Capítulo 17(De Volta aos Estudos)

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Os primeiros raios de sol da manhã entravam pela escotilha do tombadilho e faziam um efeito de foco luminoso no ambiente de penumbra do alojamento dos marujos. Muitos ainda dormiam a àquela hora, e Joshua era um desses que ainda estava totalmente entregue ao mundo onírico.
Tinha um sorriso bobo e suas maçãs do rosto estavam coradas.
No sonho que se desenrolava, ele caminhava em direção a um coreto com telhado de folhas entrelaçadas no meio de um grande jardim. Uma moça o aguardava de costas para a entrada da estrutura. Ela trajava um lindo vestido de ceda branco. Seus cabelos, agora negros como ébano, estavam presos em um intricado penteado atrás da cabeça. Ela o percebeu se aproximando e começou a girar seu corpo para recebê-lo. Logo o rosto dela iria surgir em sua mente.
Contudo, quando seus pés tocaram o primeiro degrau da escadinha, o mundo a sua volta tremeu. O coreto, o jardim e o rosto da sua princesa prometida desvaneceram em sua mente. O mundo inteiro parecia estar rodopiando ao contrário e uma forte batida contra as tábuas do piso do convés inferior foi sentida com dor e espanto.
Completamente atordoado Joshua olhou a sua volta e percebeu que Andorius o havia jogado da rede ao chão.
─ Por que diabos fez isso? ─ o menino parecia indignado. Talvez até frustrado.
─ Eu o chamei três vezes... ─ respondeu o assassino em tom zombeteiro ─ Mas parece que o sonho estava mais agradável.
─ De fato estava! ─ respondeu Joshua visivelmente chateado ─ Estava sonhando com a minha princ... ─ ele se refreou, pois se lembrou que nem mesmo sabia o nome de sua noiva. E caso fosse questionado, ficaria constrangido com o fato de ter tão poucas informações. Não tivera oportunidade para entrar no assunto com seu pai; e sua mãe sempre evitava falar sobre isso dizendo que ele deveria se concentrar nos estudos e deixar essas coisas para quando ele tivesse idade suficiente.
─ Com o quê?
─ Com minhas tarefas de hoje!
─ Bom, creio que suas "tarefas" terão que ser passadas para outro marujo. Seu pai conversou comigo ontem depois do ataque... ─ ele fez uma pausa observando o menino se levantar ─ Ao que parece você precisa aprender a esquivar sozinho das bolas de canhão.
Toda a confusão do ataque voltaram à mente de Joshua. Os tiros, o sangue e as tripas de homens mortos pelo convés. O cheiro de pólvora ainda estava impregnado no navio.
─ Vamos! ─ disse Andorius seguindo pela porta de acesso a partes mais baixas do interceptor.
Joshua rapidamente recolheu sua rede dos ganchos e seguiu atrás de Andorius. Reparou que o homem tinha um estojo de couro endurecido pendurado em suas costas.
Desceram até uma sala perto do paiol de pólvora, logo abaixo das três cobertas.
O lugar parecia ter sido esvaziado às pressas, e algumas coisas que não puderam ser retiradas, como alguns barris de arroz e aveia, foram movidos para os cantos da sala.
─ Já segurou uma espada alguma vez na sua curta vida, menino?
─ Claro que sim! ─ respondeu Joshua de imediato.
─ Não me refiro a gravetos pesados! ─ disse o assassino retirando algo comprido do estojo e esticando uma cutlass de verdade para Joshua.
O menino ficou parado observando o punho da espada diante de seu rosto. Só depois de alguns segundos que ele entendeu de fato que aquela arma estava sendo destinada a ele.
Uma onda de calor explodiu em seu peito e um sorriso de sincera felicidade surgiu em seu rosto. Sua mãe desaprovaria veementemente aquilo, mas infelizmente ela não podia opinar sobre o novo rumo que a vida de seu garotinho estava tomando.
Joshua esticou sua mão para alcançar o punho, mas foi interrompido por Andorius.
─ Uma vez que aceite uma espada em sua vida, ela o seguirá até o fim de seus dias. Não importa o tempo que ela leve em sua bainha, uma hora ela irá reclamar o sangue de seus inimigos. O que fizer com ela definirá como todos a sua volta o verão daqui em diante, então pense bem se realmente deve aceitar o peso do aço ou o peso de uma pena de escritório...
Joshua olhou para o rosto de Andorius, e algo o fez pensar que aquilo talvez fosse algum tipo de rito de passagem. O marujo tinha uma expressão séria, quase solene, enquanto dizia aquelas palavras para ele.
─ Eu compreendo o peso... ─ disse Joshua tentando parecer seguro; esticando mais uma vez sua mão para o punho da espada.
─ Não... Você ainda não compreende o peso do aço. Mas logo irá entender. ─ respondeu soltando a arma nas mãos de Joshua.
O menino puxou a lâmina para fora da bainha, observando quase com devoção o tremeluzir das lamparinas sendo refletidas pelo aço polido.
Andorius observou como o menino segurava a espada e como ele conseguia manter o peso da arma sem seu braço oscilar ou tremer.
"Parece que esse tal Edwinn forçou bastante essa criança." ─ pensou Andorius.
─ Me mostre o que sabe fazer, menino!
Joshua fez alguns movimentos básicos de cortadas, estocadas e aparadas com certa facilidade. Coisas que eram ensinadas na escola de guerra, assim que um jovem começava a aprender a rotina de um guerreiro.
Com aquela breve demonstração Andorius percebeu que o menino tinha real talento para as armas, mas seu equilíbrio estava comprometido.
─ Está bem! Já é o suficiente. ─ disse o assassino fazendo uma cara de desaprovação. ─ Tem muito que aprender... Mas, não se preocupe! Irei fazer de você o maior espadachim de Thalema!
Os olhos de Joshua brilharam com aquela afirmação.
Ambos passaram o dia brandindo as espadas e decorando passadas de perna, bem como a melhor forma de manter o ponto de equilíbrio. Era surpreendente como o menino pegava o jeito das coisas. Bastava Andorius mostrar uma única vez e logo em seguida, depois de algumas poucas tentativas, Joshua já estava fazendo os movimentos ensinados quase com perfeição.

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