Cap. 17: Porque nem tudo são lágrimas

78 8 6
                                    

"Você é aquele tipo de pessoa que divide a vida de alguém em antes e depois. Aquele tipo de pessoa que eu achei que só existia em livros de romance.
Antes de você, minha vida era cercada de inseguranças, angústias e aquele medo de nunca encontrar um amor que realmente valesse a pena.
Depois de tantas decepções, meu coração se fechou e minhas esperanças se esvairam...
Até que você como uma brisa de verão soprou de encontro ao meu coração.
Foram anos te observando de longe, uma amiga, alguém que eu admirava por sua força e beleza. Mas que eu jamais imaginei, despertaria em mim, sentimento tão profundo e sincero, como o amor.
Desde a primeira conversa, os sorrisos apareceram de maneira fácil e sincera. Tudo parecia tão simples, como se fôssemos duas pessoas destinadas a estar juntas. Meu coração não apenas se preencheu com o seu afeto e cuidado: ele transbordou. E todos aqueles sentimentos que eu tanto desejei, mas que pensei jamais teria, tomaram conta de mim por completo, e já é tarde demais para negar, é amor que eu sinto por você. Pois é, a amizade virou amor. Você foi a pessoa que apareceu de repente, sem nenhuma pretensão e, mesmo assim, dividiu minha vida em antes e depois de você.
E sabe qual é a melhor parte?
Meu eu depois de você, é muito mais feliz, muito mais esperançoso e mais gentil. Sou grato por você ter aparecido em minha vida e mais grato ainda eu serei se você quiser permanecer nela.
De seu eterno Doutor Rafael!"

Doutor Rafael lia mais uma vez sua carta, hoje seria o dia decisivo de sua vida. A muito que já sentia algo especial em relação a Loreta, mas o medo da rejeição o fazia recuar, mesmo quando sentia ver nela o mesmo sentimento que ele. Mas ao ver alguns dias atrás o pedido de casamento daquele jovem Bernardo, que não se preocupou com as barreiras e apenas lutou por seu amor, ele sentira que precisava também tomar uma atitude.
Como não tinha ideia do que fazer, procurou sua melhor conselheira, sua amiga Pérola e depois de uma longa conversa sobre todos os acontecimentos tanto da parte dele como da dela, antes de ir embora ela sorriu e disse: "Às vezes escrever ajuda meu amigo!" Ele ainda levara um tempo tentando entender o que ela queria dizer com aquela frase, até que a ficha caiu e ele pegando papel e caneta se pôs a escrever.

