Respirando comigo

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A igreja estava em festa, pessoas iam e vinha, todos alegres.
Alguns carregavam caixas para ajudar no bazar, outros olhavam os objetos nas mesas afim de comprar. Crianças subiam e desciam do escorregador improvisado que o padre montou.
Ah, o padre. Assim que o vi não pude deixar de admirar sua aparência.
Ele usava seu habitual conjunto preto social, seu cabelo estava alinhado para trás e suas mangas estavam dobradas até o cotovelo pois ainda estava trabalhando no bazar.

A madre me puxou pra dentro e me levou até meu quarto, pensei que ela brigaria comigo por estar olhando para o padre, até que vi um vestido pendurado na janela.
Era o vestido mais lindo que já vira, não que eu tivesse muitos vestidos, mas aquele era feito especialmente pra mim.

"Vista-se, menina, hoje vamos aproveitar e trabalhar ao mesmo tempo."

"A senhora não deveria..."

"Faço o papel de madrinha, apenas." Ela sorriu pra mim e se foi, fechando a porta pra eu poder me vestir.

Ele era preto com detalhes dourados, abraçava meu corpo por completo. De alças largas e que ia até o joelho. Era sensual mas discreto.
Não pude deixar de pensar no que ele ia achar.
Soltei meu cabelos e coloquei uma sandália preta com um salto pequeno que eu tinha visto no bazar mais cedo e a madre comprou pra mim dizendo que eu mesma pagaria por eles trabalhando hoje.

Passei um batom rosado e fui ao encontro da igreja. Queria que ele me visse mas o que encontrei foi o médico loiro que parou na minha frente com um enorme sorriso.

"Uau! Você está divina."

"Obrigada, doutor." Queria me esquivar do médico gatinho e ir em direção ao que realmente me importava mas ele não estava com cara que ia me deixar livre tão fácil.

"Só David, Maine." Apenas sorri. "Quer comer alguma coisa? A torta da irmã Catarina é a melhor do mundo."

"Eu..." Só queria ir encontrar o padre.

"Vamos! Você não vai se arrepender."

Passamos pela pequena multidão com David apoiando a mão na base das minhas costas. Assim que sentamos na tenda da irmã das tortas, vi o padre a dez passos me observando com curiosidade, talvez. Seus olhos iam do doutor para mim e suas grossas sobrancelhas desciam para seus olhos azuis que agora me encarava até que um senhor o cumprimentou.
Me senti fazendo algo errado e comi a torta, que realmente era deliciosa, e rapidamente me livrei do bonitão pra ir de encontro ao padre.

No meio do caminho a madre me chama.

"Minha filha, tem uma caixa de ursinhos na salinha atrás da igreja, não achei o padre pra ir buscar pra mim. Você poderia ir buscar?"

"O padre está bem ali..." Mas ele não estava mais.

"Ele está muito ocupado ultimamente, este lugar estava precisando dele. As chaves estão na porta, é só rodar."

"Tudo bem."

Fui em direção a salinha, eu e o padre não estávamos destinados a nos encontrarmos hoje, então desistir e só iria ajudar para que a arrecadação corresse bem.

A porta da salinha não tinha chave nenhuma mas estava aberta então entrei, encostando a porta atrás de mim.
Quando me virei, dei de cara com o padre Oskar segurando uma caixa com ursinhos de pelúcia dentro.

"O que faz aqui?"

Sua voz era grave e seus olhos me avaliaram como na barraquinha de tortas.

"A mesma coisa que o senhor, atrás de uma caixa de ursinhos."

"Essa é a única. A mesa de pelúcias está vazia, o que é bom, quer dizer que estamos vendendo."

Ele deu a volta em mim e ia alcançar a maçaneta quando eu não pude evitar e abri minha boca enorme.

Padre NossoWhere stories live. Discover now