Algum dia, dois corações bateram em extasiada sincroniza.
Os mesmos que hoje se evitam, já se esconderam debaixo de pétalas coloridas, sensíveis e secretamente doces.
O da direita era demasiado cruel, tíbio e inexpressivo, condecorado com o dom da ausência e a escassez soluçante do mínimo. Já o da esquerda era incrivelmente afável, e amava a todos que lhe ofereciam... bem, a escassez soluçante do mínimo.
— condescendente, dizia à todos que questionavam.
Certa manhã, ambos os corações, que se davam tão bem a maior parte do tempo, se viram dispostos a não dispor de nada menos que batidas fracas e cansadas.
A cavidade oca já não parecia ter encaixe, e um passou a não se contentar mais com o mínimo que lhe era proporcionado. Queria mais, queria os carinhos que nunca recebia, as palavras de afeto que nunca eram ditas... queria tudo.
Entretanto, o padrão da normalidade insuficiente e minguada do outro, não poderia ser acrescido, mesmo que quisesse, mesmo que tentasse... não conseguia demonstrar mais do que já (não) demonstrava.
Brigaram naquela manhã. Brigaram como nunca antes. Um fuzilou o outro com palavras, e os destroços se tornaram irremediáveis. Não havia o que fazer e ambos sabiam.
Se separaram, e nunca mais se viram outra vez.
Ao final, um pedia por um pouco mais de afetuosidade e o outro, acorrentado por medos passados, detinha tal blandícia cravada em seu interior, trancada à sete chaves.
— você foi o amor mais bonito que eu nunca tive.