parte 7

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ponto de vista: vivi

O filme foi ótimo. Escolhemos comédia, porque precisávamos dar umas risadas. Fazia tempo que eu não pegava um cinema e pra ser sincera, não me arrependo. Paramos na praça de alimentação pra tomar um milkshake, e assim que compramos, sentamos numa mesa.

— Tá melhor? — Samira perguntou, mexendo o canudo em seu copo.

— Tô, sim. Preciso sair mais de casa. É só trabalho, casa, trabalho, casa... — resmunguei. — Muito cansativo ficar assim.

— Pior que é mesmo. Na faculdade então... — ela pausou pra engolir. — Quase não converso com ninguém, e confesso que é meio chato ficar estudando tanto.

— Precisamos ser mais sociais! — dei quatro batidas na mesa, como num grito de guerra.

— Então depois daqui, é direto pro barzinho! — ela fez o mesmo e nós rimos. — Mas vem cá, você não ficou com dó da Gabi?

— Por que eu teria dó dela? — dei de ombros, sem olhar minha amiga nos olhos.

— Você devia desencanar daquilo e dar uma chance de conhecer ela melhor. Não tem vontade? Lá no fundo do seu coração?

— Lá no fundinho? — repeti, num tom romântico. — Não, não e não.

— Como foi dormir com ela? Brigaram a noite toda? — ela desviou um pouco do assunto.

— Não. A gente só fingiu que não se conhecia.

— Como duas pré-adolescentes da oitava série?

— Não começa à ser sensata, Samira. Pelo amor de Deus. — bufei.

— Ok, parei. Vamo mudar de assunto... — ela levantou as mãos em rendição.

Começamos à conversar sobre uma série que gostamos, e na medida que falávamos o milkshake ia acabando. Só fomos perceber quase uma hora e meia depois. Gargalhamos enquanto caminhávamos pelo estacionamento.

Chegamos num bar que só fomos uma única vez, na mesma semana em que eu cheguei na pensão.

— Eu quero uma caipirinha com muito gelo, tá? — eu pedi ao garçom, já bêbada de antecedência.

— E você? — ele olhou pra Samira.

— Hm, deixa eu ver...Pode ser uma lata de Skol.

— Certeza? — o moço segurou a risada ao ver minha reação.

— Sim, oras. De patricinha eu só tenho a cara. — Samira brincou.

— Eu sou tão diferente das outras garotas... — acompanhei, uma atuação digna de merda.

— Você não vai conseguir entender... — ela fez gestos dramatizando e nós rimos pra caralho.

Bebemos uma porção de bebidas. Variamos bastante, mas eu nem sequer pensei em como voltaríamos pra casa.

— Samira... — eu segurei a mão dela. — Já pensou que a gente pode ser sequestrada e abusada se continuarmos aqui? Porque olha... — sinalizei pro lado. — Aqui tá cheio de velhos barrigudos.

— Eu acho que... — ela se aproximou e falou baixinho. — Acho que você tem razão. Vou ligar pra alguém. Mas quem? — ela fez uma careta, como se não tivesse ninguém conhecido.

— Hm... — tentei manter meus olhos abertos, já estava no meu ápice. — Gabi. A Gabriela! Eu amo a Gabriela! Liga pra ela, liga...! — bati palmas, numa empolgação estranha.

— Eu nem sei se tenho o número dela. Pera aí. — Samira ficou fuçando em seu celular, até que sem querer o deixou cair na mesa. — Ei, celular! Quem disse que era pra você cair?!

— Celular mau! — eu disse.

— Aqui! Acho que encontrei! Gabriela... — ela pronunciou o nome devagar. — Só pode ser ela. Vou ligar. — pôs o aparelho na orelha e gesticulou pra eu esperar. — Gabi? Gabriela? Aqui é a...meu nome, qual meu nome?

— Samira! — eu gritei.

— Aqui é a Samira da pensão, sabe? Aquele lugar que você mora. Então, eu tô aqui com minha amiga Vivi que te ama de paixão e a gente tá com medo... — um silêncio se instalou. — Medo de quê? Dos perigos da rua, sabe? Digamos que a gente bebeu demais e...É, eu sei. Aham. Tá bom. É perto da...perto da onde?

— Ô moço! — chamei o garçom, ele veio num pulo. — Esse bar é perto de quê?

— Bom, tem um shopping aqui do lado. É o único shopping desse bairro.

— Gabi, então! É do lado do shopping, sabe? — Samira disse ao telefone. — Tá bom. Aham. Certo. Beijão, querida!

Ao finalizar a chamada, o garçom saiu de perto e Samira fez sinal positivo com as mãos.

borboletas [gabi cattuzzo]Where stories live. Discover now