Fundo

437 43 0
                                    

- Kisaki Tetta... não conheço pelo nome. – Cocei o queixo.

- Que bom – A garota respondeu. – Ele é um cara perigoso. Entrou recentemente pra Valhalla e já assumiu a liderança, mandando em todos inclusive no Hanma, que é um louco completo.

Nessa hora, a imagem de Hanma naquela noite no estacionamento veio à minha cabeça e eu senti um arrepio.

- Há uma semana mais ou menos encontrei ele andando perto da minha rua, com mais dois integrantes da Valhalla. Ele me cumprimentou, perguntou como eu estava. Para ele, nunca deixamos de ser amigos. Quando estava me afastando, pude ouvi-lo dizer aos outros dois que desta vez eles iriam afundar a Toman.

- Afundar a Toman? O que isso quer dizer? – Perguntei ainda mais confusa.

- Eu não sei, mas Kisaki sempre gostou de coisas grandes, teatrais. Tenho certeza que foi ele que tentou articular aquela fusão com a Gyaru. – Respondeu a menina.

Lembrei de Koji. De certa forma, a lembrança do garoto havia sumido da minha cabeça nos últimos dias, quase como um estresse pós-traumático. Lembrei da primeira vez que o vi em Tóquio, no porto... afundar...porto...será?

- Hinata! Acho que tenho uma ideia de onde eles podem estar. – Falei alto, sobressaltando a menina.

- Onde? – Seus olhos brilharam.

- No porto, nas docas. Preciso ir até lá. – Falei atropeladamente.

- Faz sentido... Meu Deus! Afundar! Eles... não! – A menina tapou a boca com a mão.

- Preciso chegar lá rápido. – Me virei já me encaminhando para a porta.

- Eu vou ficar aqui caso alguém apareça. Tem uma moto sobrando aí na frente, você sabe pilotar? – Perguntou.

- Eu dou um jeito. Cadê a chave? – Senti uma onda de adrenalina intensa me invadir.

Peguei a chave e manobrei a moto que mesmo que pequena, parecia enorme para mim. Em Osaka, eu já tinha pilotado uma moto por duas vezes, uma vez com uma amiga por alguns metros apenas e outra com Koji, por alguns quarteirões até que quase bati em um caminhão de entulho. Como carona, tinha muita experiência. Tinha que valer de alguma coisa.

Ajeitei a moto e puxei o celular para olhar o mapa. O caminho não era longo, mas também não era fácil. Tentei memorizar o máximo possível do trajeto, subi na moto e dei partida, sentindo o veículo vibrar sob mim. Prendi os cabelos em um rabo de cavalo alto e acelerei.

A saída foi bastante desastrada e eu tive dificuldade de controlar o guidão nos primeiros metros, serpenteando a rua em um movimento de zigue-zague até que consegui me estabilizar. Mesmo em baixa velocidade, meu coração estava a ponto de sair pela garganta.

Ganhei um pouco de confiança para acelerar um pouco mais, encontrando o meu primeiro cruzamento logo a seguir. Freei sem suavidade nenhuma, quase cantando pneu. O motorista do carro ao meu lado olhou assustado.

Demorei algum tempo para me acostumar com os comandos e após alguns minutos ficou mais fácil. Ainda assim, segurava tão forte no guidão que minhas mãos doíam. Minha cabeça estava dividida entre não me matar em cima daquela moto e os pensamentos horríveis do que poderia estar acontecendo com Baji e os outros garotos da Toman.

Encostei a moto em posto de gasolina para checar mais uma vez o mapa. Estava perto. Acelerei a moto mais uma vez, sentindo a brisa fresca do mar invadir minhas narinas. Poderia ser uma boa lembrança, mas infelizmente não era.

Parei a moto do lado de fora da entrada do porto e entrei andando, não queria chamar atenção. A iluminação era ruim, apenas alguns postes espaçados e holofotes iluminavam o maquinário parado e os contêineres empilhados. Barcos dividiam espaço na marina como fantasmas gigantes.

Eu não sabia para onde andar e decidi apostar na doca para qual Koji havia me atraído na primeira vez. Era um tiro no escuro, literalmente. Caminhei pelas sombras, evitando fazer barulho e alguns metros antes do local do encontro avistei algumas motos paradas. Estava na pista certa.

Andei mais alguns metros, me esgueirando pela parede da doca. Estiquei o corpo para tentar ter uma visão de seu interior, mas não havia ninguém. De repente ouvi vozes. Rapidamente corri para trás de um contêiner grande à minha direita.

- Você é impaciente. – Uma voz masculina irritada falou.

- Qual é? Já temos todos eles aqui! – Reconheci a voz. Era Hanma.

- Quase todos. – Respondeu a outra voz.

- Temos o líder! Vamos acabar logo com isso. – Falou Hanma, sua voz emanava loucura.

- Eu quero ele. – O outro falou entre os dentes, encerrando a conversa.

Tremi com aquela afirmação. De quem estaria falando? Onde estariam todos? Onde estava Keisuke?

Nesse instante uma mão fechou a minha boca fortemente, enquanto outra agarrou meu corpo em um movimento só, me puxando para trás. Não consegui reagir e não consegui ver quem era no escuro e naquela hora tive a certeza que iria morrer ali naquela hora.

- O que está fazendo aqui? É louca? – Reconheci a voz e reconheci o cheiro de Keisuke Baji.

Ele ainda não tinha tirado a mão da minha boca, então tudo que fiz foi olhar para ele com lágrimas nos olhos. Era um alívio enorme ver que ele estava vivo e inteiro.

O garoto soltou lentamente as mãos, mantendo os olhos fixos nos meus. Pude ver que ele estava completamente desesperado.

- Ay, vai embora. Agora. Não posso arriscar a sua vida. Você... eu... – Ele parecia confuso, passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os.

- Eu vim ajudar, não vou à lugar nenhum. – Respondi decidida.

Ele me olhou novamente com um olhar perdido e então puxou meu rosto com as duas mãos selando nossos lábios em um beijo demorado.

- Já tem alguma ideia de onde eles estão? – Perguntei, ao separar nossos lábios.

-Tenho. Eles estão dentro daquele contêiner ali. Kisaki planeja jogá-los no mar. 

Cabelos Negros - Keisuke Baji x ReaderWhere stories live. Discover now