Tiro na escuridão

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— Zishu... Não faça isso.

— Sinto muito, Amy, mas dessa vez não posso perdê-lo de novo, eu não suporto mais, eu preciso ao menos vê-lo envelhecer, ter uma vida, entende?

— Uma vida com você, eu sei, mas... Nunca conseguimos enganar a morte, você sabe.

— Nergal fez, não tenho o mesmo conhecimento científico, mas tenho um plano que sei que dará certo, tive séculos para aprimorá-lo, irei conseguir.

— Então... Só posso desejar que consiga, meu irmão - E Amy veio para ele e lhe abraçou de maneira maternal - Se precisar de mim, sabe que pode me chamar a qualquer momento.

— Eu sei e agradeço. Darei notícias em breve, prometo.

Zishu deu dois passos para longe dela e saltou do iate caindo nas profundezas do oceano noturno e volátil.

Amy suspirou e deu o sinal para o capitão voltar para a praia.

Zishu merecia ser feliz com seu amado, ao menos uma vez, pelo menos uma única vez... Seu irmão era por fim um homem bom e digno.

E leal.

Ele mais do que ninguém merecia perseverar sobre o destino.



Kexing recebeu aquele tiro mesmo antes de saber quem atirou ou o porquê aquela pessoa fez. O tiro em seu peito repercutiu em seus ouvidos enquanto caia no oceano bravio e escuro. O navio de pesquisa seguiu seu curso e ele sabia disso porque os motores aceleraram, mas ele ficou para trás, afundando e afundando, sangrando e sangrando, sem entender nada daquilo e aos poucos seus olhos foram pesando, embaçando, até que tudo ficou branco.

A última coisa em que pensou foi em seus tubos de ensaio deixados em sua bancada com a quase possibilidade de ter achado a cura para o vírus mortal em que trabalhava nos últimos anos.

Tudo foi em vão.

Todo o seu árduo trabalho foi por nada.



A primeira coisa que soube é que não tinha morrido e isso por um motivo bem óbvio: Seu corpo doía e sua cabeça latejava. Abriu primeiro um olho e depois o outro se vendo sobre uma cama luxuosa, macia e gótica e como ele sabia que era gótica? Porque em seus momentos de lazer pessoais e protegidos de olhos alheios, ele adorava ver aquele tipo de decoração e sonhar com um dia ter uma casa só sua onde pudesse decorar daquela maneira. Não sabia o motivo de gostar de coisas como aquilo, mas gostava, desde criança. E era um pouco desconexo ter aqueles desejos sendo um cientista virologista que mais vivia em laboratórios do que em casas, para começar. E ainda assim ele gostava, ouvia músicas daquele estilo, principalmente e adorava filmes de terror e gore. Sua banda preferida há alguns anos era a queridinha de adolescentes chamados de problemáticos e melancólicos com um vocalista que apesar de lindo e exímio cantor, tinha realmente um ar feroz agressivo melancólico depressivo que embora fosse mórbido, era encantador. As músicas dele tocavam em sua alma e não era o único que sentia aquilo.

Quase todos os milhões de fãs pensavam o mesmo.

Enfim, ele reconhecia o estilo gótico e como isso não condizia em absoluto com hospitais, claramente não estava em um, embora estivesse enfaixado e medicado, se suas respostas fisiológicas pós tiro fossem indícios. Se levantou com certa dificuldade e percebeu que usava a parte de baixo de um pijama negro de seda e nada em cima, apenas curativos e faixas lhe fazendo pensar que uma múmia teria menos ataduras. Fosse quem fosse seu 'salvador', este não parecia habilidoso com curativos.

Roubados por vampirosWhere stories live. Discover now