Aulas de direção

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Domingo - 30 Novembro de 2014
Estou sentada na varanda lateral do casarão que tem naquele enorme sítio. Uma xícara de chocolate quente em minhas mãos enquanto observo Valentina e Louis brincar de jogar gravetos para Duke, eles insistiram em trazer aquele cachorro enorme para cá. Não me juntei a
eles porque estou cansada, e também porque
mentalmente falando, depois do que vi naquela casa da árvore, eu não me sinto totalmente sóbria.
- Cuidado, Lou!- Valentina grita para o pequeno, que está correndo o mais rápido que pode enquanto Duke corre atrás dele, acho
que ele quer o graveto na mão de Louis. Observando aquele momento é impossível não sorrir, quer dizer, é a minha família. E talvez não faça tanto sentido, mas ali está a imagem do meu presente e futuro. Eu gosto disso, acho que não poderia pedir por pessoas melhores na minha vida. Minha família.
Eu cresci ouvindo as pessoas dizerem que existe amor à primeira vista, meus pais sempre diziam que existe paixão à primeira vista, o amor surge com o tempo e a convivência. Quando eu conheci Valentina eu descobri um novo sentimento à primeira vista, antipatia. E o ódio surgiu com o tempo e a convivência. Eu me lembro bem, como se fosse ontem de como nos conhecemos.
Eu estava atrasada para a primeira aula, vinha andando pelos corredores de forma apressada. Eu carregava três malditos trabalhos na mão, um de história, de química e física. Estava surpresa ainda que tinha conseguido fazer o de química e física já que sempre fui péssima nessas duas matérias. Lembro que fui cruzar o último
corredor e então colidi com alguém, sabe quando você bate de frente com a pessoa com tanta força que é arremessada para trás? Foi o que aconteceu, os trabalhos voaram da minha mão. Eu grunhia de dor, quando abri os olhos e vi que todas, todas sem exceção das folhas estavam completamente molhadas por um líquido azul. Eu levantei desesperada, e enquanto eu surtava eu ouvia aquela voz irritante "Calma aí, gatinha.
fica calma". Lembro também que comecei a gritar com Valentina, mas tudo piorou mesmo quando ela tentou "consertar" as coisas me dando um beijo. Minha vontade foi de cuspir na cara dela, eu estava fumegando de raiva e a criatura tentando me beijar.
Desse dia em diante ela não parava de me perseguir, nos primeiros dias até tentou se desculpar, mas com o passar do tempo as desculpas evoluíram para tormentos, pegadinhas, cantadas e mãos bobas. Eu
odiava Valentina Carvajal mais do que qualquer outra coisa na face da terra.
Mas agora eu te digo, sabe aquele ódio todo? Aquela ânsia? A antipatia? Está sendo convertida em carinho, admiração e.... Outra coisa. Eu ainda não quero nomear, tenho medo de me precipitar e acabar dando errado. Mas uma coisa é certa gosto de Valentina e cada dia gosto mais dela. Sem contar que ela me deixa segura, nenhuma pessoa no mundo além dos meus pais me
passa a segurança que Valentina passa. Ela é especial, nós temos uma conexão forte.
- Juliana. - Sou desperta de meus pensamentos por Lauren, pisco algumas vezes para focar minha visão e me deparou com seus olhos azuis fixos em meu rosto. Valentina sorri, suas mãos em meus joelhos. - Voltou para o mundo real?
- Estava lembrando de algumas coisas.- Sorrio sem jeito, sinto ela acariciar meus joelhos com
seus polegares e então sela nossos lábios. Solto o ar por meu nariz ao sentir o toque suave da boca dela na minha, era possível sentir meus lábios formigando. Seguro a xícara firme com uma mão só, a outra levo até os cabelos da nuca de Valentina, puxando-os levemente para logo em seguida acariciar seu couro cabeludo com as pontas dos dedos.
- Quer conversar sobre essas lembranças?-Pergunta ao quebrar nosso beijo, demoro um
pouco a raciocinar, pois ainda estou meio aérea pelo beijo. O beijo dela é tão calmo e relaxante, deve ser melhor que um orgasmo. Zeus! Porque eu comparei o beijo dela com a sensação de gozar? Eu preciso aprender a me controlar perto dela.
- Estava lembrando do dia em que nos conhecemos, lembra?
Solto uma risadinha e Valentina me acompanha, ao longe posso ouvir a voz de Louis chamando por Duke, em seguida seus latidos. O tempo está fresco, e ainda temos algum tempo para ficarmos por aqui antes de irmos embora. Eu não queria ir embora, me sinto bem aqui nesse sitio. Me sinto em casa.
- Como esquecer? Você sempre foi estressada, mesmo nova como naquela época. - Ela senta ao meu lado e apoia as mãos no extenso banco onde estou sentada.
- Eu pensei que você iria me assassinar naquele dia.
- E eu quis, sinceramente.
Valentina gargalha, mordo meu lábio inferior enquanto a observo rir. Os olhos fechados, a cabeça levemente inclinada para trás, as ruguinhas nos cantos dos olhos. E o som... Ah, o som da risada dela.
- Quando eu vi meus trabalhos cobertos daquele negócio esquisito, Valentina, eu queria esfregar a
sua cara neles. Juro.
- Eu sei que queria. - Ela para de rir aos poucos,
enxuga os cantos de seus olhos com os dedos. -Ainda tentei amenizar a situação brincando com você, mas você levou a sério demais.
- Você não parecia estar brincando. E não parecia mesmo, até me prensou contra um armário.
- Para ser sincera eu não estava brincando totalmente, se você tivesse aceitado, com toda certeza eu teria te beijado. Mas quando você começou a ficar vermelha e soltar palavrões desconhecidos por mim, eu percebi que tinha que sair dali antes que você me matasse.
- Que exagero. - Deixo a xícara em cima do banco, um pouco distante de mim. Me viro um pouco de lado e coloco as pernas em cima das pernas de Valentina, ela me olha de lado e estala a língua. - Se importa?
- Não.- Põe suas mãos em minhas pernas, uma em minha coxa e outra em meu tornozelo. - Não mesmo. - Alisa meu tornozelo com sua mão esquerda, com a direita ela segura em meu ombro e me puxa para frente, indicando que quer que eu me aproxime. Prontamente o faço, deitando a cabeça na curva de seu pescoço. Valentina cheira meus cabelos e beija minha
cabeça. - Eu realmente não importo.
E eu muito menos... É ótima a sensação de ter o corpo dela junto ao meu.

Stupid Wife - Juliantina Onde histórias criam vida. Descubra agora