Capítulo 2 - Lorenzo

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Pisquei os olhos e a dor insuportável voltou com tudo.

Aparentemente, no meu caso, ficar apagado era uma benção.

Controlei minha respiração, pois nesse momento até aquele simples ato de inspirar e expirar me causava uma dor alucinante, talvez por causa da posição que eu estava, ou dos solavancos que sentia.

Consegui abrir parcialmente meus olhos, senti que meu lado direito estava bastante inchado, com certeza devido ao tratamento carinhoso que recebi ao me pegarem.

Olhei a minha volta e percebi os dois homens, que continuavam jogados ao lado. Devíamos continuar em um carro, talvez fosse uma van, ou um SUV, quem sabe.

Estávamos com os braços e as pernas amarrados, nossas bocas com uma fita possivelmente para não gritarmos, como se fossemos donzelas em perigo...

Porra eu queria sim gritar, gritar muito. De raiva, de ódio, de dor, de saudade, de medo... eu estava nas mãos daquele filho da puta novamente e meu ódio por ele só não era maior, do que meu ódio por mim, naquele momento. Eu tinha me deixado pegar.

Eu teria conseguido embarcar, o avião estava quase saindo, mas tive medo deles me seguirem para a Itália, e me ligarem a Francesco. Então fiz o que eu sabia fazer, afinal eu era a porra do cordeiro, fui para outra fila de check-in, me enrolei com eles por lá e me deixei prender, eles poderiam dar uma parada ou me matar no avião, mas do aeroporto seria bem difícil escapar.

Eu fui o cordeiro para o sacrifício, sim. Mas claro que, não sem antes promover um belo estrago e tentar fugir verdadeiramente, por muitas vezes. Nessas tentativas me livrei de qualquer coisa que pudesse me ligar a alguém. Passagens, documentos, celular, balas... qualquer coisa que desse alguma pista de onde eu era, de onde vinha ou para onde ia. Qualquer coisa que pudesse me ligar, a qualquer um.

Se eu sabia algo sobre a morte, é que ela era uma solitária.

Ninguém morria com ninguém. Poderia morrer no mesmo momento, mas cada morte era única e solitária.

Soa mórbido eu sei, mas era o que era, pronto.

Se eu tinha medo de morrer, claro que sim. Quem não tinha?

Mas, eu vinha me preparando para a morte já tinha algum tempo. Desde o momento que ouvi a voz de Luna, chorando desesperada no telefone, pela vida sua vida ao telefone.

No momento em que senti a arma na minha cabeça, no momento em que vi, a vida da minha mãe se esvaindo do seu corpo, no momento em que vi Luna escolhendo entre meu pai e meu irmão, na certeza que seu olhar carregava... no momento em que vi a mistura de medo, alívio e dor nos olhos de Ethan, nos segundos em que meu pai olhou para Luna, dizendo a ela com o olhar, que ela fizera a escolha certa... nesses momentos, eu entendi claramente o significado da tão famosa frase: "para morrer basta estar vivo".

E nada na minha vida, até aquele dia, havia sido mais claro e mais real, do que aquele momento.

Eu sabia exatamente o que deveria fazer.

Aquele momento foi meu divisor de águas, deixei de ser um "bon vivant", que vivia para curtir festas, acordar tarde, virar a madrugada na rua e pegar mulherada geral, para ser um protetor. Ainda que, não renunciasse a uma boa vida e a companhia feminina.

Eu não sabia dizer as palavras certas, Ethan apesar de falar pouco, tinha esse talento.

Também não tinha habilidades para ficar demonstrando meus sentimentos, essa habilidade era de Luna, que conseguia dizer tudo num abraço.

Mulheres Poderosas III - PietraWhere stories live. Discover now