todas as estrelas se voltam para nós, volume I || jikook.

CAPÍTULO CINCO: quando suas existências se voltam para mim.

Levantei-me em um sobressalto.

Senti o ar escapar de uma vez, e percebi cada instante de seu retorno como um presente da minha indignação. Apoiei meu braço esquerdo no chão enquanto dirigia meu punho direito ao peito de Jungkook, que se encontrava deitado ao meu lado — estendido sobre a tranquilidade de sua consciência. Aish! Ele se retorceu e gemeu, sem evitar expor aquele sorriso encantador e torturante. No entanto, eu estava despedaçado demais para ceder aos seus artifícios. Deixei minha mão se esparramar por sobre a gola de sua camisa e amassá-la em seguida, sem dó algum.

— Isso não pode ser verdade, Jeon Jungkook! — protestei. — Aish, esse é mesmo o final da história que vai me contar no nosso primeiro encontro?

— É só uma história, Park Jimin — continuou, entre risos. — Fique tranquilo.

— Continue pensando assim e não terá um segundo encontro pra contar a sua história no futuro! — soltei, suspirando em seguida. Larguei sua blusa e me voltei para a frente, como se ignorasse a presença dele ali, embora ela fosse tudo o que eu mais percebesse. — O que houve de fato ao pequeno gato?

— Não tenho essa resposta — declarou, com sua típica tranquilidade, ao se sentar. A cabeça inclinada mais do que o necessário; o olhar buscando pelo meu. — Ninguém tem, na verdade. Além do fato de ser um conto milenar, existem diversas versões pra ele. Alguns dizem que o pequeno gato ganhou asas de presente do anjo híbrido e, então, aprendeu a voar. Outros dizem que ele também se tornou um anjo no reino de Yeshua. Tem aqueles que acreditam que os dois se transformaram em estrelas. A história simplesmente vai se moldando boca a boca e... Muitos pontos sempre são aumentados.

— Aish! — reclamei. — E você não podia ter me contado a versão em que ambos se tornam anjinhos lindos e amorosos juntos em outro plano?! Gostaria de ouvir mais finais felizes.

— Eu te contei a versão que mais gosto. Acho que tudo no mundo reside na indeterminação.

Eu o observei por um instante. No silêncio, admirei como ele ficava mais atraente quando mergulhava em seus pensamentos existenciais profundos. E lutei comigo mesmo para resistir.

— Achei que fosse aluno de astronomia, não filosofia — resmunguei.

Jungkook riu de minha pirraça e me abraçou. O rosto próximo demais para que eu pudesse respirar. O silêncio entre nós crescia e eternizava, assim como a tensão pelo acontecimento iminente. Era incrível como eu tinha certeza absoluta de que aquele seria um momento para sempre. Não sei se pelo pulsar quase explosivo em meu peito, ou pela intensidade da minha respiração, ou pelo silêncio absoluto que ressoava em minha mente e parecia se alinhar à frequência do universo. Naquele instante, tudo o que existia era a união de um espaço-tempo estático ao silencioso turbilhão que me consumia por dentro. Juntos, eles transformavam a aproximação dos lábios de Jungkook num momento interminável. Um momento para sempre.

Entre nossos corpos, e o meu arfar, e o seu olhar, e o céu estrelado, e a torre de astronomia, um quadro era pintado em segundos por minha mente. Como se eu pudesse assistir de longe à estupenda cena que estava vivendo, com o único intuito de garantir ao meu conhecimento que esta vida, este tempo e este beijo seriam únicos. Não é possível existir duas vezes, ainda que nossas outras versões estejam habitando universos paralelos. Sentir os lábios de Jungkook se pressionando com ternura contra os meus pela primeira vez seria um momento único em nossa eternidade perecível. Então, fechei meus olhos, à espera do sabor da singularidade...

E recebi o amargo sabor da solidão.

Em meus sonhos mais vívidos e, até mesmo na realidade mais palpável, eu poderia jurar que a cena não terminaria com meus lábios ressecados em uma espera imperecível. Eu me lembrava da ternura, do cuidado e do carinho de Jungkook. Eu me lembrava da técnica, e da maciez... Aish! O que poderia ter acontecido? O que estava acontecendo? O que mudou?