10 - A moto

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Dias depois...

Finalmente eu fora autorizada a sair da minha cela. Herhsel, mesmo assim, fez todas as recomendações possíveis: não esforçar, tomar atenção ao ferimento e ter certeza de que ele cicatrizava corretamente... Enfim, um sem fim de coisas que eu tinha de prestar atenção, além de me manter viva.
Desci as escadas nessa manhã, totalmente sozinha e me senti uma heroína. Mas o sentimento sumiu assim que cheguei no fundo.
Olhei em volta, todo o mundo estava acordando e fazendo suas coisas... Todo o mundo menos T. Era minha primeira vez ali, assim, sem ele, e ainda era tão estranho não escutar a sua voz pela manhã, me chamando de Z e perguntando de que forma eu estava planejando tomar o mundo, nesse dia...
Pequenas coisas que faziam ele ser inesquecível.
Respirei fundo. Eu era forte, e eu iria sobreviver. Por nós dois.
- Zoe.
Carl passou por mim, saindo do bloco em direção á rua.
Franzi o cenho e olhei para o lado, vendo Beth surgir com Judith nos braços.
Ergui a mão. - O que aconteceu aqui?
Era apenas uma pergunta sem sentido, eu estava me referindo á forma fria como ele falara, não ao acontecimento em si.
Beth suspirou. - Rick se afastou e Carl pensa que tem de proteger o grupo, carregar esse fardo sozinho. Mas o Glenn está fazendo isso. Tomou a liderança temporária do grupo.
Assenti, mancando até junto da mesa, onde sentei  e estiquei os braços para ela me entregar a Judith.
Beth sorriu e colocou a menina nos meus braços, se afastando para preparar a mamadeira dela.
- Oi Jude, como foi sua noite? - Sorri para a menina e fiz carinho no seu rosto. - A minha foi um saco. - Ajeitei a roupinha dela enquanto falava. - Só sonho ruim.
- Já pode andar por aqui?
Ergui o olhar e vi Daryl entrando, segurando a besta no ombro.
Dei de ombros. - Acho que sim, pelo menos não tem nada contra... Mordomo.
Daryl bufou de raiva e seguiu seu caminho, me ignorando.
Suspirei e rodei no banco, olhando ele.
- Sabe que eu estou brincando? - Falei.
Ele parou de andar e girou, me olhando.
- Que brincadeira besta. - Respondeu.
Mordi o lábio, assentindo.
- Tá. Pensa o que quiser, então.
Voltei na minha posição inicial, olhando Judith, até que Beth chegou, pegou ela e sumiu.
Percebi que Daryl continuava me olhando, parado no mesmo lugar e levantei.
- Vai ficar me olhando o dia todo? Sou obra de arte, por acaso?
Daryl soltou um som semelhante a "pffff" e ajeitou a besta.
- Você é idiota. Nem sei porque fui procurar você.
Sorri, o tom com que ele falara aquilo, deixava perceber que nem ele acreditava nas suas palavras.
- Foi o sangue caipira. - Brinquei. - A gente adora se odiar.
- Quê?
Peguei o bastão, colocando ele no ombro e fazendo um gesto rápido com a cabeça. - Digamos que deixou de ser o único caipira nesse grupo, senhor Dixon.
Dei as costas e saí em direção da porta. Precisava de sair e respirar ar puro, ou acabaria louca.

