❛ Agnès e Charles conhecem-se desde 2006. Desde esse ano que ele lhe parte o coração, vezes e vezes sem conta.
Destruída e completamente arrasada, em 2019, ela decide reconstruir-se e amar-se a ela mesma, mais do que algum dia o amou a ele.
Em 202...
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Munique – Alemanha, 12 de Abril de 2022
Com a paragem de duas semanas viemos, tal como combinado, assistir à segunda mão dos quartos de final da Champions League, entre o Bayern e o Villareal, a convite de Benjamin Pavard. A equipa alemã entra em desvantagem em campo, depois de terem, surpreendentemente, perdido por 1-0 em Espanha.
Aperto o casaco bem contra o meu corpo, por estar mais frio aqui que no Mónaco, e reviro os olhos com a pressa com que Pierre anda. Chegamos atrasados ao avião porque ele adormeceu, tivemos de recorrer ao avião alugado de Charles, e ele ainda reclama e acha que eu tenho de andar a correr. O francês agarra a minha mão e puxa-me por entre as pessoas do aeroporto. Todas as roupas que temos cabem dentro da mala que ele tem nas costas, visto que passaremos apenas uma noite aqui e o hotel tem tudo aquilo que precisamos em termos de higiene.
— Podes ir mais devagar? Eu não tenho os teus pulmões. — Reclamo com o meu melhor amigo e assim que paramos na praça de táxis, ele foca o olhar no meu e consigo perceber que ele se controla para não rir da minha respiração acelerada. — Agora vou fumar um cigarro e depois vamos para o táxi.
— Vês? É por causa dessa merda que não tens os meus pulmões. — Aponta para a minha máquina de iqos e reviro-lhe os olhos, começando a fumar assim que me é permitido. — A Ãmelia está à nossa espera no nosso hotel e vai connosco para o estádio.
— Quem é essa? — Observo-o a trocar algumas mensagens e sei que não é apenas com a mulher que acabou de referir, mas sim com Kate. — Como ela está? E o bebé?
— É a mulher do Lucas Hernández, como nos atrasamos, o Ben não pôde esperar por nós e deixou com ela os convites. — Assinto com a cabeça à sua resposta e controlo-me para não rir da expressão chocada do senhor que nos dará boleia para o hotel. Ele deve estar entusiasmado por levar um piloto de fórmula 1 até a algum local, mas também receoso que o mesmo fale da sua condução. — Estão ambos bem, ela diz que na próxima consulta deve dar para ver se é menino ou menina, porque é só em Maio.
— Ansioso para saber? — Coloco um braço em torno do seu braço e sorrio docemente quando ele confirma com a cabeça, tendo os olhos brilhantes. — E nomes? Vocês já começaram a falar sobre isso?
— Já, eu já lhe disse quais quero e ela concordou de imediato. — Arqueio uma sobrancelha e ele começa a rir. — Não te vou dizer quais são, mas digamos que têm muito significado para mim, ela percebeu e por isso concordou, até porque também gostou.
Coloco o cigarro terminado dentro do caixote do lixo, por ser iqos e não incendiar e seguimos caminho para o hotel. Apanhamos um pouco de trânsito e, por isso, o taxista aproveitou para meter conversa com o meu melhor amigo e pedir autógrafos para os seus filhos. É claro que eu percebi que ele não é o favorito dos filhos do alemão de meia-idade, mas qualquer um deles não recusaria o autógrafo de um piloto. Agradecemos ao senhor e adentramos no hotel. Um sorriso cresce logo nos meus lábios assim que vejo uma criança ao lado daquela que sei ser a mulher de Hernández. Eu adoro crianças.
