De volta aos fatos

3 0 0
                                    

 Nessas últimas duas semanas eu estava me sentindo tão vivo, tão sereno, parecia que eu estava flutuando nas nuvens. André me passava uma confiança e conforto que eu nunca havia sentindo por ninguém, era como se ele estivesse livre comigo fora do casulo igual á duas borboletas coloridas sob o céu azul. Somos tão resolvidos juntos, temos uma química que arde contra o fogo de quão combinamos ao ponto, eu havia parado com a bulimia, as vozes haviam parado também, parecia que eu estava anestesiado perante á minha doença. Tínhamos um segredo juntos, á nossa relação que me fazia me sentir mais humano, mas tudo foi simplesmente jogado pelo ralo...

                                                                              ...

 Eu estava ali de pé olhando profundamente nos olhos de André com uma vontade enorme de lhe dá um soco, mas eu me contive e continuei:

 - André você tá ficando completamente louco, me vigiou e perseguiu esse tempo todo, como você pôde?

 Ele me abraçou e disse:

- Porque eu sou incapaz de deixar você em paz!

 - O que você fez não foi nada saudável, tem ideia de como eu tô me sentindo agora?! digo afastando ele de mim.

- Eu sei que estou errado, mas você foi a única pessoa que me fez viver de verdade um relacionamento saudável e gay...

 Me virei de costas pronto para ir embora, ele atravessou na frente da porta e disse:

- Você foi a única pessoa que me entendeu de verdade, eu preciso de você!

 Com a cabeça á mil e a voz embargada empurrei ele e disse:

- Você só está enganando a si mesmo! digo saindo e sem olhar para trás, e percebi que ele não veio e respeitou meu espaço.

 Peguei um uber e fui direto para a casa de Emília, que ainda estava acordada assistindo filme de terror, sentei ao lado dela, e foi onde eu desabafei chorando de todas as formas possíveis, ela me aconselhou á dar um tempo á nós dois e que de alguma forma essa nossa relação era meio intensa, pelo fato dele ter me perseguido e me usado esse tempo todo, falei que não tinha forças nem para ir para casa , e como ela mora sozinha, ambos insistiu em dormir com ela e ir no dia seguinte.

 Durante a noite eu não consegui dormir, parecia que toda vez em que eu fechava os olhos, as palavras iam e vinham da minha discussão com André, e não demorou muito para as vozes começar, meu estômago estava cheio, acabei comendo compulsivamente com Emília, então me levantei, fui ao banheiro, me ajoelhei e joguei tudo fora no vaso sanitário.

 Eu só queria que essa terrível noite acabasse de uma vez só...

                                                                                                   ...

Acordei no dia seguinte, e já fui direto para casa, minha mãe obviamente já estava trabalhando, e como eu já tenho a minha chave não foi difícil entrar em casa, eu estava na varanda e minha cadela não apareceu, havia alguma coisa errada. Entrei em casa minha mãe disse que não pode trabalhar hoje por conta de um feriado que tinha, contei a ela tudo o que me aconteceu na noite passada e ela praticamente disse a mesma coisa que Emília, me levantei tomei um copo grande água com a medicação nova e perguntei:

- Mãe cadê minha cachorra?

- Que cachorra Levi? indaga ela.

- A minha cachorra, a Lua? tornei perguntar.

- Ela morreu tem seis meses filho!

E foi aí que eu fiquei chocado: 

- Mas mãe até semanas atrás ela tava aqui, como eu via ela então? pergunto.

- Há quanto tempo você estava vendo ela? diz ela.

- Desde sempre, porquê? digo.

- E há quanto tempo você não a vê? diz minha mãe acariciando meu cabelo.

- Desde que passei a tomar a medicação nova! digo.

- Então significa que estava tendo alucinações com a cachorra esse tempo todo e melhorou só agora porque passou a tomar a medicação nova! diz ela me abraçando.

- E isso é ruim? pergunto.

- Isso é ótimo, significa que você está obtendo sucesso com a medicação nova!

- E como minha cachorra morreu? pergunto.

- Ela desapareceu em uma tarde, e a procuramos por todo canto, até acharmos atropelada e sem vida na rua debaixo, você não se lembra, porque provavelmente já estava desestabilizado! diz minha mãe.

- Bom acho que sim, e só agora que você falando, eu havia parado com os delírios, vozes e bulimia, mas eu pensei que era por conta do meu envolvimento com André, e não, é por conta de eu estar me estabilizando novamente! digo sorrindo.

- Viu Levi, você não precisa de ninguém pra se curar, você pode se salvar sozinho na sua própria história! diz ela me apertando forte com mais abraços.

  Depois disso conversámos mais, e ela me aconselhou muito principalmente na questão da bulimia, e prometi que não iria fazer mais isso e que iria lutar para vencer á qualquer custo.

 Sabe, as vezes é necessário uma sacudida para acordamos para a vida e lidarmos com as nossas próprias façanhas...

A vida e a borboletaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant