Ele Sabe

40 1 4
                                    


Eu estava com os olhos vidrados na televisão, deitada na cama com o controle remoto na mão, passava de um canal para outro sem me distrair com nada. Esperava o Shikamaru chegar e quando escutei o barulho da porta da frente, me levantei rápido e fui encontrá-lo na sala.

— Shika! Onde você estava, baby? — Ele estava sério, deu passos pesados e me beijou rapidamente.

— Oi, delícia.

Ele disse "Delícia"? De novo? E porque eu tinha a sensação de ouvir a palavra pronunciada com um certo desprezo. Que história é essa agora, nunca me chamou de delícia, justo de delícia!

— Eu... fiquei preocupada.

— Por quê? — Simplesmente me deixou onde estava, foi pelo corredor adentro e entrou no banheiro, eu fui atrás, lógico, ele estava lavando as mãos e me olhou pelo reflexo do espelho.

— Porque você demorou e nunca chega a essa hora. Eu te liguei, você viu?

— Vi — disse, se virando pra mim. Me tirou do caminho empurrando meu ombro e caminhou para a cozinha. Novamente eu fui atrás.

— E então? Não vai me dizer nada? — Caralho, chega tarde com essa cara esquisita e não vai falar nada! Ah, Shikamaru, vai se explicar!

— Não, Sakura, eu estava trabalhando, fui a uma reunião e é isso. — Vi que ele bebeu um copo de água e, sem muito me olhar, foi para o quarto.

Entrei atrás dele, que sentado na cama tirou os sapatos e foi se despindo, parecia que não estava querendo conversa comigo, que merda será que eu fiz?

— Shika, tem alguma coisa errada? — Tive que perguntar, já que o cara resolveu bancar o túmulo.

— Tem. — Eu não imaginei que essa seria a resposta, na realidade achei que ele diria que não. — Tem uma porção de coisas erradas, Sakura. — Olha, eu não sei o que ele tem, mas sei que sua cara estava péssima.

— Bom, e o que é? Eu quero te ajudar.

— Quer mesmo, Sakura? — Ele me olhou e perguntou de um jeito completamente sarcástico, seu rosto era de raiva e aborrecimento. Fiquei quieta, fazer o quê? Depois dessa! — Você podia mesmo me ajudar, sabia? Podia me poupar um monte de contrariedade, podia sim.

Shikamaru levantou e veio para o meu lado com uma cara que eu não me lembro de já ter visto ele fazer, se ele fez, foram poucas vezes. Eu vou te contar uma coisa: o Shikamaru é um dos caras mais calmos e tranquilos que eu já conheci, ele costuma ter preguiça até de se zangar, quando acha que vai ficar nervoso, sempre tenta evitar da maneira que pode, foge ou sei lá que estratégia ele usa pra não se estressar, eu sei que poucas vezes vi ele bravo. Mas ele não estava bravo, só bravo, ele estava com uma cara de quem estava remoendo alguma coisa que estava deixando ele muito possesso. Parecia que estava com alguma coisa ruim dentro dele que estava querendo sair e que quando colocasse pra fora, seria uma explosão catastrófica. Seus olhos tinham um brilho de fogo, juro! De verdade, era assustador.

Dei um passo atrás e ele ficou bem perto de mim, me olhando como se eu fosse a causadora de todo aquele ódio que ele parecia sentir.

— Shikamaru, pelo amor de Deus, o que aconteceu?

— Ah, Sakura, eu estou com tanta vontade de...

Ele parou? Como pode isso, eu não estava entendendo nada. Respirou profundamente e abaixou a cabeça, eu vi que ele estava de olhos fechados e cerrou os punhos. Olhou de novo para mim e balançou a cabeça, eu não sabia se deveria dizer mais alguma coisa, ele parecia se controlando para não falar e para não fazer alguma coisa.

UnfaithfulWhere stories live. Discover now