03

252 15 0
                                    

Parte 2

— Me sentia egoísta demais com você.

Por alguns instantes ela examinou a mesa, depois a janela novamente e por fim os enroladinhos. Grupos de pessoas se juntavam perto da janela onde estávamos para voltar ao topo da colina e descer deslizando pelo gelo.

Zendaya me olhou por cima do ombro, talvez esperando que eu me pronuncie.

— Éramos novos e tínhamos muito ciúmes, não dava para lidar com o fato de que queriam ver você a beijando.

Quero dizer que pediam por isso porque pensavam que Nadia e eu tínhamos um romance mantido em segredo por trás da patinação artística, quero dizer que pediam por isso porque ela não queria ser vista em meus braços ou aos beijos comigo quando ficávamos na cachoeira; era longe, mas ainda assim Zendaya só manteve-se perto de mim quando sabia que não estava sendo perseguida por uma câmera.

Se me amava tanto, por que tinha tanto medo de ser vista comigo?

Afasto o pensamento por começar a achar egocêntrico e individualista. Éramos dois e não um, se ela não estava bem com isso é porque tinha seus motivos.

— Não foi medo. Tenho minha vida longe disso, sempre tive e gostaria de continuar tendo. — Disse baixo e leve como se estivesse lendo meus pensamentos. — Percebo a confusão que é ter fama o suficiente para acordar com gente aleatória na porta da sua casa.

Lembro dessa notícia e li em jornais online na época que precisei ficar bons dias sem sair de casa por terem descoberto o endereço dos meus pais. Anastasia prometeu que faria eu e Nadia ser um dos melhores casais da patinação, só não sabíamos que ia sair do controle tão rápido.

— Sinto muito. — Sinto mesmo, tanto que a fome passou para poder ouvir dela todos os sentimentos guardados por anos.

— Tudo bem, eu estou bem, nós estamos bem.

Meus pés doem quando cruzo as pernas, Z nota pois descansa a mão esquerda na minha coxa antes de dar leves apertos ficando mais próxima.

— Eu preparo a bacia com camomila à noite.

— Não precisa, tenho esparadrapo em casa, dou um jeito.

— Deixa eu cuidar de você, darling.

Respiro fundo. Fundo mesmo.

Não usávamos esta frase inocentemente, era nossa frase para se referir a sexo na frente dos adultos. Nunca desconfiaram, sabiam que eu sempre estava com machucados e amigos próximos tinham consciência da nossa relação. É simples e bonito, tão bonito que nos elogiavam e me elogiavam por tê-la me ajudando e apoiando.

Deus. Parece que estou queimando por dentro.

Ela molha os lábios, sorri quando percebe que olho para eles.

Faço o mesmo.

Zendaya se recosta no estofado da cadeira, puxa o moletom que uso por baixo do sobretudo e deixa sua pergunta sussurrada no meu ouvido.

— Posso experimentar te beijar como fazíamos no closet?

Sinto o ar saindo pela boca, beijo sua bochecha demoradamente antes de voltar ao meu espaço.

— Isso é um sim?

— Fica no meu apartamento hoje.

— Você não me mostrou onde é.

— Posso te buscar às sete.

— Vai me colocar para dormir em um quarto separado?

Franzo a testa. — Pensei que gostaria de dormir na mesma cama que eu.

— Gostaria mesmo. — Ela batuca os dedos na mesa, está ficando com as bochechas rosadas. Seguro sua mão.

— Não precisa ficar com vergonha.

— Não estou.

— Está ficando.

— É saudades de você.

— Você tinha um ar de durona quando voltou, vejo que eu estava enganado.

— Pra você eu não preciso ser assim.

— Sou privilegiado?

— Mais do que imagina.

Meu celular vibra na mesa. Zendaya pega por estar ao seu lado junto com suas coisas.

— Nadia está perguntando se você ainda quer terminar de treinar.

— Amanhã — Dou um gole no meu chocolate. Já está frio.

Z digita Amanhã te vejo de manhã e desliga o celular. Uma evolução, não pedimos para olhar o celular um do outro esses dias. 

Imagines tomdayaOnde histórias criam vida. Descubra agora