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  Ret💨

     2016, Rocinha Rj 13:28

  A comida tava daquele jeito, pensa em um almoço bom!.

  Fiquei trocando idéia o tempo todo com a Maria, enquanto a Estrela só olhava de uma forma extremamente estranha pra mim, e as vezes respondia uma coisa ou outra que sua mãe perguntava.

   Bom, quando eu dei o papo pra Anna de que eu quero conversar com ela, eu fui sincero.

  Tô ligado que ela sente só parada ruim por mim, e dou toda razão sacou?.
   Só que a parada é que ela romantizou na mente dela, que facilmente eu sairia do crime e tudo mais.

  Na época nem afim disso eu tava, além de que mesmo se eu estivesse a única forma de eu sair é morto!.

   Tô ciente de que sei coisa pra caralho, fiz coisa pra caralho e conheço a cara de muito bandido.

  Então não é só uma cadeia que iria mudar  isso...

   Maria- Eu vou ir ali na casa da minha amiga Marta e já volto, tenho que falar umas coisas com ela. - Concordo com a cabeça e ela se levanta se despedindo da Anna, que parece desesperada porque vai ficar sozinha comigo.

  Maria sai de casa e eu olha pra Estrela esperando alguma atitude, iniciar um lero ou sei lá, mas ao contrário disso ela se levanta pra sair da cozinha.

  Em um ato um tanto involuntário pego o pulso dela na intenção de trazer a atenção dela pra mim.

  - Troca idéia comigo por favor.

  Ela nega com a cabeça, mais pra si mesma do que pra mim e então se senta.

   Anna- Agora, depois de tanto tempo você quer conversar? - Pergunta consideravelmente indignada.

- Tu nunca me deu a oportunidade - Falo frustrado.

Anna- Oportunidade? É sério isso cara - Diz enfurecida - Naquele dia se você não se lembra, eu te dei duas opções, e qual foi a que você escolheu?.

  Nego com a cabeça, só queria que pelo menos uma vez ela entendesse.

  - Tu me fez escolher entre o meu morro e a minha mulher, tu tem noção disso?.

  Anna - Tenho, a se tenho - Diz dando uma risada sarcástica - Eu amava você Ret, mas do que isso valeu em? .

  "Eu amava você" isso sim dói, falar da gente como se tivesse sido um erro.

  - E tu acha que eu não te amava? - Suspiro com raiva - Eu era louco por tu, só sabia pensar e falar da Anna Estrela, batia no peito pra dizer que era minha mulher...

  Anna- Então por que escolheu o morro? Acha uma explicação muito foda e me dá - Fala me enteronpemdo.

  - Por que eu tava deslumbrado, na época as coisas tava começando a "girar" pra mim, dinheiro, puta, poder, crime, droga, me sentia o dono do mundo!.

Anna-  Então, foi a sua escolha - Fala abaixando o olhar - Faz seis anos não tem o porquê voltar nisso.

  -  "Nisso" - Faço aspas com o dedo - É a nossa história, mas pelo visto tu ta pouco se fudendo.

  Anna- Pouco me fudendo? Eu não sou mais a sua menina que era um amor e tudo que queria era te ver bem.

  Anna- Por isso, eu não vou deixar você abrir uma ferida que me machucou ao ponto de eu pensar que preferia morrer do que sentir - Uma lágrima desce no seu rosto e ela limpa rápido - Então não vem ser egoísta e simular uma situação onde você é a vítima!.

  - Não importa essa porra de vítima caralho, eu só quero que tu olhe pra mim e me diga que me perdoa - Falo chorando, porque dói, e dói pra caralho ter a pessoa que tu mais amou no mundo longe de tu, odiando uma versão sua que estragou a porra toda.

Anna- Você não tem direto - Ela nega com a cabeça, lágrimas começam a descer, mas ela seca, tentando ao máximo negar tudo isso - Não tem o direito de me fazer se sentir assim!.

