Nosso futuro. - Filipe Ret

01- Talibã.

Talibã

Carrego a glória e a dor de viver do
meujeito...

RIO DE JANEIRO- Complexo Penitenciário de Gericinó.

Terça-feira. 

Hoje finalmente vou sair desse inferno desse lugar, dois anos trancado aqui e parecia que foi 20. À pior coisa que um homem pode perder é sua liberdade, aqui é aquele famoso ditado, o filho chora e a mãe não vê.

Dentro da cadeia você tem que ter muita cabeça se não você nāo aguenta.
Aqui dentro você passa o pão que o diabo amaçou, pisou e mais um
pouco. Você vê os manos se matando em frente à sua cela, vê os caninhas matando e falando pra família que o cara se suicidou, aqui não é brincadeira não filhão.

Tem que ter cabeça pra caralho pra sair daqui vivo.

Minha liberdade hoje é tudo que eu mais quero. Não vejo a hora de voltar pro morro, ver minha família e pisar no asfalto.

Aqui o bagulho é doido, são poucos que soma, muitos vem pra perto de você de trairagem, querendo o que é teu. Do lado de fora, são vários que te abandona também, quando tu tá bem de vida tem um monte que diz "tamo junto" e aperta tua mão mas depois que tu caí aqui dentro, nem dá atenção, somem.

Sendo que eles esquece que o nosso mundo gira, a pena é longa, mas não perpétua, em breve eu tô na pista de novo e tacando o terror.

-bora logo desgraçado, tem visita pra tu.

Talibã: coé viado, vou sair hoje mermo?- ele me algemou.

-sei não, espero que não pra você ganhar tratamento vip- empurrou
meu corpo pra frente.

Nem falei mais nada, fiquei quieto na
minha pra não dá merda pra mim e
eu ter que ficar aqui. Tô loucāo pra
por a cara na rua, vê minha coroa,
minhas crias e voltar a comandar
minhas favelas.

Meu menor mais novo deve tá
grandão já, quando cai de cana
ele tinha cinco seis meses, e já era
espertão, espero que a diaba da mãe
dele tenha cuidado dele direito se
nao vai ganhar o dela.

To aqui esperando mó cota já irmão,
chega tô nervoso e nada desse
filha da puta do advogado chegar, se bobear passava das 7 da noite pois a luz apagou tem uns minutinhos já. Depois de trinta minutos a porta foi aberta
novamente.

-Bora, teu advogado veio te buscar.

Talibã: cadê ele?- sai andando.

-na secretaria.

O agente me entregou minha bolsa com os pertencentes que eu tava no dia
que fui preso, o dinheiro que tava
na carteira não estava lá, bando de
safado, também nem faço questão,
nesses dois ano trancado aqui Preto e
Dado manteve bem meu morros.

Júlio:Boa noite senhor, ansioso pra ter sua liberdade?- olhei pra
ele e pro pessoal que tava aqui junto.

Talibã: Eai, normal pô.

- Assine aqui por favor- a mulher
me deu um papel pra eu assinar,
antes de assinar eu li tudinho, coé?!
Nós é bandido mas não sou burro
não.

-Pronto, meu cliente já pode ir né?

- Sim, mas daqui a seis meses ele tem
que voltar pra assinar os papéis.