Esposa

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Estou terminando de me arrumar quando ouço passos no quarto, certamente deve ser Valentina querendo saber se já estou pronta. Prendo meus cabelos com um elástico preto e arrumo a barra da blusa. Ouço duas batidas na porta, logo ela abre a porta, olho para trás vendo a cabeça de Valentina surgir através da porta.
- Pronta?
- Sim.
Ficamos nos olhando durante alguns segundos, estou receosa e ansiosa para saber o que ela achou. Ultimamente tenho me sentido como uma adolescente que está tentando agradar o primeiro amor, que irônico, não? Mas está sendo assim, todo dia eu sempre tento parecer o mais bonita possível para que ela me dê ao menos um elogio. Talvez eu goste das coisas que ela me diz... Talvez.
- Pretende matar alguém hoje? - Franzo o cenho, me olho de cima a baixo rapidamente.
- Está maravilhosa, por Deus, esse vestido vermelho é. - Deixa a frase no ar e suspira, Valentina morde o lábio inferior e após negar com a cabeça algumas vezes sai do closet. Me viro para o espelho e abro um enorme sorriso para o meu reflexo.
-Acertei. - Balanço minhas sobrancelhas e acabo rindo de minha bobeira. Mas deixa eu ir antes que Valentina venha chamar outra vez.
Hoje é dia de Bachata.

Chegamos no Centro cultural, o dia hoje não está frio como os outros, Valentina está vestindo uma calça jeans bem justa e uma blusa de alguma banda que tampa sua bunda. Eu estou usando um vestido vermelho que bate em meus joelhos, mas trouxe uma roupa extra para dançar.
Vai ficar hoje para assistir?
Pergunto a Valentina após descermos do carro, ela ajeita a touca em sua cabeça e me olha como se estivesse pensando se fica ou não. Ela não quis ficar semana passada, acho que pelo fato de eu sempre dançar com um rapaz, Diego Boneta, é um dançarino assistente que eu tenho. Nos conhecemos na semana passada, ele é simpático além de saber dançar super bem, tem me ajudado bastante a lembrar de alguns passos de dança.
Mas Valentina não pareceu muito à vontade ao me ver dançando com ele, ela nem quis ficar o restante da aula, apenas disse que tinha alguma coisa para resolver no estúdio dela.
- Não sei se vai dar para e-
- Você sabe dançar Bachata? - Valentina levanta as sobrancelhas e me olha sem entender.
- Como?
- Você sabe dançar Bachata?
- Mais ou menos... Quer dizer, você estava me
ensinando, eu aprendi algumas coisas. Abaixa os ombros e dá um sorriso tímido, suas bochechas coram e Valentina coça a cabeça. Ela fica adorável quando está sem jeito.
- Topa ser minha assistente hoje? - Valentina me olha sem entender. - Diego não poderá vir, a filha dele está passando mal, ele me mandou uma mensagem mais cedo avisando. - Explico e ela suspira.
- Por favor? - Faço minha melhor carinha fofa e Valentina revira os olhos, prendo o riso ao vê-la sorrir, já sei que ela está cedendo. Valentina molha seus lábios e ajeita a postura.
- Tudo bem, vamos lá. - Concorda por fim e eu me controlo para não fazer uma dancinha qualquer, apenas sorrio.
- Só não fique com raiva caso eu pise no seu pé ou erre algum passo.
- Fica tranquila. - Paro ao seu lado e meio tímida
aperto seu ombro, Valentina me olha e sorri com o contato, sorrio de volta.
- Você vai se sair bem.
Eu espero que se saía bem mesmo.

Estou conversando com os casais os quais eu dou aula, ainda é estranho tudo isso, mas estou me adaptando. Sempre gostei de dançar, desde pequena tinha o sonho de crescer e virar uma dançarina de sucesso, mas o plano B parece ter dado mais certo. Tenho certeza que não me arrependo de ter chegado onde cheguei, sempre quis ter um centro cultural onde eu pudesse
dar aulas de danças. Esse era plano B.
- Voltei.
