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(...) O primeiro mês longe da prisão passou arrastando-se, quase em câmera lenta. Por mais que tivesse voltado para o trabalho, para as horas-extras, aulas de yoga, boxe e se dedicasse ao filho, ainda sobravam muitas horas vagas no dia de Maraisa. Estava sendo mais difícil do que imaginou que seria. As vezes fantasiava que a amiga ligaria a qualquer momento, e elas passariam horas conversando. Tinha noites que tinha tanta esperança que aquilo fosse acontecer, que adormecia com o celular nas mãos e todas as manhãs quando acordava, seu coração acelerava com a possibilidade de uma ligação perdida. Respirava fundo algumas vezes antes de tomar coragem e olhar para a tela do celular, e em momentos assim, a esperança dava lugar a decepção.

Marilia nunca ligou e não ligaria, sabia que não, na carta que deixou a loira, ficou claro que elas não poderiam mais se falar, então não tinha nem motivo para se decepcionar com o silêncio da ex-namorada, Marilia só estava fazendo a sua parte, e Maraisa tinha certeza que ela continuaria a fazendo com perfeição. Os muitos anos que passaram sem se falar deixava claro, mas aquilo não impedia seu coração idiota de ter esperança.

Sentia tanta falta daquela loira estúpida, cada dia a saudade parecia crescer mais. Daria tudo para pelo menos ouvir a voz da amiga lhe chamando de Maraisa Pereira. Tinha saudade da voz e tinha medo de não lembrar com exatidão o timbre da voz que tanto lhe fazia bem. Tinha saudade dos abraços, dos beijos, das conversas, das juras de amor, tinha saudade até dos pés e mãos geladas da loira.

Há pouco mais de um mês, sabia tudo de Marilia, sabia sobre seu dia, sobre o que a loira fazia ou deixava de fazer, sobre os sonhos ou pesadelos que tinha a noite, até sobre o que ela estava pensando, e em um piscar de olhos já não sabia de mais nada. Aliás, até sabia, já que Maiara ligava toda a semana e passava um relatório semanal sobre a vida da loira, mas era um relatório sem muitos detalhes.

Segundo a ruiva, Marilia estava relativamente bem. Depois de ter fugido da enfermaria para ir até a "janela da despedida", Maiara e French, conseguiram a arrastar de novo para o lugar, onde ela passou mais dois dias e depois foi liberada para o convívio com as outras detentas. Desde então estava se alimentando direito e trabalhando muito. Passou a ser a primeira a chegar no trabalho e a última a deixa-lo. Preferia fazer suas refeições sozinhas, sempre escolhendo a mesa mais afastada das pessoas e suas felicidades insuportáveis.

Não participava mais dos cinemas de domingo. E seus fones de ouvido tornaram-se seus melhores amigos, os usava sempre que possível, assim não precisava ouvir nem falar com ninguém. Todas as noites antes de dormir, acabava lendo a carta que a morena deixou e sempre chorava. Dormia abraçada as folhas de papel e a foto de Leo, e quando acordava, voltava a reler a carta. Aos domingos continuava recebendo visita dos pais, onde passava toda a uma hora os ouvindo falar, sem esboçar muita reação. French, tornou-se uma das únicas pessoas que conseguia conversar com a loira, conversas essas que nem Maiara, sabia o assunto. Já a ruiva, Marilia só procurava quando precisa muito de um abraço.

Então não, Marilia não estava bem. Maraisa tinha certeza que não tinha sobrado muito da amiga, e aquilo era o que a deixava mais agoniada, preocupada, que a fazia perder o sono. Queria poder fazer alguma coisa, mas estava de mãos atadas, não podia fazer nada. Maiara dizia que com o tempo a loira melhoraria, na verdade, segundo ela, já estava melhorando, devagar, mas estava, então tudo que restava a Maraisa, era esperar.

No quarto ao lado, Léo estava deitado em sua cama, jogando uma bola de baseball contra a parede enquanto pensava em Marilia. Há pouco mais de um mês não falava com a loira. Não porque queria, nem porque estava obedecendo as ordens da mãe, mas sim porque Marilia estava descaradamente o ignorando.

Mandou cartas para ela, pedindo que lhe ligasse ou pelo menos escrevesse, como nunca ganhou uma resposta, resolveu apelar para amiga presidiaria de sua mãe. Um dia sem que Maraisa percebesse, o garoto lhe roubou o celular e foi para o seu quarto, esperar a ligação da tal Maiara, quando a mesma ligou, a fez prometer que faria Marilia o ligar. Cinco dias tinham se passado desde então, e Marilia continuava sem fazer contato.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora