3- (re)Encontro

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[Jeongguk]

Desço as escadas do prédio correndo. Olhando a cada quinze segundos para a imagem que a baba eletrônica transmite para o meu celular. Sunhee está dormindo tranquila. Preciso ser rápido, sei que ela acordará daqui trinta minutos. Nessas duas semanas em que estou morando sozinho com minha filha, descobri coisas sobre ela que nem fazia ideia. Ela faz cocô o tempo todo, dorme às dezoito horas e acorda as vinte e duas, chora pra cacete durante a madrugada e dorme a manhã toda. E ela também odeia tomar banho. Acho que isso ela puxou da Soomin, mas ela é uma esfomeada como eu.

Quando chego a rua, quase volto correndo para dentro do prédio. O frio está cruel. Fevereiro em Busan é sempre muito difícil. Parece que o ápice do inverno é agora, mas acho que é só a forma como me sinto por dentro, confundo a vida com meus próprios sentimentos o tempo todo. Talvez eu devesse desistir do meu cigarro e voltar para o apartamento. Posso ficar doente e, se isso acontecer, é capaz de Sunhee ficar também. Fui estúpido ao descer sem vestir um gorro e cachecol, mas eu não vou voltar três lances de escadas. Se eu fumar rápido, não acontecerá nada. Olho em meu relógio de pulso e vejo que já são vinte e uma e trinta e um, Sunhee vai acordar daqui a pouco. E eu preciso de um trago.

Sigo pela calçada, indo para a lateral do prédio. Coloco as mãos nos bolsos. Eu só preciso fumar um cigarro depois de um dia estressante. Foi meu primeiro dia no novo emprego, e me atolaram de tarefas, eu fiquei preocupado com Sunhee o tempo todo, minha cabeça não estava funcionando direito, me perdi em alguns detalhes do trabalho que eram importantes, acho que meu chefe não gostou de mim. Porra, eu vou explodir. Preciso fumar, mas não acho a merda do vape. Procuro nos bolsos da frente e não encontro, nos bolsos detrás também não. Vasculho furioso os bolsos da jaqueta e também não encontro nada. Sinto raiva e frustração. Eu só queria fumar a merda de um cigarro, mas parece que nem isso é possível para mim. 

— Merda! — Esbravejo. — Mas que merda! Eu só queria fumar em paz, porra.

Me agito sobre meus próprios pés. Se eu subir para pegar o vape, corro o risco de acordar Sunhee com o barulho da tranca eletrônica. Se eu ficar aqui, não vou fumar. Em qualquer hipótese já gastei um tempo precioso. Sinto que minha cabeça vai estourar e meu miolos vão se espalhar pela calçada. Me sinto constantemente pressionado e impossibilitado de fazer coisas tão triviais como fumar. Não sei se vou aguentar tudo isso por muito tempo. Tem só duas semanas que estou morando sozinho com minha filha e já estou enlouquecendo.

Olho mais uma vez para a babá eletrônica, minha neném está dormindo. Se eu for até a conveniência na rua detrás consigo comprar um cigarro? Não! Que idiotice, eu não posso ir tão longe com Sunhee no apartamento sozinha, isso seria extremamente irresponsável. Como já estou sendo. Que merda. Eu só queria a porra de um cigarro. Olho ao redor um pouco perdido quanto ao que fazer, e quando estou preparado para me dar por vencido e voltar ao apartamento, escuto uma voz falando comigo.

— Oi.

Sinto um arrepio percorrer minha pele. A voz é feminina suave, aveludada, um pouco baixa e soturna também. Algo dentro de mim se agita ao som dessa voz. Como se eu já a tivesse escutado em algum momento da minha vida.

Me viro para trás e vejo dois olhos da cor de âmbar escuro me encarando com serenidade. Olhos de mestiça. Os olhos mais lindos que eu já vi em toda minha vida. Preciso desenhar esses olhos. E a boca em formato de coração também. Nunca vi lábios tão cheios e contornados, nem mesmo os de Jimin hyung são assim.

Eu estou atônito. Não consigo reagir a ela. Minha mente, antes barulhenta e atribulada, agora se encontra calada. Ela é linda. Tão linda que me deixa sem saber como reagir. Sinto algo familiar dentro de mim crescer.

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⏰ Dernière mise à jour : May 18 ⏰

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