CAPÍTULO I - AS OREIADIS, perguntaram.

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Por que você chora?

De acordo com Freud, existem dois tipos de se apaixonar.

O primeiro, o mais comum e predominante, é aquele em que o objeto amado é sobrevalorizado e idealizado. É basicamente aquele amor dos poetas românticos, aquele pelo qual - para mim - eu que te amo vale menos do que é amado por mim. E, portanto, desenvolve-se uma relação de dependência e inferioridade.

O segundo, se apaixonar de forma narcísica, é aquele em que o sujeito amoroso ama o objeto pelo que o faz sentir. Eu não te amo porque você é linda, eu te amo porque você me faz sentir bonita.

Harry Styles é um narcisista, apaixonado e na vida em geral.

Narcisismo: adoração não natural ou patológica da pessoa.

Em essência, o querido, jovem e rico Styles não reconhece nenhum Deus além de si mesmo.

Ele ama as pessoas apenas pela maneira como elas o fazem sentir.

Lindo.

Etéreo.

Intocável.

Isso poderia ser um problema, se não fosse realmente, é o que o torna tão único.

Único, é isso que ele quer ser.

É o que sempre quis ser.

Único.

Elevar-se tão alto em relação aos outros permite que ele seja assim e se mostre, se ame e - paradoxalmente - se venda.

E hoje, com apenas vinte e três, ele se vê contemplando do alto do pedestal divino em que estava, a multidão furiosa e agitada daqueles que se amontoam sob ele para admirá-lo e venerá-lo.

Ele vê todos eles lá: formigas minúsculas se pisoteando para alcançar o topo de seu pedestal e até mesmo conseguindo tocá-lo.

Apenas para dizer:

Eu, um ninguém, toquei em Harry Styles.

E ele as ama, suas formiguinhas. Ele ama, sem condições de medida, cada um deles. E, então, por gratidão e um gesto de amor, de vez em quando ele se ajoelha e estende a mão para tocar um deles com a ponta dos dedos.

É o que faz: toca-os, leve e efêmero, deixando-os com a expectativa de algo maior.

Algo que ele nunca deu e nunca dará.

Ele não quer arriscar ainda.

Não mais.

Harry Styles olha para você, se deixa admirar, tocar, elogiar, te toca, sorri para você, desintegra sua alma, mas. Não é dado.

Harry Styles nunca se entrega.

Mas dá um detalhe. Um sorriso. Um canto de lábios curvados. Um verde imperturbável. Uma piscar de olhos na multidão.

Harry Styles te dá uma sensação.

Uma pequena parte da totalidade que forma sua pessoa.

Mas nem tudo é dado.

Nunca.

E este é o seu ponto forte: ser indescritível.

Harry Styles é hora de uma foda. De uma foto. De uma caminhada na passarela. De uma saudação na rua.

São lábios vermelhos, olhos verdes e mãos fortes. Pernas longas e caminhada perfeita.

Harry Styles é, em essência, aquela rajada de vento forte que arruína sua vida.

I thought I was Narcissus but I am the lake Where stories live. Discover now