Valentina de repente surge ao meu lado, ela tinha ido trocar de roupa para me fazer companhia. Ela está com uma roupa parecida com a minha, calça legging preta, uma blusinha solta que deixa nossos ombros a mostra, sendo a minha da cor verde e a dela branca com desenhos azuis, e nos pés usamos saltos altos, só que os meus são um pouco mais altos que os dela. Nessas horas tenho que agradecer Coty por praticamente ter me obrigado a aprender andar de salto alto desde os meus treze anos de idade.
Até que Coty consegue ser útil quando quer.
- Pessoal! - Chamo a atenção de todos os casais que ali estão, eles param de conversam e olham para mim. Vou até o centro do salão e faço sinal para que Valentina se aproxime.
- Diego não poderá comparecer hoje, ele está com alguns problemas em casa. - Começo a explicar, olho para Valentina, ela parece nervosa, eu diria
que até intimidada.
- Hoje quem irá me ajudar será Valentina, eu não sei se vocês conhecem ela, mas ela é minha esposa. 1 A última palavra quase não sai, meu rosto está quente e não sei dizer se é pelos sorrisos dos meus alunos ou por Valentina estar me olhando com tanta intensidade. Sinto seu olhar em mim, sei que ela está me olhando. O pessoal acena que sim, com sorrisos em seus rostos.
Fico feliz deles conhecerem ela e por não ficarem
desconfortáveis por sermos um casal. Olho de relance para Valentina e vejo um enorme sorriso em seu rosto, ela está de cabeça baixa e parece estar num mundo só seu. O sorriso no rosto dela é por minha causa, eu sou o motivo dela estar sorrindo tão lindamente assim. Eu a fiz sorrir.
Deveria estar me sentindo tão bem quanto eu estou me sentindo por saber que eu sou a razão dela estar sorrindo?
- É, nós conhecemos bem a senhorita perfeita
Valdes-Carvajal. - Ana, uma das mulheres da classe brinca e todos riem concordando, coro, esse comentário fez parecer como se eu sempre comentasse sobre Valentina com eles. É provável que sim.
- Valentina. - Chamo sua atenção e ela salta um pouco, prendo a risada. - Vem cá. - Ela prontamente vem para perto de mim, vou com ela até o som.
- Tem alguma dessas músicas que você sabe os passos? - Questiono e dou espaço para que ela vá até o som, mas fico atento pra ver qual canção ela vai escolher. Valentina analisa elas, olho para seu rosto concentrado até que ela abre um sorriso, volto a olhar para o som e vejo que parou em uma música, Diamonds - Rihanna. Não faço ideia de que música seja, mas a julgar pelo sorriso dela, Valentina conhece bem.
- Essa.
- Tudo bem. - Concordo e ela pega o controle do som.
- Os passos dessa são tranquilos?
- São sim. Eu sei que você ainda está se adaptando a essas músicas novas, mas é só você...
- Me deixar levar como se estivesse dançando na
chuva. - Completo sua frase e Valentina sorri assentindo. Esse sempre foi meu lema desde sempre quando eu ia dançar alguma música "Só me deixar levar como se estivesse dançando na chuva", agora sei porque Valentina e Louis falam que os dias em que eu venho dar aula são chamados de "Dia de dançar na chuva".
- Estão prontos?
- Sim!
Eles respondem em uníssono e eu caminho até o centro da sala, Valentina vem andando atrás de mim e para alguns passos longe. Olho para ela que aperta um botão no controle e depois o coloca em sua cintura, através da barra da calça legging. Ela para em frente a mim e sorri, Valentina suspira e lentamente estica a mão, indicando que eu faça o mesmo. Seguro suas mãos e ela delicadamente segura em minha cintura, passo meu braço esquerdo por trás de seu pescoço e colo nossos corpos. Valentina coloca uma perna no meio das minhas e
mexe a cintura de um lado para o outro, a acompanho e deixo que ela nos guie. Olho para o rosto dela, ela está olhando para baixo, concentrada em nossos movimentos. Encosto minha testa na sua e Valentina levanta o olhar, vejo seus olhos verdes brilharem. Eles são ainda mais intensos vistos de tão perto. Nos afastamos um pouco, Valentina ainda segura minha mão direita, ela faz alguns passos, que consistem em
pequenas pisadas no chão com a ponta de seu pé. Faço o mesmo só de que uma forma mais sensual, digamos assim. Conheço bem esse ritmo, é quente e precisa de bastante jogo de cintura.
