1 - Busan, codinome do recomeço

207 20 12
                                    

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[Sarang]

A noite de Busan é linda. Perfeitamente linda. Desejei por tanto tempo morar aqui, e, agora que me mudei, não sinto nada. Nem a noite bonita, que costumava admirar pelas imagens salvas no celular tiradas naquela viagem feita há cinco anos.

"Acho que essa é a minha cidade preferia no mundo." Eu disse para ele. "Eu me sinto aqui como não me sinto em lugar nenhum. É estranho. É a primeira vez visitando Busan, não deveria ser assim, né?."

"Talvez esse tenha sido seu lar numa vida passada." Yoongi disse.

"Eu gostaria de morar aqui no futuro. Você não gostaria, Yoonie?"

"Eu gostaria de estar em qualquer lugar com você." Ele falou carinhoso, passando o braço ao redor na minha cintura ao caminharmos. "Mas acho que seria legal a gente morar aqui no futuro. Quem sabe depois que a gente conseguir adotar nossa filha."

Ainda me lembro daquela noite e do sorriso esperançoso que ele me deu ao dizer aquilo. Nós dois andando na areia da praia de Gwangalli naquela noite congelante de janeiro enquanto ele segurava minhas mãos com carinho, parando a cada cinco minutos para soprar o ar quente de seus pulmões em meus dedos congelados. A viagem tinha sido feita de última hora. Estávamos tão chateados por não conseguirmos tirar férias no mesmo mês, e de última hora ele ganhou alguns dias de folga antes de começar a gravar. Não conseguiríamos ir à Escócia como tínhamos planejado, mas a linda Busan estava ali, ao nosso alcance, nos esperando para gravar uma memória tão especial.

A lembrança vem como uma apunhalada no peito. A lâmina entrando até o punhal no meu coração, me fazendo fraquejar. Sinto uma dor quase física, intensa, que me faz tremer da cabeça aos pés. Meus dentes batem um no outro quando a vontade de chorar me inunda. Aquela viagem está tão distante de mim agora. Assim como ele e tudo o que foi nosso. Tudo ficou num outro espaço de tempo.

Tento segurar o choro entalado na garganta, mas a primeira lágrima já escapa. Eu não quero chorar, não suporto mais chorar. Estou com dor de cabeça de ter chorado as três horas que passei dentro do trem vindo para cá. Me sinto seca por dentro, morta, mas continuo transbordando. Fecho os olhos com força e aperto as mãos em punho. Até quando esse sofrimento vai durar? Já fazem dois anos e três meses e não passa. O tempo natural não corresponde ao tempo da minha mente. Me sinto refém de uma prisão eterna dentro de mim mesma.

Como um bote salva-vidas chegando no exato momento em que estou me afogando, o celular toca na mesinha da sala. Saiu de frente da janela, abaixando a cortina e logo enxugando as lágrimas. Empurro algumas caixas da mudança e me sento no sofá. Na tela do celular vejo que é meu irmão.

— Por que demorou tanto a atender? — Seokjin pergunta ríspido do outro lado da ligação.

Não consigo responder. Um suspiro trêmulo me escapa quando as lágrimas começam a ganhar força.

— Sarang? — Meu irmão me chama preocupado. — Eu sabia que tinha alguma coisa de errado, eu senti. — Ele resmunga. — Volte para Seul.

Respiro com um pouco de dificuldade, mas tento recobrar o equilíbrio, se é que ainda tenho algum, para conversar com meu irmão.

— Eu te avisei que era uma péssima ideia ir para Busan, mas você não me ouviu. Nunca me ouve.

Enxugo o rosto e me forço a responde-lo, mesmo que a minha voz pareça perdida dentro de mim.

— Eu não vou voltar para Seul.

— Pelo menos uma vez nessa vida me ouça. Volte para Seul. Eu pago a rescisão do contrato de aluguel para você, mas volte.

HiganbanaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt