De volta a Goiânia

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Goiânia

Benicio estava no escritório de seus advogados e recebia informações confidenciais a respeito dos problemas financeiros que Maria enfrentava.

- Daniel adquiriu um grande percentual de ações em uma startup recém criada na América Latina. O negócio parecia muito promissor, mas faliu, jogando os acionistas em uma divida milionária. Daniel deixou seus bens alienados ao investimento e isso tem sido um grande problema para Maria. Ela quer honrar com as dívidas do falecido marido e parece não se importar em desfazer-se de alguns bens para se livrar logo disso. – Disse o advogado, resumindo o relatório.

- Meu Deus! Ela nunca me falou sobre isso ou pediu minha ajuda. – Falou Benicio, sentindo-se angustiado. – Eu podia ter ajudado.

- A divida é salgada. A falência envolveu dívidas fiscais e com investidores. O valor atual é de 20 milhões de reais, mas se ela tentar negociar, talvez consiga baixa-la para 15 milhões.

- Eu vou conversar com ela. Veja todos os meios legais para resolvermos isso. – Disse Benicio, levantando-se da cadeira e finalizando a reunião.

-Sim, senhor! Faremos tudo ao nosso alcance.

...

Benicio sentou-se em seu carro e pegou o celular. Após meses, ele estava ligando para Maria.

Ele olhou para o horizonte e pensou no que poderia falar para ela. Depois de tanto tempo, aparecer de repente, querendo resolver os problemas de sua vida, poderia parecer arrogante. Benicio sabia que ela era uma mulher orgulhosa, e se não tomasse cuidado na abordagem, ela poderia negar-se a aceitar sua ajuda.

Benicio suspirou fundo e ligou para ela.

- Alô, Maria...

- Benicio? – Ela falou, ainda surpresa e sem acreditar no telefonema que recebia. – Aconteceu alguma coisa?

- Oh! Não... Eu liguei para saber como vocês estavam.

- Nós? Oh... Estamos bem! Obrigada! – Ela disse, sem prolongar o assunto. – E você?

- Eu estou em Goiânia. Estou tirando umas férias. Dando um tempo do trabalho.

- Que bom! – Ela respondeu.

Maria sabia que ele estava enfrentando problemas com o álcool e que isso estava impactando em sua carreira. Mas, não iria tocar no assunto. Não sentia proximidade suficiente para isso.

- Eu gostaria de visitar as crianças hoje. Posso? – Ele pediu.

- Hoje? – Ela perguntou, surpresa com o aparecimento repentino dele e o desejo de visitá-los. – Eu não sei...

- Por favor! – Ele pediu. – Sinto saudade das crianças.

- Ok! Venha jantar conosco hoje a noite. Chegue por volta das 19h. As crianças dormem cedo.

- Certo! Estarei lá. Obrigado.

...

Maria desligou o telefone e algumas interrogações surgiram em sua mente. Sendo a principal delas, por que Benicio desejava visitá-los depois de tantos meses de distanciamento?

Após a morte de Daniel, eles só haviam se visto umas duas vezes. Bianca foi a que mais sentiu a ausência do padrinho. À noite, a garotinha perguntava se o "Dindo" também havia ido morar no céu com o papai dela, mas Maria explicava que não! Que ele apenas estava muito ocupado.

Bianca era muito pequena e bondosa, e aceitou com mais suavidade a ida do papai "para o céu" e a falta de tempo do padrinho. Já seu irmão, enfrentava a dor da perda enfrentando tudo com revoltava e "mal criação". Matheus havia perdido o ano letivo, se metia em confusão na escola e vivia emburrado pela casa. Maria tentava equilibrar a tolerância e a disciplina numa corda bamba. Mas, não era fácil, por vezes sentia-se sem saber o que fazer.

Com todos os problemas que haviam estourado em sua vida nos últimos meses. A divida milionária que teria que honrar e as dificuldades com seu filho mais velho, Maria decidiu que vender a casa e ir morar com seus pais era uma boa solução. Era uma forma de pagar parte da divida e ter a figura masculina de seu pai na vida de seu filho. Ela sabia da importância de figuras de referência para o crescimento saudável de uma criança.

Entretanto, sua mente agora se fixava na visita repentina de Benicio. Mesmo após tanto tempo, vê-lo lhe trazia uma mistura de sentimentos estranhos que Maria mal sabia discernir. Ao menos, uma coisa ela tinha certeza, que ele vinha e ia embora com a mesma rapidez. No fim, era só uma visita, disse para si mesma.

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