Glenn falara que precisávamos sair para achar mais fórmula para a Judith.
- E medicamentos também seria legal. - Continou. - E munição, temos de estar preparados para qualquer eventualidade.
Olhei ele e assenti. - Eu vou.
Glenn me olhou como se eu fosse maluca. - Acabou de sair da cela, ainda está mancando. Não, nem pensar.
Sorri torto. - Vai impedir?
Ele revirou os olhos, sorrindo e depois assentiu. - Tá, mas não irá sozinha.
- Você tem de ficar. Eu me viro.
- Eu posso ir.
Olhámos para trás de mim e lá estava Daryl, nos olhando.
Suspirei e olhei o céu, todo mundo menos ele. Eu não sabia lidar com a bipolaridade dele.
Girei e ergui a mão. - Eu posso fazer isso sozinha. Levarei a pick up.
- É melhor o Daryl ir junto, Z. Acabou de recuperar de um ferimento grave.
Olhei ele, estreitando os olhos.
- Grave? Chama isso de grave? Experimenta deixar cair o motor de um carro no pé e depois a gente fala da gravidade dos ferimentos.
Glenn franziu o cenho. - Já aconteceu?
Assenti, me afastando. - Já, já aconteceu. - Ergui o braço. - Tá, o caipira pode vir junto. Fazer o quê?
Continuei andando até á pick up, parada junto da moto do Daryl mas parei de andar, franzindo o cenho.
Tinha algo de familiar ali.
Me aproximei, abaixando junto do motor e abri os olhos de espanto. Eu conhecia aquela moto! Era a moto do Merle!
Espera.
Olhei Daryl, falando com o coreano e depois de novo para a moto.
Dixon. Merle era Merle Dixon, e falara que tinha um irmão... Meu Deus! Era aquele Dixon! Merle era irmão do Daryl!
Quais as probabilidades de isso acontecer?!
- Hey! Afasta da moto!
Levantei, suspirando, e girei, encarando Daryl.
- Não vou quebrar.
Ele me olhou de forma estranha e ergueu a mão, imitando um gesto que eu costumava fazer.
- "Deveria manter a distância." - Ele tentou imitar meu tom de voz e eu acabei rindo.
- Que merda foi essa?
Daryl continuava me olhando. - Pega a pick up e vamos.
Estreitei os olhos, tirei a chave do bolso e lancei na direção dele, que apanhou ela no ar. Depois sentei na moto e liguei, prendendo o bastão de lado.
- Ah não! Não, não, não, não! - Daryl tentou me pegar mas eu acelerei até o portão, onde parei e olhei ele. - Te vejo na estrada, idiota! Não quebra a pick up! Sabe dirigir, né?
Daryl começou a esbravejar e Maggie riu, abrindo o portão para mim.
- Você está tão ferrada. - Disse ela.
Sorri. - Quem se importa?
Saí da prisão, escutando Daryl dar a partida na pick up.
Sentir o vento no meu cabelo era ótimo. E sorri. Eu já dirigira aquela moto, por isso era como voltar no tempo, antes do apocalipse.
Arrisquei olhar para trás e vi Daryl á poucos metros de mim e, do seu lado, com a cabeça fora do vidro, estava Loki.
Neguei com a cabeça. - Traidor.
Acelerei e depois escutei algo fazendo barulho e franzi o cenho. Percebi que tinha um rádio preso na moto.
- Oh idiota!
Peguei o rádio e sorri. - Fala, senhor Dix.
- Você realmente... Sai na primeira saída á direita. Sei de um lugar onde podemos procurar.
Assenti. - Ok. Ah, e Daryl. Não pense que o facto de ter trazido o meu cachorro, me vai fazer gostar mais de você.
- Pfffff, nem morto.
Coloquei o rádio no lugar e continuei, olhando a estrada, sorrindo.

Daryl:

Daryl manteve o rádio na mão, o cotovelo apoiado na janela, enquanto dirigia com a outra mão.
Zoe seguia na frente e até que a moto do idiota do Merle combinava com ela, e ela parecia saber o que estava fazendo e ter o cuidado de não estragar.
Daryl sorriu discretamente. A garota até que era legal. Mas era irritante.
Depois olhou para o lado, vendo o cachorro observando ele e colocou o braço para baixo, guardando o rádio.
- O que foi? - Perguntou para o cachorro. - Nem vem com esse olhar.
Depois franziu o cenho. - Estou falando com um cachorro.... Pffffff.

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