DEZOITO

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Estou estática encarando Lay como se ele não houvesse dito nada até agora e tudo foi uma grande alucinação.

Eles conseguiram.

— Ameer! — Allerick grita. — Vamos esticar as pernas, irmão. Conhecer umas pessoas.

Ameer geme ao se espreguiçar no sofá.

Eles conseguiram.

Eles conseguiram.

— Eu passo — ele responde. Allerick segura seu pulso e o levanta. — Ei!

— Nós não estamos de férias, irmão.

Eles conseguiram.

Eles conseguiram.

— Eu sempre estou de férias — ele cospe, se desvencilhando do braço de Allerick. — Mas tudo bem, eu faço essa caridade.

Quantos será que conseguiram?

Quantos?

Quantos morreram ou foram deixados para trás?

Quantos?

— Callia? — Lay me chama; um drástico alerta de que estou muito longe de onde meu corpo se encontra e preciso me mexer. Pisco uma, duas vezes.

— S.... sim? — balbucio. Lay segura meus ombros com cuidado.

— Eles estão chegando. Vamos. Você está bem?

Assinto. Não sei se consigo fazer mais palavras pularem para fora da minha garganta. A chuva corre violentamente lá fora.

Controle-se.

— Ótimo, eu quero ir! — Mali exclama.

— Vamos levar a humana! — Ameer diz em seguida, imitando a entonação de Mali, que revira os olhos.

— Ei, ei — Lay censura. — Lydia me informou que Allerick, Lótus e Luna, além de claro, nós dois — acrescenta apontando para mim, depois para si mesmo —, deveríamos ir.

Ameer se joga no sofá novamente.

— Ótimo, vão — desdenha.

— E... Mali? — Allerick questiona, Ameer ri com escárnio. Lay suspira.

— Bem, ela é sua responsabilidade, Encantadora Sombria — diz. Os olhos de Mali brilham no encontro com os meus.

— Sim... okay, ela precisa se familiarizar com Powal — respondo, me forçando a focar na situação atual à continuar remoendo pensamentos infinitamente.

Em poucos minutos, estamos prontos para ir.

Cavalgamos até a floresta, em silêncio absoluto. Talvez seja impossível marcar meus batimentos cardíacos agora. Eu quero saber quantos deles conseguiram. Eu quero saber quais deles resistiram.

Eu quero que Lowan ainda esteja vivo.

Durante todos estes dias cinzas, onde eu não parei por um segundo sequer — viajei entre dimensões, consertei um relógio, conheci deuses, ajudei Mali, procurei por Maara, escrevi cartas, ajudei a planejar uma fuga, declarei uma guerra implícita entre províncias somente por voltar para Myliand, sem controle completo de minhas mãos e pensamentos demais para uma única consciência —, eu nunca consegui cessar o medo; o frio na barriga, ruim, que sinto todas as vezes que me pergunto o estado atual de Lowan e Emma e Helus. Mal sei quando comecei a realmente me preocupar com Helus, mas o fato de sermos irmãos... isso mudou boa parte dos meus pensamentos sobre ele.

Encantadora Sombria (em revisão)Where stories live. Discover now