Alma pura

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Jessi sentiu sua cabeça pesar mesmo antes de abrir os olhos, sentiu a pele quente... Um agradável calor vindo de fora e uma respiração ofegante próxima.

Então se deu conta sobre o calor e abriu os olhos abrupta se sentando na cama e o que viu... Lhe fez estreitar os olhos e encarar feroz o homem ao canto do motel que agora estava com a janela um pouco aberta e as cortinas vagabundas bem abertas! A vista era um céu azul e estrada de asfalto sem fim, mas... A vista do lado de dentro não era em nada agradável.

Jessi se acostumou a sua aparência sob o sol, mas jamais deixou um humano vê-la. Nem mesmo os consortes dos seus irmãos a viu, nem mesmo a Indy que era a pessoa humana mais próxima de si. Não, não se deixava ver jamais, porque sabia que sua real imagem era assustadora e, contudo... Lá estava aquele homem a encarando com espanto e surpresa e ainda assim...

Sem um pingo de medo.

Ele era um consorte, o que acrescentava ainda mais incredulidade ao que já tinha visto através do sangue dele, coisas que tinha certeza, ele não fazia ideia. Nenhuma mesmo...

— V-você está bem?

Jessi queria rosnar que estaria melhor sem a luz do sol na sua cara, mas apenas o olhou fixo e apontou a janela:

— Feche, agora!

Ele não titubeou, correu para a única janela do quarto e a fechou rápido, cerrando as cortinas e se voltando para ela que claro, já estava em sua aparência humana sexy outra vez.

Ele piscou várias vezes obviamente confuso, mas teve coragem para perguntar mesmo assim:

— Quando me mordeu eu fiquei confuso sobre o que você era, porque era louco demais para acreditar, mas quando abri a janela para ver se o ar fresco lhe ajudava a despertar percebi que até mesmo o que eu achava estranho podia se tornar mais estranho, me desculpe por isso, por invadir sua privacidade...

Jessi acabou rindo baixinho deixando a chateação e raiva passar como se realmente as palavras dele fossem fofas ao invés de estúpidas. Nunca pensou que iria encontrar um tipo como aquele, um homem como aquele e se não tivesse visto o que viu, ainda iria achar que ele estava se fazendo de tolo. Mas não, não era o caso.

Se ergueu da cama e suspirou. Tinha que tomar uma decisão... Na verdade a decisão foi tomada segundos antes de desmaiar e realmente aquele fato, ter desmaiado, era o mais estranho de tudo aquilo em sua opinião. A verdade era que precisava de ajuda ali, precisava de respostas também, mas algumas coisas já sabia e devia dizer a ele:

— Bem, vou ser direta e prática com você, e resumir também porque agora você já viu as duas coisas que para os da minha espécie não deveria ser visto a olho nu ou de conhecimento: Eu sou uma vampira e uma vampira real, não a da mitologia e fantasia televisiva ok? Como viu eu não viro pó ao sol, a luz do sol apenas mostra minha real aparência e eu nasci assim, com esse aspecto assustador, feroz e animalizado. Eu nasci... De uma mulher, não fui transformada como também ressoa pela mitologia humana, eu nasci como os humanos nascem, e não sou a única. Sobre você... Eu tenho absoluta certeza que não sabe só de olhar para os seus olhos, mas vou te dizer o que descobri através do seu sangue...

— Espera, então você realmente pode saber coisas de mim bebendo meu sangue? Eu não entendi direito quando você disse que ia investigar, mas depois que desmaiou eu tive tempo para pensar e a conclusão era essa, mas ainda assim...

Jessi se sentou na beira da cama, cruzou as pernas e o olhou mais seriamente.

— Resumindo é o seguinte: Dizem que os olhos são a janela da alma, certo? Isso é verdade e o sangue é a memória da alma, ele é bombeado pelo coração se reciclando e voltando, sendo limpo pelo organismo e depois correndo pelas veias de novo e de novo, percorrendo o corpo inteiro inclusive o cérebro e com isso ele carrega nutrientes e memórias, memórias do corpo, do inconsciente, memórias de coisas que sua mente consciente pode até mesmo desconhecer. Um vampiro se alimenta de sangue e junto dele se alimenta das memórias inconscientes e desconhecidas da sua mente ativa, desse conhecimento adquirido e desse processo sanguíneo. Geralmente podemos apenas ignorar esses dados, como se descascasse uma banana sem importância, só comendo o que está dentro, porém se quiser reter informações, é como pegar a casca e olhá-la com atenção. Verá informações que sabe de si mesmo e outras que apenas seu corpo viveu e você não se recorda, como gravuras em paredes antigas com uma língua que não é mais capaz de decodificar. Para sua sorte eu sou uma das melhores nesse processo, meus irmãos não têm muita paciência para essa pesquisa, mas eu tenho, me distrai e diverte em geral, acontece... Que seu caso é um caso bem esquisito, para dizer um mínimo.

Roubados por vampirosWhere stories live. Discover now