Valentina me puxa para ela, grudando nossos corpos outra vez. Faço movimentos ondulares com meu quadril, para frente e para trás, roçando nela. Sinto sua mão em minha lombar, seus dedos apertam minha carne. Sua respiração está meio desregular, sinto o ar que sai de suas narinas bater furiosamente contra meu rosto. Colo nossas testas, fecho os olhos e deixo que ela
guie a dança, Valentina dança bem, sabe mexer o corpo quase que perfeitamente. Ela me roda e cola seu quadril em minha bunda, coloca uma mão em minha barriga e segura a outra no ar. Valentina abaixa minha mão e faz com que eu alise a lateral de meu corpo, sua mão por cima guiando-a. Nós duas nos afastamos um pouco e damos um giro, ela sorri para mim antes de
voltar a segurar minha mão. Ela se afasta um pouco e fica parada, desço até o chão e jogo os cabelos, fazendo questão de requebrar o quadril. Valentina me vira de costas para ela outra vez, o
ar quente que sai de sua boca está batendo em meus cabelos. Sinto as mãos quentes e macias dela em minha cintura por debaixo da blusa, os pelos de meu braço ficam eriçados quando ela me aperta. Continuamos dançando, dessa vez ela faz questão de manter o contato visual comigo. A música está no final, com um último giro, Valentina me segura pelos cabelos da nuca e gruda nossas testas. Engulo seco ao vê-la me
olhar daquela forma, seus olhos estão escuros, o rosto um pouco vermelho. Ela se afasta um pouco, mas não o bastante para não me deixar intimidada. Valentina umedece seus lábios com a língua e por reflexo eu faço o mesmo, ela segura em minha cintura e então, alguns aplausos e assobios nos despertam daquele momento
esquisito e... Sexy? Sim, definitivamente sexy.
Santo Cristo... Nós iríamos nos beijar?!
Oh sim, nós iriamos... Puta merda, ainda bem que não nos beijamos, não me sinto pronta para isso ainda. Eu ainda nem me lembro do meu primeiro beijo..
Droga.
Depois que a aula acabou, Valentina e eu nos despedimos do pessoal. Nunca foi tão divertido dar aquela aula para eles, e eu só tive duas até agora. Valentina é super sociável e fez com que as mulheres presentes ali se sentissem mil vezes mais confiantes para dançarem sem timidez. Cheguei a cogitar a possibilidade de substituir Diego por Valentina.
- Eva acabou de me mandar uma mensagem, quer que eu te deixe em casa?
Valentina diz assim que entramos no carro, olho para ela sem entender quem raios é essa Eva.
- Quem? - Valentina levanta a cabeça após prender seu cinto de segurança, suas sobrancelhas estão franzidas, mas ela logo relaxa a expressão confusa do rosto.
- Eva, a professora do Lou. -Ela explica e sorri de lado. Por que ela tem o número da professora dele?
- Ela tem seu número do celular?
- Sim, na verdade todas as professoras tem, elas tem o seu também, até a diretora tem seu número. -Valentina esclarece e me sinto aliviada? Quê?! - É para o caso de acontecer alguma coisa ou emergências, você sabe, essas coisas.
- Entendi. - Prendo meu cinto de segurança e me ajeito no banco. Valentina liga o carro e logo começa a andar com ele.
- Vai querer ir para casa ou quer me acompanhar?
-Hm...
Paro para pensar um pouco, não quero ir
para casa, ficar sozinha é muito chato. - Eu quero ir com você, estou com saudade do pequenino.- Um enorme sorriso nasce em meu rosto e olho para Valentina, ela está sorrindo como a muito não vejo, parece que injetaram alguma droga do sorriso nela. Na verdade ela está assim desde de mais cedo. Será que ela ainda estava sorrindo por eu ter me referido a ela como minha esposa?

Stupid Wife - Juliantina Onde histórias criam vida. Descubra agora