Ele bateu à porta.
— Oi!
— Olá.
Ela estava sentada em uma cadeira de madeira escura e velha ao meio da casa, de apenas um cômodo, grande e amplo.
Ele adentrou o ambiente, fechou a porta atrás de suas costas e observou a atmosfera. As paredes cor de mogno contrastavam de um modo esquisitamente cabal com o piso claro. Embora fosse uma casa bonita e bem construída por fora, não possuía móveis luxuosos ou decoração condecorada em seu interior.
— Está frio aqui, não? – perguntou ele, esfregando as mãos nos braços.
— Não percebi.
— Nossa, está realmente muito frio.
A expressão dela não se alterou por nenhum segundo sequer.
Olhando novamente, ele estranhou o teto cheio de buracos.
— Não molha quando chove?
— Molha – ela respondeu, se levantando da cadeira onde estava. — Mas não é tão ruim quanto parece.
— Não é tão ruim quanto parece? – se assustou, ele.
— Não. Só há inundações no inverno, normalmente no verão não se vê goteiras.
— Mas não estamos mais no verão, logo começará a chuva.
— Eu sei – disse ela, movendo-se até uma das paredes e abrindo a única janela que havia no cômodo. — Mas chuva é bom. Refresca e limpa.
Ele juntou as sobrancelhas, confuso.
Como poderia ela, se contentar com tão pouco?
Ele caminhou até a janela na qual ela, debruçada no parapeito, via-se perdida em nuvens de devaneios. Ao longe seus olhos vislumbravam as casas vizinhas – todas sem nenhum morador assumido, mas prontas para recebé-la.
Afinal, era dela que estávamos falando.
— Vê tantas outras moradias e possibilidades? Todas boas, uh?
— Não me parecem interessantes.
— Não te parecem interessantes? Claramente a estrutura interior delas são mais adequadas para você morar – disse ele, apontando para a janela das casas, que denotavam de uma decoração perfeitamente coesa. —, não só exteriormente como aqui.
— Mas eu gosto daqui! – teimou ela.
— Como pode gostar de algo que não te oferece o que você realmente precisa? Olhe! Aqui não tem nem banheiro!
— Posso usar um balde.
— E para cozinhar?
— Sempre tem alguma sobra.
— Tomar banho?
— Estou sempre limpa, não a necessidade!
— Tudo bem, mas não há Internet aqui. Como você se comunica com as pessoas?
— Não preciso me comunicar com ninguém! Apenas um já me basta e não conversamos por meios eletrônicos.
Ele estava perplexo.
— Porque insisti tanto em continuar nesta moradia, se há goteiras, infiltrações, não lhe abastece e claramente não a está fazendo feliz!?
Ela hesitou por um momento.
— Porque aqui é casa.