Em vez de morrer disso, você parece prosperar na curiosidade, gatinho

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Que estranho, Harry pensa, que ele conheça esse homem intimamente, que o sabor de seus beijos esteja gravado em suas veias, que ele se lembre da cicatriz em forma de língua de serpente no abdômen do homem, assim como ele também lembra sua textura. Ele memorizou o toque de seus dedos em sua própria pele, e ele pode recordar o profundo estrondo de sua voz tão facilmente como se ecoasse nele continuamente, um som sem fim impresso em seu batimento cardíaco – e, no entanto, ele não sabe em que Snape dorme.

A única vez que Harry viu Snape dormir, ele estava vestindo suas calças pretas e sua camisa branca, partes de seu guarda-roupa com as quais Harry, mais uma vez, está bastante familiarizado, e agora, sentado em sua cama, ele se pergunta se vai para vê-los novamente.

Ele entenderia, é claro, se esse fosse o caso. A razão por trás disso é bastante simples. Não conforto, ou mesmo simplicidade, mas distância. Naquela noite, semanas atrás, quando Snape adormeceu ao lado dele foi um acidente, nada mais. Trocar de roupa de dormir, de qualquer outra coisa, teria sugerido um propósito, uma decisão racional.

Esta noite é diferente, deveria ser diferente pelo menos. O próprio Harry vestiu uma camisa e sua cueca de costume, e agora está sentado na beirada da cama, os pés descalços se esfregando ansiosamente. Parte dele quer ficar debaixo das cobertas e fingir estar dormindo quando Snape voltar do banho, a outra parte... a outra parte pensa que Snape está demorando tanto porque ele mesmo espera o mesmo.

Harry ouve a porta do banheiro abrir e fechar. Os passos no corredor são leves, mas audíveis. Snape caminha para seu próprio quarto e por um momento, apenas um longo e terrível segundo, Harry pensa que não virá. Snape acredita que ele já está dormindo e não quer perturbá-lo, ou nunca teve a intenção de vir aqui em primeiro lugar.

Seu batimento cardíaco acelera e ele quase se levanta, mas então os passos soam de novo, chegando cada vez mais perto.

Harry deixou a porta aberta e agora a figura esguia e escura entra não mais que uma sombra.

O fogo arde baixo e sua luz não é suficiente para trazer brilho a toda a sala. Snape muda, move-se de um ponto de escuridão para outro como um Lethifold, existindo apenas em espaços sem luz. Seus passos são silenciosos, pés descalços no chão de madeira mal fazem barulho.

Harry o observa, os olhos fixos na sombra flutuante até que ele fica na frente dele.

A visão é surpreendente. É simples. Snape usa uma calça de pijama velha, cinza carvão e uma camiseta branca, impecável, sem rugas, mas claramente não usada pela primeira vez. Dedos nodosos descem em ordem ordenada, pés brancos pálidos e veias salientes, lá embaixo também, é claro. Seus braços longos parecem estranhamente indecentes, como se mangas arregaçadas e camisetas fossem uma grande diferença. No entanto, eles são. É muito diferente de alguma forma, mas Harry não pode dizer exatamente por quê.

Harry viu Snape mais nu, mas nunca tão nu.

Dedos tensos em torno de uma varinha preta como se Snape sentisse o olhar investigativo deslizar para cima e para baixo em seu corpo, observando cada centímetro não visto anteriormente, e se familiarizando com tudo o que já é familiar.

“Eu preferiria ficar mais perto da porta,” ele diz suavemente e Harry estremece. As palavras quebram a qualidade onírica do momento e de repente ele percebe que isso é real, acontecendo agora e não apenas um devaneio, uma alucinação.

We'll be Dead in a Year Anyway [ TRADUÇÃO ]Where stories live. Discover now