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𝓑𝓸𝓪 𝓵𝓮𝓲𝓽𝓾𝓻𝓪

Não posso dizer que relaxei. A verdade é que eu fiquei tremendamente tenso, olhando para os lados o tempo inteiro e me certificando de que não tinha ninguém me encarando, era geralmente isso que as pessoas faziam quando me reconheciam, mas tinham receio de se aproximar.

Mas, em resumo, eu consegui ficar no mínimo confortável naquela poltrona com espuma ruim e fiquei só um pouco incomodado com o pessoal que decidiu comer laranja e impregnou o ar com o cheiro, porque, nada contra laranja e tal, mas definitivamente me lembra cheiro de produto de limpeza citrus.

Foram horas bem cansativas, mas admito que era tudo uma experiência nova para mim. Tipo, eu nunca havia viajado de ônibus sozinho. Eu nunca tinha feito muitas coisas sozinho. Coisas que seriam simples para outras pessoas. Eu estava um pouco deslumbrado com toda aquela realidade.

E, sou obrigado a admitir, fiquei ainda mais deslumbrado quando finalmente o ônibus chegou ao destino e consegui descer do ônibus. Eu tinha conseguido atravessar a fronteira e estava na capital de Nova Germânia. E, sério, ao contrário do que eu imaginava, o lugar era bonito. Mais que isso, era adorável. Era pouco mais de sete horas da manhã e haviam poucas pessoas passando pela rua tranquilamente, mas dava para ver que a cidade era um misto incrivelmente equilibrado de grande metrópole e vilarejo. Por tudo que eu ouvi dizer, eu acreditava piamente que iria encontrar uma zona de guerra, um cenário do The Walking Dead ou qualquer coisa desse tipo.

Comprei um celular muito simples, e barato, e um chip pré-pago em uma loja de conveniência. Tomei café em uma padaria simples, com cara de estabelecimento regional, provavelmente não era o que chamaria a atenção dos turistas, mas certamente tinha os mesmos clientes todos os dias.

Sai da padaria depois de tomar um suco de laranja e comer um pão de queijo, e também após perguntar para o senhor que era dono da padaria onde ficava o palácio real. Ele me passou a orientação com a maior precisão, clareza e simpatia, certamente achando que eu era um turista querendo conhecer os pontos turísticos. Confesso que fiquei outra vez preocupado em ser reconhecido, mas aparentemente ninguém estava olhando para mim com estranheza.

Consegui chegar a pé, que ficava a uns cinco quarteirões de onde eu estava. Nem foi muito difícil encontrar a rua correta, porque era a única onde começava a brotar guardas vestidos de verde em todo canto e onde era proibido o tráfego de veículos. E foi ainda menos difícil encontrar a casa correta. Não apenas porque era a única com algumas pessoas reunidas em frente, tirando fotos com celulares, mas também porque era enorme. Sério, era um lugar imenso. E, certo, o palácio Aurora, onde eu moro, era bem maior, com cerca de mil e duzentos cômodos, porém também era mais antigo e havia sido construído no auge da estabilização do governo monárquico em Veritas. Mas, admito que o palácio deles não deixava nada a desejar, apesar de ser menor.

Por trás das grades altíssimas do portão, eu podia ver um jardim que se estendia por muitos metros, com arbustos baixos formando padrões bonitos. Mais perto do prédio, havia uma fonte de pedra com uma escultura de Poseidon no centro. O prédio branco se impunha, com uma arquitetura barroca clássica.

Enquanto estava ali embasbacado com a beleza do palácio, vi uma senhora alta e esguia com o cabelo escuro com alguns fios grisalhos preso em um coque severo e usando um vestido preto quase tão sério quanto a expressão em seu rosto. Ela carregava uma sacola grande, tipo de feira, em uma das mãos e duas menores na outra. Ela andava de um jeito quase militar objetivamente em direção ao palácio. Ela passou por mim e por todas as pessoas tirando selfies como se não houvesse ninguém. Ela já estava a alguns metros de mim quando, sem perceber, deixou a carteira cair.

Real; hyunlix.Where stories live. Discover now