9. Era uma vez em Lagoinas.

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Como previ: eu não consegui mesmo parar de pensar naquilo — "aquilo", também conhecido como Jungkook sorrindo para mim.

E, ah, é uma vista deveras agradável a dele desse jeito.

Eu também não paro de sorrir. Há uma euforia crescente dentro de mim que me faz ficar cheio de devaneios, como alguém sonhando acordado, enfeitiçado por causa de uma simples lembrança.

Preciso confessar: tenho quase certeza de que dormi com um sorriso desenhado no rosto. O dia pareceu tão mais brilhante quando acordei e olhei pela janela… As borboletas pareciam dançar uma coreografia graciosa e sincronizada, as flores estavam mais floridas, imitando a primavera das terras humanas, e, não sei por que, mas elas estavam cheirando melhor hoje. 

"Jimin, você quer… sair comigo amanhã?"

Enquanto tomava banho em minha banheira de pedra natural, eu suspirei pateticamente para o nada e me afundei ainda mais na água com fragrância de peônias. A pergunta me pegou tão de surpresa que comecei a rir, e Jungkook ficou sem entender nada, com aquele franzir de sobrancelhas típico dele.

— Depende — eu disse, agitado por causa do entusiasmo. — Você vai me levar pra ver aquela estátua enorme de um homem pedindo um abraço em cima de um morro?

A careta confusa de Jungkook se intensificou. Eu me levantei num salto e, de frente para ele, imitei a tal da estátua que um dia vi na TV de um humano.

— Ela é assim, Jungkook, olha. — Ajeitei a postura e abri bem os braços ao lado do corpo. — É sério que você nunca viu? — Impossível.

E então Jungkook exalou um som risível e olhou para mim com cara de quem estava prendendo a risada.

Ué?

— Jimin — ele chamou.

— Hm?

— Você está falando do Cristo Redentor?

Eu nem sabia que a estátua tinha um nome!

Fiquei um pouco embaraçado porque, na verdade, o monumento é uma representação de uma figura bíblica importante e não de um homem qualquer (e ela não está pedindo um abraço, como sempre achei que estivesse). No fim das contas, acabei descobrindo que não é para lá que Jungkook vai me levar.

É para um lugar muito melhor. É por isso que estou tão animado desse jeito, como se estivesse indo ver aquele pináculo elegante de ferro que tem lá em Paris.

Cantarolando, eu rodopio enquanto seguro uma camisa pelo cabide. Eu precisei de um tempo mais longo do que o normal para escolher o que vestir hoje, já que, pelo visto, ser chamado para sair por Jungkook fez coisas estranhas comigo. Eu estou querendo estar bonito, o que é deveras curioso, considerando que eu nunca exigi tanto assim da minha aparência antes.

De frente para o meu espelho emoldurado em folhas, eu me balanço sobre os calcanhares numa dança improvisada. Acho que gostei de mim assim: a blusa social é de um rosa pastel delicado e, devido ao tecido, ela é quase transparente (de um jeito nada indecente, só para deixar claro). O short é da mesma cor, o que faz parecer que estou com um conjuntinho. Eu desço as vistas para o sapato com a meia aparecendo, depois subo para as mãos quase desaparecendo na barra da camisa larga, para a gravata frouxa meramente decorativa, e decido que estou satisfeito.

Por último, eu só coloco a boina de Jungkook e passo minha fragrância de camomila no pescoço e atrás das orelhas. O ritual de transição de sempre vem em seguida, com o estalar de dedos sendo o ápice de todo o processo.

Jungkook me disse ontem, depois de longas horas de conversa sussurrada — a gente combinou de sussurrar depois de lembrar que seu pai tinha nos escutado da outra vez. E foi bom conversar baixinho com ele; pareceu um segredo só nosso (e a ideia de ter algo com Jungkook é perturbadoramente atraente) — no chão do seu quarto, que eu podia ir diretamente para lá. Bom, desde que não chegasse muito cedo, disse ele. Acho que quis evitar que eu o visse só de toalha de novo.

ISSO NÃO É UM CONTO DE FADAS • 지국Where stories live. Discover now