Capítulo 43 - Abalo

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Tudo pareceu ter dado errado depois daquele dia, quando tudo acabou Helena acordou como se voltasse de um mergulho e agora pudesse respirar, estava no chão da sala de artes, papéis estavam espalhados por todo lado, como se um furacão tivesse passado pela sala.

Em pânico correu até Dan, ele ainda estava de joelhos, agora com os olhos fechados e muito sangue empapando sua camisa.

"Dan, Dan, por favor, Danilo acorda. Olha pra mim!"

Helena chamava, lágrimas já correndo pelos seus olhos.

"Dan por favor..."

Ele abriu os olhos fracamente.

"Lena..."

Ela abraçou Dan.

"Meus Deus Dan, o que você fez? Pensei que tivesse te perdido."

"Eu... Lena... você é real? Eu não... não... morri?"

"Não, eu tô aqui com você, Dan você vai ficar bem."

"Lena..."

Ele respirava fracamente, o sangue ainda escorria do seu pescoço.

"Droga Dan, tenho que achar alguma coisa pra fechar..."

"Aqui."

Disse com a voz rouca e dentro do bolso tirou um rolo de atadura. Helena pegou e enrolou em seu pescoço o melhor e mais delicadamente possível.

***

Saíram da escola, depois de Helena conseguir organizar um pouco a sala de artes, Dan pegou uma outra blusa com capuz que tinha trazido e colocou para não verem o sangue nas suas roupas, nem seu pescoço enfaixado, enquanto ele colocava, Helena viu a borda de suas mangas e debaixo delas, tinham mais faixas, tinha de falar com Dan sobre aquilo e sobre ele ter mentido dizendo que estava bem.

Conforme caminhavam para voltar, assim que Dan estava melhor e disse que todas as vozes e sussurros tinham sumido de sua mente e que pela primeira vez em dias poderia pensar sozinho novamente, Helena deixou o pânico de não ter visto mais David a dominar.

Ela o chamou em voz baixa e em pensamentos, não sentia mais a ligação como antes, sentia-se desconectada dele, e isso a estava atormentando.

"Você sabe... sabe se deu certo, ele... conseguiu voltar?"

Helena o olhou e seus olhos tinham lágrimas.

"Depois que ele me salvou. Não consegui mais vê-lo, não sinto mais ele, é como, como se ele nunca tivesse existido. Ele devia ter me escutado, não devia ter vindo, tinha que ter ficado longe."

Dan tinha um olhar duro.

"Talvez seja melhor assim."

Helena parou no meio da rua o encarando transtornada, estavam quase chegando perto da sua casa.

"Como pode dizer isso?"

"Talvez o motivo dele vir, o motivo de toda essa merda acontecer, seja somente pra você tirar mais um assassino desse mundo, talvez o destino dele fosse levar esse monstro de volta para o inferno."

Dan gritou as palavras rápido demais, lágrimas escorriam pela face de Helena, ela estava incrédula por seu amigo ser tão insensível.

"Como pode dizer isso Dan..."

"Talvez fosse melhor assim, de qualquer forma, não deveria existir segundas chances, não deveria ser assim, não está certo, Helena, por favor, eu..."

Dan a puxou segurando seu rosto com as duas mãos e a beijou de forma desajeitada.

Ele se afastou, seu rosto mudando completamente a expressão, não estava mais bravo, com raiva, estava triste e esperançoso ao mesmo tempo.

"Helena, Helena eu te amo."

E mais uma vez, agora de forma gentil e terna, ele a beijou.

***

Se sentia tão idiota, como ele pode fazer isso. Agora com a cabeça debaixo da água quente do chuveiro, Dan podia pensar melhor em todas as decisões idiotas que tomou em sua vida, e agora, pensava nas mais recentes.

Quando chegou, deu sorte de seus pais não estarem em casa, assim podia correr para o banheiro e ver o estrago em seu pescoço, milagrosamente, não era um corte profundo nem grande, assim se perguntassem, ele poderia dizer que um espinho ou galho qualquer raspou em seu pescoço.

Tirou a camiseta e jogou num saco, e jogou o saco no meio do lixo, isso ia dar muito trabalho para lavar, já a blusa respingada de sangue, essa ele teria de tirar a mancha.

"Droga, droga, droga, merda, o que foi que eu fiz?"

Ele xingava enquanto esfregava a blusa, quando terminou, tirou o restante da roupa e se jogou debaixo do chuveiro, por sorte, naquela semana tinha abastecido seu estoque de ataduras, esparadrapos e pomadas, assim deixou as ataduras dos braços molharem para não arder os cortes sendo atingidos pela água diretamente.

Também tinha recolocado a do pescoço, somente para não escorrer muito sangue com a água, assim que terminasse de se lavar, faria todos os curativos novamente.

Agora mais calmo, encostou a testa no azulejo frio enquanto a água quente ainda caia, e assim refez toda a cena na sua cabeça do momento em que beijou Helena.

"Helena, Helena eu te amo."

Ele a beijou segurando com as duas mãos o seu rosto, a beijou com tanto sentimento, com todo o sentimento reprimido por anos, finalmente ele os pode libertar.

Naquele momento maravilhoso, sentiu a pele quente, seus lábios macios e as lágrimas salgadas que ainda escorriam pelo rosto dela, e naquele momento, tudo estava perfeito, tudo pareceu sumir, toda a dor dos cortes, daquela semana, tudo sumiu naquele pequeno momento perfeito em meio a garoa fina.

Ele se afastou devagar, não queria fazê-lo, mas tinha de dar espaço para Helena responder, ela segurou em suas mãos que ainda estavam no pescoço dela, ainda com os olhos fechados, o som pareceu sair como um sussurro.

"Dan eu não te amo."

Agora com olhos abertos e o encarando, ela puxou as mãos de Dan para baixo, longe dela. Sua expressão era neutra.

"Eu te amo, Dan, mas não dessa forma, não do jeito que você quer... eu sinto muito..."

"Mas Helena..."

"Não posso... me desculpa."

E ela se foi, o deixando ali sozinho na chuva, fazendo com que o momento mais perfeito da vida de Dan, se transformasse em um dos piores.

Pelo seu Coração + AudiolivroWhere stories live. Discover now