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Apenas rio do quanto o cara me xingou nesses cinco segundos depois que o matei no jogo.

__Quer chá ou não?

Me viro e retiro meus fones para dar de cara com a minha mãe na porta do meu quarto, ela nunca vai aprender a bater na porta mesmo, eu já desisti disso.

Ela ainda está de pé com sua xícara na mão me olhando com essa cara de quem já se cansou da vida faz tempo e eu apenas respiro fundo e digo:

__Não, mãe.

Ela nem diz nada e sai fechando a porta atrás dela. As vezes tenho pena dela, meu pai ter largado a gente aqui quando eu era ainda um bebê e sumido pelo mundo, não fez muito bem a saúde mental dela. Presumo que seja isso e não algo hereditário, porque não estou muito afim de viver minha vida do jeito que ela vive a dela, do trabalho pra casa como se nada mais fizesse sentido e ela vivesse em piloto automático.

...

Já é quase hora do jantar então minha mãe me grita e percebo que passei quase o dia todo aqui no quarto. Pelo menos já começo de ajudante no mercadinho do senhor Graham na segunda, fiquei dias procurando um emprego depois que parei naquele emprego temporário.

Ela está sentada em frente a TV com seu prato na mão vendo esse programa de comédia que ela gosta e que eu raramente assisto, mas fico para lhe fazer companha durante o jantar.

__Tudo certo lá no Graham?

__Sim mãe, já começo na sexta. Valeu por me indicar.

__Claro, querido.

Olhando daqui ela parece mais velha do que é, e as vezes mais doente ou talvez seja só efeito dos antidepressivos.

__Já colocou comida para o Fisher?

Ela responde sem tirar os olhos da TV e rindo depois de alguma piada que não prestei muita atenção:

__Já.

Me sento com meu prato que ela deixou pronto sobre a mesa e começo a comer fingindo prestar atenção ao que esse cara fala na TV. Até que hoje o comediante é bom e a gente começa a rir juntos depois de um tempo. Terminamos o jantar e resolvo ficar um pouco mais com ela, mas logo ela diz que está cansada e já vai se deitar. Eu fico na sala vendo TV um pouco mais enquanto me deito no sofá.

Ouço batidas na porta, muito raro minha mãe ter visitas, ainda mais a essa hora. Quase deixo passar porque não quero ir acordá-la, mas a pessoa insiste e eu resolvo me levantar e ir lá ver o que querem.

Quando abro a porta, uma mulher muito bonita me olha com um sorriso. Eu nunca a vi antes por aqui, então digo:

__Minha mãe já está dormindo.

Ela apenas me olha um pouco confusa e depois diz ainda sorridente:

__Eu me mudei recentemente para cá.

Não sei bem onde ela quer chegar, mas esse não é realmente um bom horário para visitas. Então ela continua:

__Hoje recebi uma encomenda, não era pra mim.

Eu realmente não sei onde ela quer chegar com isso tudo e ela deve ver isso em minha cara e continua:

__Eu perguntei a um morador e ele disse que você mora aqui. Evan Carter não é?

Então ela estende a revista da Playboy com meu nome escrito no endereço de entrega.

Eu juro que quero morrer agora. Como eu não verifiquei que tinha gente morando no apartamento em frente? De onde essa mulher saiu? Eu uso esse endereço do apartamento em frente ao nosso para minha mãe não receber as revistas que peço nos dias que ela tem folga e fica em casa.

Eu pego a revista de sua mão e engulo em seco. Ela diz:

__Sou Alicia Collins, sua nova vizinha ali da frente.

Acho que estou mais pálido do que já estive antes na frente de qualquer mulher mesmo que isso sempre aconteça com frequência.

Ela fica me olhando por um tempo e então diz:

__Bom, pelo menos você é mais tradicional, os jovens hoje em dia são mais digitais.

Acho que estou ainda mais branco depois do seu comentário.

Então ficamos olhando um para o outro sem graça e ela então sorri mais uma vez e diz:

__Tudo bem, está entregue, eu já vou indo.

Eu fico ainda na porta olhando ela andar de volta até o apartamento em frente ao nosso. Eu nem sequer a agradeci e assim que fecho a porta atrás de mim é que me dou conta disso.

Mas que se dane, eu preciso mesmo é esconder essa revista com as outras naquele local secreto que minha mãe nunca vá encontrar. E daí que tenho 19 anos, nunca é legal quando a sua mãe encontra coisas assim.

Desligo a TV e vou para o meu quarto com a revista escondida debaixo do meu casaco como se de alguma forma minha mãe fosse acordar e me ver com ela aqui, mas acho que não. Geralmente ela toma aqueles remédios de dormir quando se deita cedo assim.

Ótimo, mais tempo para eu guardar isso de uma vez. Pego minha caixa secreta no fundo das minhas roupas no armário, minha mãe sempre me entrega as roupas limpas em um cesto, então quase nunca vem mexer aqui.

Eu tenho uma coleção de revistas pornôs da Playboy, hoje em dia é algo raro de encontrar e compro de anunciantes na internet. De alguma forma apenas ver as imagens me faz sentir menos repulsa por mim mesmo por ficar me masturbando o tempo todo com elas. Me sinto sujo olhando um vídeo em algum canal de filmes adultos e isso também não ferra com meu HD, então prefiro mesmo as revistas de toda forma.

Essa era uma das que faltavam na minha coleção e estou feliz de ter encontrado ela por um preço bem bacana. Não que eu gaste todo meu dinheiro com isso, mas um cara que nem sai de casa como eu, precisa mesmo de algum hobbie, mesmo que um que soe meio profano para alguma das beatas que moram nesse condomínio.

Depois de colocar ela no lugar certo da coleção, eu fico lembrando do que aquela mulher disse, sobre eu ser convencional, de alguma forma acabo sorrindo pra mim mesmo, gosto disso.

Vou ligar meu computador outra vez, a essa hora sempre tem uns bons jogadores online para eu dar um surra em algum jogo. Quando passo pela minha janela eu vejo alguém de costas do outro lado. É estranho ter alguém ali, porque nem me lembro mais da época em que abriram essa janela.

Então percebo que é ela, aquela mulher que acaba de bater em minha porta. Fico olhando em um ângulo em que ela não possa me ver aqui. Ela parece estar com uma roupa diferente da que estava aqui e parece se olhar em um espelho, ela está bonita. Ela então se senta na cama e passa a mão nos olhos, então vejo que ela está chorando.

É meio estranho ver ela assim, porque ela parecia tão bem e feliz quando bateu a nossa porta. Ela fica assim por um tempo e isso me faz ficar triste por ela mesmo que eu não saiba o motivo dela estar chorando.

Ela finalmente se levanta e vem até a janela, olha em volta por um tempo rapidamente e fecha as cortinas me privando agora de sua visão. 

Como eu te VejoWhere stories live. Discover now