Hoje era a festa de noivado de Joyce e Bernardo e o médico escolheu sua melhor roupa para a ocasião. Afinal além de comemorar com os jovens aquele noivado, ele também entregaria sua carta a Loreta e declararia suas intenções. Tomado de coragem e com um belíssimo ramalhete de flores, ele se encaminhou para a casa de Loreta.
Tudo estava perfeitamente decorado, luzes iluminavam o caminho até a casa, a vitrola que ele havia trazido de seu consultório estava a um canto da sala e tocava sambinhas animados, os móveis e poltronas haviam sido encostados deixando um enorme espaço para dançar no meio da sala, a mesa posta estava repleta dos mais variados quitutes e bebidas, flores do campo completavam a decoração, tudo simples mais de enorme bom gosto. Doutor Rafael entrou e olhou a sua volta, viu Joyce e Bernardo próximos a entrada, os cumprimentou e entregou a Joyce uma caixinha com um lindo broche que segundo ele fora de sua mãe e que pelo carinho que tinha por Joyce queria que ficasse com ela. A jovem agradeceu comovida e logo colocou o broche e correu para mostrar as amigas.
Ele sorria vendo a alegria da moça, abraçou Bernardo mais uma vez os parabenizando e depois seguiu até a mesa para pegar uma bebida. Foi quando ele a viu, tão linda quanto no dia em que dançaram ali mesmo naquela sala, vestia um lindo vestido branco com flores pretas e mangas curtas, justo até a cintura, e com um leve rodeado até os joelhos. Os cabelos soltos bastante cacheados pareciam hoje ter um vermelho ainda mais vivo e emolduravam com perfeição seu rosto delicado. Uma leve maquiagem a deixava ainda mais linda. O Doutor mal pode conter um suspiro de emoção quando a viu entrando. Ficou ali parado feito uma estátua fitando-a boquiaberto com tamanha beleza. Ela cumprimentou alguns convidados, e abraçou Joyce que ao vê-la correu para mostrar o seu broche, com um sorriso angelical nos lábios ela enfim se aproximou dele que ainda estava parado próximo a mesa de bebidas.
- Boa noite Doutor! Ela falou olhando diretamente nos seus olhos como se quisesse ver seus pensamentos.
- Boa noite Dona Loreta! Ele sorriu galante lhe entregando o ramalhete de flores e pegando sua mão para depositar um beijo.
- São lindas Rafael, não precisava se incomodar.
- Não é incômodo algum presentear uma dama tão bela quanto você Loreta.
- Que isso Rafael, assim eu vou ficar convencida demais! Ela brincou, e o sorriso que deu acelerou os batimentos cardíacos do médico, que julgava estar prestes a ter um ataque cardíaco.
Loreta viu que junto ao ramalhete de flores havia um pequeno envelope, automaticamente o pegou e tencionava abri-lo, quando Doutor Rafael segurou suas mãos a impedindo. E quase como num sussurro para que só ela pudesse ouvir, disse: - Isso é apenas para você, leia quando estiver a sós, minha cara!
Ela sorriu de lado intrigada com o conteúdo daquele envelope. Mas logo seus pensamentos tomaram outra direção pois sua irmã Inácia havia acabado de chegar e vinha cumprimenta-la.
A festa seguia animada, os jovens dançavam pela sala, já os mais velhos observavam tudo encantados pela alegria da juventude.
Mas Loreta estava ainda intrigada, o envelope junto ao ramalhete de flores não saia de sua cabeça, queria só ter um único minuto pra ir ao seu quarto e abri-lo. Porém os convidados ainda estavam chegando e ela como anfitriã não poderia se ausentar assim sem mais nem menos, mesmo que por alguns míseros minutos.
Pérola e Max haviam acabado de chegar, era a primeira vez que eles saiam em público após todo o ocorrido e também após assumirem seu amor um pelo outro. Dava gosto de ver o sorriso no rosto de ambos, de mãos dadas, trocando olhares. Loreta ficou imensamente feliz por aqueles dois que tanto sofreram para ficar juntos. Doutor Rafael também olhava a amiga e seu compadre com ternura, ele que conhecia ainda mais a fundo a história daqueles dois, se alegrava em vê-los tão felizes.
Após perceber que todos já haviam chegado, Loreta não se aguentando mais de curiosidade disfarçadamente correu até seu quarto onde deixara o ramo de flores e o envelope. Com pressa pegou-o e abriu, vendo tratar-se de uma carta pôs-se a ler, lágrimas inundaram seus olhos de emoção, colocou a mão no peito como se quisesse fazer o coração voltar a bater num ritmo normal tendo em vista que agora ele parecia bater sem compasso algum. Ela releu umas duas vezes para ter certeza do pedido implícito naquela carta, e sorriu sabendo exatamente a resposta que iria dar, pois a muito que ela também já sentia algo pelo médico mas lhe faltava coragem para dizer.
Na sala a festa seguia animada, Doutor Rafael conversava com Pérola, esta andava inquieta com sensações ruins e sonhos com a irmã Marta, pousava sobre ela uma culpa pela morte da irmã e o médico a tentava dissuadir daquele pensamento pois em nada ela teve a ver com a morte da irmã que sofrera uma morte natural por um problema cardíaco.
Loreta retornou a sala e se achegou a eles, ouvindo parte da conversa também repreendeu Pérola por estar procurando motivos onde não havia para minar sua felicidade, vá ser feliz ela disse apontando com a cabeça para Max que estava num outro canto conversando com Inácia e Zequinha. Pérola entendendo o que os amigos queriam dizer, se encaminhou até seu amado, mas antes virou-se para os dois dizendo: - Se o conselho é válido, talvez esteja na hora de vocês dois também ouvirem seus próprios conselhos! E saiu sorrindo ao ver os olhares que seus dois amigos trocaram ao ouvi-la.
Logo Pérola e Max estavam rodando pelo salão ao som de uma bela valsa e o médico se enchendo de coragem estendeu a mão chamando sua amada também para dançar.
- Dançar com você? Ela ficou surpresa. - Ah não Rafael, imagina o que essas pessoas todas iam pensar!? Mesmo que no fundo ela quisesse muito dançar com ele outra vez, agora no meio de tantas pessoas ela se sentia insegura.
- Pensem o que quiserem as pessoas! Rebateu o médico. - Para mim será uma honra se pensarem que eu estou a namorar uma mulher linda como você! Os olhos do médico brilharam ao dizer aquelas palavras.
Loreta não deixou de perceber o brilho dos olhos do Doutor.
- Bom, ela começou meio sem jeito. - Diante de um elogio como esse, eu aceito dançar com você.
E assim como Max e Pérola, eles também passaram a girar pelo salão embalados por aquela valsa.
Os olhos não se desgrudavam, era como se um quisesse enxergar no outro as respostas para tantas perguntas que o coração estava a fazer. Giravam sem se importar com o restante do mundo, de repente como naquele dia em que dançaram pela primeira vez, se fecharam numa bolha, uma bolha só deles, em que o restante do mundo não existia. Foi quando aquela mesma canção tocou novamente, Doutor Rafael havia comprado um disco com aquela canção e por vezes em seu consultório entre uma consulta e outra ele ouvia e se lembrava daquele momento que vivera com ela. Ela imediatamente se lembrou da canção, pois repetidas vezes também cantarolou aquela melodia se recordando daquele momento tão especial que tivera com ele. E assim ouvindo aquela canção que muito queria dizer aos dois, eles rodaram pelo salão fechados em sua bolha, seguros e livres para expressar seus sentimentos.

Pérola - A magia do amor... EM REVISÃO PARA CORREÇÃO ORTOGRÁFICA E INCOERÊNCIASWhere stories live. Discover now