❛ Agnès e Charles conhecem-se desde 2006. Desde esse ano que ele lhe parte o coração, vezes e vezes sem conta.
Destruída e completamente arrasada, em 2019, ela decide reconstruir-se e amar-se a ela mesma, mais do que algum dia o amou a ele.
Em 202...
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Le Castellet – França, 23 de Julho de 2022
Garanti a pole position, o que é fantástico. Não venci em minha casa, no Mónaco, mas tudo o que eu almejo é vencer aqui. Vencer em França é fundamental para o campeonato, para me manter na luta. Se vencer aqui, mantenho as esperanças. Além disso, é a casa de Jules, ou seja, vencer aqui é vencer por ele.
Eu e Agnès ainda não falamos desde o que aconteceu na Áustria. Ela tem-me evitado o máximo que pode, menos quando se trata da sua profissão. E, durante toda a entrevista, senti-a estranha, mas um estranha diferente. Ela não está distante, não está fria, sorri para mim de um jeito verdadeiro e divertido. Porém sinto-a tensa, talvez até tímida e nervosa, algo que nunca aconteceu connosco. Será que ela também sente o mesmo peso na consciência que eu? Por termos traído as pessoas com quem estamos? Como será que ela está com Pavard? Estarão eles bem? Ou distantes como eu e Charlotte?
— Obrigada. — Ela murmura ao desligar o microfone e coloca um pouco de cabelo atrás da orelha. — Hmm, os meus pais chegam amanhã para assistir à corrida, achei que quisesses saber.
— Claro, fico muito feliz que eles venham. — Ela afasta-se quando tento tocar a sua mão e engulo em seco, ao vê-la também desviar o olhar. — Tenho saudades deles, vai ser muito bom revê-los. — A morena apenas confirma com a cabeça e assim que os nossos olhos se voltam a cruzar, sinto a minha barriga contorcer-se. — Tens estado bem? Não falamos há algum tempo.
— Sim, está tudo ótimo. — A luso-francesa mostra-me um pequeno sorriso e analiso a sua linguagem corporal. Ela está realmente tensa. Afasto-me um pouco, para que ela se sinta mais confortável. — E tu? — Afirmo com a cabeça e sorrio na mesma medida que ela. — Tenho de entrevistar o Alonso, depois falamos.
— Foda-se, que susto! — Solto quando bato contra Max, uma vez que ia a caminhar na direção da hospitality da Ferrari e a mexer no telemóvel ao mesmo tempo. — Podias ter saído do caminho.
— Não viesses a mexer no telemóvel. — Reviro os olhos com a resposta dele e arqueio uma sobrancelha ao notar o seu olhar sério e braços cruzados no peito. — O que se passa entre ti e a Agnès?
— Nada, porque haveria de se passar? — Sinto a minha garganta apertar e é como se as coisas começassem a aproximar-se de mim e eu ficasse encurralado. Pergunto-me se ela comentou com o neerlandês o que aconteceu. — Ela entrevistou-me, apenas isso! Tal como fez contigo.
— Charles, eu vi que vocês estavam tensos, até estavam bastante afastados e vocês nunca são assim. — Procuro, com o olhar, alguém conhecido que me possa salvar, mas não encontro ninguém. — Quer dizer, na Áustria estavam estranhos, mas aí havia um motivo óbvio! Foi a merda que lhe disseste no Mónaco, mas agora foi algo diferente, porque havia sorrisinhos e t...