   Ambos choram, putos, tristes, querendo mudar o final de uma história que não era pra ter fim!.

  - Eu não consigo mais carregar isso - Falo passando a mão nas incansáveis lágrimas.

Anna - Por favor vai embora - Tento me aproximar mas ela se levanta da cadeira recuando - A minha mãe tá doente Ret, ela é uma mãe pra você também, e eu não quero que ela veja isso!.

  Ela fala convicta e eu concordo com a cabeça, a mesma desvia o olhar de mim, e eu vou embora.

  E exatamente como eu pensava, ela me odeia!.

   _________

  Anna 💋
 
     O barulho da porta batendo me faz desabar em lágrimas, sentindo uma dor que achei que não me pertencia mais.

   Sabe quando você tem uma queimadura, uma ferida doída, e de alguma forma alguém mexe nela?.

  É essa a sensação que está me consumindo agora.

   Maria- Gente cheguei - Ouço a voz da minha mãe e seco minhas lágrimas rápido.

  Maria- Cadê o Ret? - Ela fala e eu me viro olhando pra ela e dando um sorriso falso.

  - Ele precisou ir embora.

  Maria- E por que tu tá com essa cara de choro mocinha? - Pergunta e eu nego com a cabeça.

  - Tô com a rinite atacada mamãe - Falo me levantando e saindo da cozinha, e ela grita.

  Maria - Não mente pra mim Anna Estrela- Diz e já vem atrás de mim, assim que eu entro no meu quarto ela começa.

  Maria-  Oque realmente aconteceu? - Pegunta cruzando os braços e eu me sento na cama respirando fundo.

  - A gente discutiu, ele quiz tocar no assunto do passado.

  Maria- E te conhecendo como a palma da minha mão,  tu surtou completamente - Fala convicta.

  - É claro que surtei, ele veio pedir o meu perdão, como se toda a dor não fosse nada- Novamente enfurecida eu falo.

  Maria- E eu te entendo completamente filha, tu sentia tanto por ele que acabou se tornando uma dependência, e o maior caô disso tudo é que na sua mente ele jamais iria te decepcionar.

Maria - Mas as coisas não são assim meu amor, as pessoas falham constantemente, as vezes porque não entende direito a complexidade de algo, a maneira de agir em uma situação, falta maturidade e discernimento. E foi exatamente isso que aconteceu com o Filipe, ele não tinha direito nenhum de te magoar, mas tu também não tinha o direito de impor pra ele condições extremas como as que tu impôs!.

   Mais uma vez emocionada, coloco a mão nos meus cabelos pensando em tudo que aconteceu.

  Maria- Ambos erraram filha, se machucaram, mas eu sempre te ensinei que não somos ninguém pra decidir se uma pessoa merece ou não retaliação, o perdão é aliviante, e tenha uma certeza, se tu não ama mais o Ret só que agora o odeia, tu querendo ou não ainda se importa muito com ele e no fundo o ama da mesma forma! Só deixamos de amar uma determinada pessoa, quando se tornamos indiferentes a ela, o único sentimento que realmente é oposto ao amor é esse.

   Soluço em lágrimas, e ela me abraça apertado.

   Eu sei que ainda sinto algo por ele, essa é a verdade nua e crua, e o problema evidente.
    Mas me sinto idiota por isso, afinal de contas ele me causar uma dor extrema e ainda sim não consigo simplesmente ignorar sua presença, voz, cheiro, olhar, tudo nele ainda leva a sensações que uma vez eu senti.

   - Eu não quero odiar ele mãe, mas é a única forma que eu encontro de seguir em frente!.

  Maria - Tu está completamente errada sobre isso querida, a única forma de seguir em frente é perdoando do fundo do coração!.

   Perdoar, uma tarefa que exige mais do que as pessoas pensam...

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Espero que tenham gostado 🤍

Nosso Recomeço Where stories live. Discover now