24.

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Any Gabrielly

Joshua era um ótimo ator. De verdade, mesmo quando tínhamos nossas intrigas diárias, eu o admirava pelo seu talento. Era incrível ver a mudança tão nítida que ele tinha ao sair de si e encarnar um personagem, era lindo e inspirador. Mas, quanto mais nos aproximávamos, mais eu o conhecia melhor. Eu sabia quando ele estava tímido, ansioso, animado, triste, feliz. E eu sabia reconhecer quando algo não estava certo. Portanto, tinha tempo que eu sabia que algo não estava certo. Ele camuflava bem; não teria percebido se não tivéssemos sido tão transparentes um com o outro por tanto tempo. Eu sabia perfeitamente que ele não estava mais sendo transparente comigo.

— Cadê o Josh, Ams? – perguntei ao me aproximar da pequena.

— Ele disse que precisava ajudar o Lamar com alguma coisa – respondeu, ajeitando o laço verde amarrado em sua cintura, detalhe do vestido azul que vestia.

— Entendi – respondi, suspirando com mais uma das desculpas que ele vinha arrumando para me evitar.

Segurei a mão de Daisy e a guiei até minha cabana. Seria mais uma tarde sem Joshua. Pelo menos, era esse o plano dele. Quando estávamos chegando na minha cabana, desviei o caminho e fui para a cabana de trás. Bati na porta e esperei até que alguém a abrisse para mim.

— Ah, oi, Any – Lamar me cumprimentou.

— Ei. O Joshua tá aí?

— Não, pensei que ele tava com vocês.

— Eu devo ter confundido o lugar que ele disse que ia. Foi mal, Lamar – balancei a mão, inciando uma despedida.

— Tranquilo. Se ele chegar aqui, digo que você tava procurando.

— Valeu.

Ainda segurando a mão de Ams, decidi não insistir e a levei para o parquinho. Brinquei com ela até ela cansar e pedir para voltar para o chalé. Fomos para o meu, onde ficamos deitadas na cama tentando não cochilar para não interferir na noite de sono dela, mas não tivemos sucesso. Depois de dez minutos de conversa, cochilamos e acordamos com o pôr do Sol. Ou melhor, eu acordei.

Passei o braço por baixo do corpo leve da pequena garotinha, segurando-a em meu colo. Pressionei-a contra meu peito e fui andando lentamente até a cabana para baixinhos, com cuidado para não acordá-la. A deixei em sua cama, informando a monitora que ela dormiu mais cedo e para que ficasse de olho nela. Voltei para o meu chalé, coloquei meu livro e uma manta dentro de uma mochila e saí novamente, iniciando caminho para a cabana abandonada na trilha.

Vestindo meu casaco e shorts moletom cinza e calçando meia com desenhos de flores e o par de crocs azul que roubei de Joshua, fiz o percurso da trilha até a cabana. A luz estava acesa e a janela, aberta. Sabia que ele estava lá. Mesmo assim, entrei.

— Oi – cumprimentei, jogando minha mochila para o lado de dentro e me preparando para pular a janela.

— Cacete! Que susto, Any! – Ele exclamou, levando a mão ao peito. Vestia seu casaco preto de sempre, nem precisava ver as costas para saber que Wish You Were Here estava escrito em letras brancas. As pernas estavam encolhidas dentro de uma calça moletom larga e os pés descalços. Ele mexia no celular.

Dei de ombros e pulei a janela, entrando no cômodo gigante.

— Não sabia que tava aqui – comentei, abrindo minha bolsa.

— Não sabia que você vinha pra cá – rebateu. Pareceu uma afronta, como se eu não pudesse ir para lá sem ele. Entrei na defensiva.

— Também não imaginava que você vinha pra cá sozinho.

— Eu não disse isso. – Mas pensou, respondi mentalmente. Ele sabia. Eu sabia.

— Ams dormiu e resolvi vir ler meu livro – me expliquei, apenas para preencher o silêncio.

— Legal – respondeu, demonstrando não querer preencher o silêncio. Legal. Entendi.

Puxei meu livro de dentro da mochila e o coloquei em cima da cama. Puxei, também, minha manta, a estendendo de maneira que o cobrisse as pernas. Mesmo que estivesse sendo um babaca, não o deixaria passando frio. Peguei o livro e me enfiei sob as cobertas, balançando meus pés apenas para sentir o conforto das meias confortáveis relando no tecido quentinho da manta. O movimento atraiu a atenção de Joshua e vi quando ele abriu um pequeno sorriso, quase invisível, mas estava ali.

Abri o livro onde parei e retomei a leitura. Ao menos, tentei. Estava prestando atenção até no ritmo em que ele respirava. Estranho como ele estava ali, bem do meu lado, tão próximo, mas nunca estivemos tão distantes. Queria gritar com ele, sacudi-lo e esperniar até que ele me dissesse o que tinha de errado. Que ele parasse de agir estranho, que voltasse a ser o melhor amigo que estava se tornando para mim. Apenas que pudéssemos ser como estávamos passando a ser.

— Posso ler? – sua voz surgiu do nada. Não sei se algum barulho tinha surgido antes, mas eu não tinha reparado. Me sentia como um cachorro atento, com as orelhas em pé, prestando atenção em cada detalhe. Quando ele falou, pareceu que gritou. Me acostumei tanto com o silêncio que ele criou entre nós, que até estranhei sua voz.

— Hm, pode – respondi, precisando pigarrear para recobrar minha voz. Também estranhei a minha. Estava mais aguda. Ansiosa.

Ele chegou mais perto e coloquei o livro entre nós. Ele não disse mais nada, apenas focou nas palavras da página. Mas, novamente, eu o conhecia. Tinha um “Dicionário Joshua” montado nitidamente em minha cabeça. Percebi seus pés balançando, inquietos. Suas mãos beliscando os próprios braços. O joelho da perna direita sacudindo. Ele estava ansioso. E nervoso. Eu o deixei nervoso? Pensei que já tivéssemos passado aquela fase. Mesmo querendo dizer muitas coisas, não disse nada. Lemos, os dois, em silêncio, como se estivéssemos sozinhos.

Perdi a noção do tempo. Vinte minutos passaram. Ou, talvez, cinco. Ou uma hora. Joshua deitou a cabeça em meu ombro. Pensei que estava tão confusa com seu afastamento repentino que já estava imaginando coisas, mas lá estava ele, realmente deitado em meu ombro. Seu cabelo pinicava meu pescoço de um jeito reconfortante. Passei a próxima página, finalizando um capítulo que lemos juntos. De repente, ele disse:

— Só faltou um chocolate quente com bastante marshmallow dentro.

E, assim, soube que ele estava de volta. Soltei uma risada que escondeu meu suspiro de alívio. Meu mais novo melhor amigo tinha voltado, tão de repente quanto tinha ido. Nem eu imaginava como tinha sentido falta daquilo. Dele.

n sei pq ainda tento comemorar quando volto, mas é isso, estou de volta (por tempo indeterminado). desculpem a demora pra atualizar, n tenho uma boa desculpa mas tenho os bonitinhos se amando como um acordo de paz

Acting Love | BEAUANYWhere stories live. Discover now