Capítulo 7

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Paola saiu da cama logo que o sol refletiu pelas brechas da enorme cortina. Não era de costume levantar tão cedo, mas dormira pouco na noite passada. Custou pegar no sono, ficou recordando o jantar e de seus momentos deleitáveis ao lado do Sr. Hallen. Admirou-o todo o tempo, os seus gestos e atitudes, como um cavaleiro com qualidades atribuídas de forma natural. Ele não era um homem que desejava flertar e conquistar as mulheres que se deparasse, o achou diferente de todos os homens que já conheceu e aos quais teve uma breve conversa, a maioria eram audaciosos e gostavam de estar no comando para dizerem que estavam apaixonados.

Apenas para tirar algum proveito das mulheres inocentes ou carentes. Sentiu-se feliz por estar ali, na casa de seu tio e ter tido a oportunidade de ter conhecido o Sr. Hallen.

Sorriu ao pensar que poderiam ter mais aproximação com o passar dos dias. Foi ao seu guarda-roupa e escolheu um belíssimo vestido para pôr, afinal poderia se deparar com o Sr. Hallen pelo Jardim da casa ou mesmo uma visita inesperada dele, onde ele e Horacio eram muito próximos. Pensou também que não haveria tempo de correr e vestir algo mais apropriado, que o impressionasse de fato.

Levado alguns minutos para a sua produção, assim que terminou desceu as escadas para o seu desjejum, passando pelo corredor, deparou com sua prima que saía do quarto também naquele instante.

-Vai a algum lugar? -Perguntou Ornella ao vê-la tão arrumada.

-Que lugar haveria de ir? -Respondeu sem mais nem menos.

-A um piquenique. -Insinuou.

-Piquenique, e com quem?

-Não sei... Talvez com Sr. Hallen. -Contestou. - Você ontem o bajulou o tempo inteiro. Faltou o acompanhar até a porta.

-O que está querendo insinuar com isso? – A encarou, furiosa.

-Até mesmo o Sr. Hallen deve ter notado o seu entusiasmo por ele.

-E o que você tem haver com isso? -Chateou-se com a prima e lançou-a um olhar de cólera ou mordida.

-Acho que o Sr. Hallen não gosta de ser bajulado. -Disse a deixando para trás.

-Eu não te perguntei nada. -Berrou com a prima, furiosa por ela perceber o seu interesse secreto pelo Sr. Hallen e o pior, dando palpites em suas atitudes. Desejou que sua prima Ornella fosse para o inferno.

A brisa da tarde acalmava as folhas verdes nos pés de árvores, as folhas secas no chão dançavam de um lado para outro, embaladas com a força do vento. Ornella correu para fechar a janela de seu quarto, lutava com a cortina que insistia em sair para a fora da janela com as arrancadas do vento, com muito custo conseguiu dominá-la e colocá-la no seu lugar, assim em seguida fechando a janela outra vez. A vidraça de seu aposento dava para ver a casa do Sr. Hallen, que ficava de frente para o seu quarto. Por instantes permaneceu em pé na janela olhando a casa do seu vizinho, percebeu tudo fechado, parecia que ali não morava ninguém, a casa estava do mesmo jeito como tempos atrás, sem vestígios de pessoas.

O Sr. Hallen dificilmente andava por volta da propriedade, passava a maioria de seu tempo enfurnado naquela casa.

 O que haveria de fazer um homem sozinho naquele lugar?

 Pensou Ornella.

Não tinha parentes e amigos que o visitassem, a não ser o seu irmão Horacio.

Suas saídas de casa eram somente a negócios, não freqüentava os bailes da redondeza, embora fosse convidado, recusava todos os convites. Desde que se mudou nunca fora a Missa aos domingos, e nem mesmo a Igreja para conhecê-la.

Parecia um homem descrente.

Ao perceber seus pensamentos curiosos em relação ao Sr. Hallen, Ornella voltou a si e parou de pensar em tudo que havia passado pela sua cabeça. Erguendo, se afastou da janela, achou perda de tempo imaginar como era o cotidiano de seu vizinho, afinal isso não fazia nenhum sentido para ela. Não lhe acrescentaria nada pensar naquelas tolices, o que o moço fazia ou deixava de fazer, nada lhe dizia respeito.

 Sr. Hallen estava na varanda, sentado numa pequena mesa redonda, onde sua criada lhe servia a refeição da tarde, enquanto bebia o café aos pouco, com a outra mão segurava o jornal que continha as notícias da redondeza. Procurava estar sempre informado sobre tudo, era favorável aos seus negócios e o distraía, quando não se tinha o que fazer. Assim que acabou de ler todas as notícias colocou o jornal na mesa e terminou de tomar o restante do café. Foi embalado pelas malditas lembranças de sua ex-noiva, odiava pensar nela, nos bons momentos que estiveram juntos, nos finais de tardes aos quais passava juntos, aonde muitas vezes ele mal chegava de suas viagens de negócios, cansado, louco para repousar, e assim mesmo se colocava de pé para ir vê-la, transbordando de saudades. Pensou em tanto sacrifício feito em prol de uma mulher que não merecia nem mesmo os seus comprimentos, ou sentimentos de pena.

Como passou esse tempo todo ao lado de uma mulher sórdida e imoral, a qual destruiu a sua vida e todos os seus sonhos de ter uma esposa e filhos.

Sentiu vontade de encontrá-la e matá-la e também arrancar a sua cabeça e jogar em praça pública para que todos vissem o tamanho do seu ódio e o poder de sua vingança.

Indignado, abaixou a sua cabeça por pensar em coisas tão terríveis.

 De que adiantaria cometer um crime daqueles?

Não concertaria o estrago que ela fizera em sua vida e em seu coração.

Isso apenas o arruinaria ainda mais.  

Ornella (Degustação)Where stories live. Discover now