvi deixar tudo para em cima da hora por causa do meu medo.

Sei que o maior desejo de meu pai é ir lá e dar um fim para tudo como o bom e velho Claude. Fazendo tudo do jeito mais simples e ameaçador. Só que no meu aniversário de dezoito anos, nós fizemos um acordo, onde eu resolvi os meus problemas do meu jeito. E agora, meu amado pai está me dando o tempo que eu tanto precisava. E eu sou grata por isso.

- Mas como você vai fazer isso pai?

Tenho a leve impressão de ter visto o meu pai bufar brevemente antes de responder.

- Está lembrada dos seus acordos comerciais com o reino de Sinnadônia? - diz ele com desdém.

Meus olhos se arregalaram por um instante. Estou mesmo ouvindo o meu pai dizer "Sinnadônia" em você alta? Ele sempre foi contra a minha ideia de estabelecer um acordo comercial lá. Ele nem consegue suportar ouvir falar sobre o reino, afinal fora lá onde minha mãe nasceu e escolheu morrer.

- Eles recentemente fizeram um pedido para enviar alguém da corte para que o acordo fosse reformulado. - digo.

- Aqueles bastardos. - meu pai me interrompe e eu volto a dizer.

- Tentei enviar o Marquês para fechar o novo acordo com eles. - eu começo a brincar com o tecido do meu vestido - Mas ele me disse que não poderia, já que sua esposa estava prestes a dar a luz.

- Outro bastardo. - Ignoro o que ele acabou de falar e vou logo ao ponto.

- Mas o que comércio com Sinnadonia tem haver?

- É a desculpa perfeita para a princesa de obelia não se casar hoje. - meu olhos se iluminaram com a sua ideia. - Imagine. Você precisou fechar um importante acordo comercial de extrema urgência, num país bem distante do seu noivo.

Meu pai é um gênio. Ou só está desesperado para que eu não me case mesmo. Todavia, parece que eu vou fazer uma viagem de última hora pro outro lado do continente e umas férias para conseguir reunir coragem para partir um pobre coração.

[Nota:]
Capítulo não revisado.

especiarias do amor ‹3 lucathyWhere stories live. Discover now