Encontros insanos

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Zishu relutou até o último minuto, mas sabia que a esse ponto das coisas sua única alternativa seria um 'reset'. Não controlou suas próprias emoções e desejos, despejando tudo sobre ele e se esquecendo que sua alma gêmea precisava de tempo e paciência para absorver tantas informações.

Ele não tinha outro caminho a essa altura porque se Kexing explodisse... Colocaria tudo a perder...

— Tem, certeza que deseja fazer isso, mestre?

Yunlan era seu agente há muitos anos agora e fiel a ele mais do que seria racional para um humano, acontece que seu relacionamento com ele foi forjado por um vínculo extremamente poderoso, o marido dele: professor Shen Wei. Yunlan foi contratado para ser seu manager e assistente depois de uma longa procura e seleção, e ele e seu marido ficaram inclusive muito felizes de se mudarem para sua mansão naquelas montanhas na época e tudo parecia ir bem até que Wei começou a passar mal e quando foram para um hospital descobriram que ele tinha um câncer terminal e estava em estágio bem avançado.

O mundo do seu agente ruiu e Zishu ponderou muito sobre oferecer a ele uma alterativa arriscada e fadada ao fracasso: Transformação. Era um procedimento extremamente doloroso, perigoso e com chances mínimas de sucesso. Uma roleta russa mortal, porém, Zishu já tinha desenvolvido carinho pelo humano que agora cuidava de toda a sua carreira e da banda, ele não podia fingir que não tinha uma saída para o casal em desespero.

E o casal arriscou, arriscou tudo colocando a felicidade deles em suas mãos e Zishu... Sentiu a responsabilidade desse peso e fez o seu melhor para salvar a vida de Shen Wei e por uma longa noite e dia que duraram séculos ele tentou, esperou e por fim... A alma gêmea de Yunlan sobreviveu ao processo, abrindo os olhos agora tingidos de vermelho sangue e vida eterna.

Desde então Yunlan se tornou mais que seu agente, ele se tornou seu amigo e seu conselheiro. Um humano que confiava mais do que tudo...

Zishu suspirou e assentiu enquanto erguia o telefone do seu escritório. Fora de lá, nos jardins da mansão, seu humano caminhava lento e disperso, lotado de tensão por todos os poros, e dor... uma dor que o dilacerava também.

Precisava corrigir seus erros o mais rápido possível, muito, muito rápido...

Discou o número de Daniel, um dos trinta e seis vampiros originais que caminhavam nessa terra indefinitivamente e o único deles que podia apagar a memória de um humano, manipulá-la, redefini-la.

Ele atendeu no terceiro toque:

— Zishu?

Ele falou um pouco surpreso e Zishu sorriu pequeno entendendo completamente o comportamento de Daniel. Ele não era muito de estar constantemente próximo dos outros embora Tine, o consorte de Sarawat, se unisse com Indy para fazer com que houvesse mais encontros entre eles durante o ano. Achava gracioso o esforço que ambos colocavam nisso, agora também empregado pelo consorte de Daniel, Michael. Ainda assim não era muito inclinado a convívio em grupo e ainda assim, apesar disso, tinha um bom relacionamento com todos:

— Sim, Daniel, sou eu. Preciso da sua ajuda – Zishu deu uma pausa e olhou para além da janela do seu escritório onde Kexing já tinha desaparecido. Suspirou – Eu encontrei minha alma gêmea e consegui roubá-lo da morte dessa vez, porém eu fui brusco demais e não controlei meus instintos, praticamente despejei nele todo o nosso passado e alguns detalhes que aos olhos dele devem ter sido horríveis. Ele também viu o corpo no quarto templo e bem, eu disse a ele quem era. Só deixei de fora que sou um vampiro, mas isso a essa altura é o menor dos problemas... De todo modo preciso que venha até os Cárpatos e apague tudo isso da mente dele. Sei que isso vai incomodá-lo com o Michael, mas eu não pediria a você se não fosse realmente necessário.

Roubados por vampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora