9 - Me deixe por perto!

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Amora 👣

Eu não disse nada a minha mãe. Sabia que existiam momentos em que palavras nenhuma seriam capazes de apaziguar a situação. O tempo, ele era o melhor remédio, era ele que iria colocar tudo no seu lugar. E eu precisava dar tempo ao tempo. No momento, eu tinha outra situação para lidar, Gustavo! Eu precisava entender o que de fato estava acontecendo ali, como ele pôde pegar para si um problema como aquele? Ele não tinha obrigação nenhuma, nem comigo, nem com meu bebê. Mas, o que o levou a fazer aquilo?

Dó? Pena?

Jorge me ajudou a levar minha mala até o quarto de Gustavo como ele pediu. Na verdade, eu ainda não tinha a desfeito, e por isso, foi tudo mais rápido.

Ao chegar no quarto dele, me vejo sozinha e confusa. O que eu estava fazendo ali? O que era tudo aquilo? Mas antes que eu pudesse continuar com meus questionamentos, Gustavo surge pela a porta do quarto entrando ali e fechando a porta por trás de si.


Gustavo🏇

Se eu havia perdido o juízo? Aposto que sim!

Mas o que eu poderia fazer? Deixá-la partir? Sofrer mais do que já estava?

Fato era, que desde a primeira vez que eu coloquei os olhos em Amora, senti que algo além da compreensão humana nos ligava. Era como se o destino, estivesse brincando comigo, mais uma vez.


Há quatros anos atrás eu havia perdido tudo. Minha esposa, meu filho, minha família, a vontade de viver e qualquer objetivo de vida. Vi com meus próprios olhos a vida ser tirada de mim, e jurei a mim mesmo que nunca mais sentiria uma dor como aquela. Larguei tudo para trás, meu escritório de advocacia, meus bens, minha vaidade, e segui para o interior tendo como objetivo recomeçar após dois longos anos de luto. E recomessei. Reconstrui minha vida e segui vivendo tranquilamente fazendo o que eu mais gostava além de advogar, lidar com cavalos. E assim foram meus últimos dois anos.

Até que eu a vi.

O mesmo olhar, o mesmo desejo, a mesma dor.

Amora carregava um fardo cruel. Ela havia sido vítima de uma das maiores atrocidades que uma mulher poderia passar. E mesmo sem conhecer sua história, mesmo sem saber de nada, eu senti a necessidade de ajudá-la naquele momento de loucura que ela estava passando. Á partir do momento que a tive em meus braços desmaiada pela a primeira vez, senti que algo nos unia.



- Por que fez isso? - foi a primeira coisa que ela disse ao me ver entrar no quarto.

Fecho a porta e me aproximo.

- Não sei! Só sei que fiz. - confesso.

- Gustavo, eu serei eternamente grata por tudo o que você fez e faz por mim! Mas, não posso aceitar que faça isso!

- Amora, por favor...

- Não! - ela me corta.
- Não me peça para concordar com isso! Não está certo. Você tem sua vida, é livre, sozinho. Já eu, eu estou cheia de problemas, carrego um fardo, tenho um bebê a caminho. Não posso aceitar que você me ajude desta forma! Isso não está certo.

- Eu fiz porque eu quis. Eu quero ajudá-la! - tento me explicar.

- Não Gustavo! Não preciso da sua pena! - ela se irrita.
- Não quero que ninguém sinta dó de mim, nem pena, nem nada! O que está acontecendo comigo é apenas o fruto da minha burrice.

- Não diga isso...

- Você é uma pessoa boa, um bom homem. Merece mais do que isso... Eu vou embora! Vou pegar minhas coisas e vou, na verdade não era nem para eu ter vindo. Tudo estaria melhor se eu tivesse tomado outro rumo. - ela desabafa.

Não sei como explicar mas senti um aperto no peito ao ouvir suas palavras. Amora pega sua mala e começa a andar para sair do quarto. Eu não podia deixar ela partir, não podia permitir que ela se fosse, não daquele jeito, não naquela situação. Amora estava vulnerável e grávida.


- Eu vi minha mulher tirar a própria vida! - digo ainda de costas depois que Amora passa por mim.

Ao dizer aquilo em voz alta mais uma vez, sinto meu coração doer. Era como se eu sentisse toda aquela dor novamente.

- O quê?! - Amora diz parecendo surpresa.

Ela volta para trás e para na minha frente. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas.


- Não sei o motivo dela ter feito isso, até hoje eu não sei! Ela esperou eu chegar em casa do serviço, pulou do segundo andar da nossa casa bem na minha frente. Ela carregava um filho meu! - digo isso ao segurar as lágrimas. Prometi que não iria chorar mais por isso.

- Meu Deus! - ela diz abismada.

- Eu sei como é sofrer sozinho, como é carregar um fardo impossível de se livrar. Sei como é sofrer pelo o que o outro fez, eu passei por isso! Quando eu te vi, na beira daquele abismo, quando você me disse que estava grávida, foi como se, eu não consigo mais ficar longe de você Amora. Não é pena, nem dó. Só que, eu simplesmente não consigo ficar longe! - admito.

- Gustavo, eu...

- Eu sei que não posso te prender aqui, você é livre. Saiba que pode partir quando quiser. Mas, por favor, me deixe te ajudar. Me deixe por perto!  - imploro.

- Eu não posso fazer isso com você. Não posso te fazer criar um filho que não é seu! - ela diz com os olhos cheios de lágrimas.

- Amora, esqueça isso! - digo ao tocar em seu rosto.

Ao sentir o toque de meus dedos por sua bochecha, Amora fecha os olhos.

- Não importa a posição que eu terei na sua vida, só me deixe por perto de vocês! Por favor! - insisto ao acaricia-la.

Sim, eu precisava ter os dois perto de mim.











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