parte 16

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ponto de vista: vivi

Ao mesmo tempo que eu goste dessa minha reaproximação com a Gabriela, eu também me sinto culpada. E um pouco burra também, porque o que ela fez foi péssimo. Sei que não devo ficar remoendo o passado e que as pessoas mudam, mas...puta que pariu!

Por anos eu achei que jamais à encontraria de novo, e muito menos que ela teria meu perdão.

Acordei às três da tarde, já que fui dormir quase de manhã, por conta da sessão de manicure. Depois de fazer minhas coisas e trocar de roupa, eu me preparava pra sair do quarto. Olho minhas unhas, agora vermelhas, e lembro de tudo.

— Bom dia. — Gabriela disse toda feliz ao me ver adentrar a cozinha.

Só estamos nós aqui, provavelmente porque fomos as últimas à acordar.

— Bom dia. — eu respondi, de forma bem menos animada.

— Tudo bem? — ela me olhou de canto, enquanto eu evitava encara-la.

— Tudo. — juro que tentei ser simpática, mas foi mais forte que eu.

— ...Eu imaginei que você faria isso. — Gabriela riu de uma maneira que me incomodou.

Ela senta à mesa e enche um copo com suco.

— O quê? — perguntei, bem curiosa.

— Agir assim, como se... — ela procurou o que dizer, e acabou suspirando em decepção.

— Como se o quê, Gabriela? — me apoiei no balcão e ela me fitou, seus olhos azuis invadindo minha mente. — As coisas não são fáceis como você pensa, sabia? Não pense que eu vou esquecer o que você fez do dia pra noite.

— Eu já pedi desculpa.

— É, mas isso não é tão eficaz quanto a gente quer que seja. — levantei às sobrancelhas, querendo escancarar a verdade na cara dela.

— Então vai ser assim? Vamos ficar uma contra a outra o tempo todo?

— Não sei. Mas você devia parar de se fazer de boazinha, pra mim. — falo sem pensar, me arrependi instantaneamente.

— Por que você foi legal comigo ontem, então?!

— Sei lá. Por que você foi?! — questionei, dando ênfase em "você".

— Sabe qual o seu problema, Viviane? Você acha que me conhece, e idealiza uma versão de mim que não existe só pra continuar me tratando mal! — ela levantou e se pôs na minha frente, falou tão séria que me fez inclinar a cabeça pra trás. — Eu tentei te mostrar que me arrependo, só queria que a gente se desse bem...mas se você não quer, tudo certo.

A garota foi em direção à porta.

— Ei! — chamei sua atenção, ela se virou.

— As sobras do almoço tão na geladeira. — ela disse como se fosse por causa daquilo que eu à chamei.

— Valeu. — falei comigo mesa, quando ela já estava longe.

Depois de comer, fui pro quarto e deitei, como uma sedentária. Me senti uma idiota por não aproveitar a viagem, como o resto. Não posso estar mal por conta de uma amizade que nem é tão importante assim. Né?

Após uns minutos de reflexão, levanto rapidamente e visto meu biquíni. Mando uma mensagem pra Samira perguntando se ela tá onde eu imagino, ela responde com uma foto do mar e eu peço sua localização exata.

Quando ela disse que estava nos bancos ao lado do quiosque de açaí mais próximo, eu me preparei pra ir até lá. Atravessei a rua e consegui vê-la de longe, sentada. Ela acenou e eu corri.

— Poxa, a Gabi é tão legal. — Samira comentou depois que eu contei tudo.

— Pior que eu também acho. Infelizmente. — falei, cruzando as pernas.

— Mas eu entendo seus motivos. Tem coisas que levam tempo, mesmo. Só espero que um dia vocês se entendam. — ela terminou seu açaí e jogou o copo numa lixeira ao lado. — Quer tomar alguma coisa?

— Por que? Você vai pagar? — brinco.

— Acho que sim, porque aparentemente a senhora saiu da casa tão às pressas que não trouxe dinheiro.

— Engano seu. — tiro algumas cédulas de dentro da parte de cima do biquíni.

Vou até o quiosque e pergunto se tem água. O vendedor diz que sim, mas com esse calor eu acabo pedindo um açaí bem maior do que o da Samira.

De volta no banco, eu afogo meus traumas nessa calda de leite condensado.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora