MARCELE
Duas semanas longe de casa, longe do meu morro.
Odeio quando tem esse tipo de missão que tenho ficar longe de casa por mais de três dias, fico a ponte de surtar no bagulho.
Dessa vez nem tive como escapar disso, convocaram logo o Breno e eu, e ainda era missão que envolvia os grandões do comando, aí já viu ne?
Amanhã era dia de voltar pra casa, dia de ouvir uma porrada de fogos pra anunciar que nois voltou pra casa.
Meu morro é meu lar, sinto falta pra caralho de lá.
Sem contar a saudade da minha coroa, que deve tá preocupadona já que quando a gente tá em missão não pode usar o celular.
É tipo BBB sabe? Quando cê fica confinado? é tipo isso, não pode se comunicar com ninguém pra não atrapalhar a missão.
Vai achando que tráfico é bagunça, tudo na encolha, tudo no sigilo, maior organização da porra.
Já tava tudo resolvido, só tamo mermo esperando amanhecer pra o vapor vir buscar nois pra guiar pro morro.
Breno: caralho tô doido pra ir pra casa cara - passou a mão na cabeça impaciente - mó saudade da mãe, da minha pretinha, porra! - jogou a cabeça pra trás.
Concordei com a cabeça e dei outro trago no balão, soltando a fumaça em seguida.
Marcele: papo dez, não aguento mais ficar aqui, sério mermo - traguei de novo - saudade da coroa e das minhas nega também - ri quando o Breno jogou uma almofada em mim - ué filhão, cê sente saudade da sua fiel e eu das minhas puta - ri e ele me acompanhou.
Breno: se a mãe ouvisse cê falando isso, já ia te meter mó tapão na jaca e falar pra caralho no teu ouvido - ri concordando e joguei a ponta do balão no chão, pisando em cima - mas eu concordo mermo com ela, tá na hora de tu parar de putaria - encarei ele e fiz careta - é sério porra, eu quero um sobrinho mana - me benzi e ele riu.
Marcele: tá chapadão você, só pode - ele gargalhou - para dessas ideia hein Breno? quero ter uma porrinha agora não, ainda mais com essas puta do morro, tá repreendido - me benzi de novo - porque tu e a Daí não me dão um sobrinho então? - encarei ele.
Breno: Daiane não quer agora - pigarreou - disse que tá nova demais ainda, e que precisa focar no salão dela agora, só daqui uns quatro anos que nois vai desenrolar essa fita aí - concordei com a cabeça.
Marcele: errada ela não ta né? - ele concordou - quê que tu acha de nois fazer um churrasco ou baile pra comemorar que nois voltou? tô doida pra curtir e ficar doidona - ri.
Breno: acho melhor um bailão mermo, vamo voltar logo sábado que já é dia de baile normal, já facilita - concordei.
Marcele: será que a Babi e a Musa tão dando conta dos bagulho do morro? - nois deixou elas no comando, é as única que nois confia pra isso.
Pra soltar o papo mermo, eu que ficaria de frente como sempre fico quando o Breno vai pra missão, mas dessa vez colei junto com ele, então deixamo as de fé no comando.
Musa é a nossa hacker a uns cinco anos, ela que acessa os bagulho do sistema dos cana, clona as redes dos rival, invade tudo mermo, filha da puta é braba mermo.
Babi é minha parceira desde de moleca, nois vivia junta pra cima e pra baixo no morro, povo ficava de cabelo em pé com as merda que nois fazia.
Ela cuida da contabilidade das boca, na verdade eu e ela porque não confio em mais ninguém pra isso, os filha da puta querem logo passar a perna.
Breno: tô bem batendo neurose nisso aí, elas sabem como que funciona até melhor que nois dois - apontou pra mim e pra ele mesmo.
Não mentiu, era verdade mermo.
Ficamos ali na varanda do quarto da casa que nois tava vivendo esses dias aí.
Só trocando ideia e marolando nas merdas que o Breno falava.
As vezes eu esqueço que ele é meu irmão mais velho, porque o menó idiota.
Mas tenho nem o que reclamar, ele cuidou de mim e da minha mãe depois que o pai morreu, e ainda teve que assumir o comando do morro.
Se não fosse por ele, eu nem sei que merda que eu ia fazer, por que se eu tivesse assumido o morro naquela época, revoltada e no ódio de geral, ia ser sangue e tiro pra todo lado.
Mas ele foi brabo demais, forte e centrado, como nosso pai sempre ensinou.
Eu sou explosiva demais, já vou logo ferrando tudo e que se foda.
Meu erro é isso aí.
Já era tardão quando nois foi deitar pra dormir.
Breno capotou rápidão, e oh muleque feio dormindo cara, sei nem como a Daiane aguenta, tá se boca aberta e os caralho, dá até vontade de rir.
Nem consegui dormir, papo reto.
Cochilei uns vinte minutos e já acordei vendo o quarto todo claro, tinha amanhecido já mané.
Nem enrolei mais, catei uma roupa e fui tomar banho, tomei gelado mermo pra acordar de vez.
Quando sai do banheiro, já trajada, o feio do Breno já acordado com mó cara amassada.
Marcele: menó, mas cê é feio hein tiw? - ri enquanto fechava minha mochila.
Breno: vai se fudê Marcele - pegou a toalha e foi puto pro banheiro.
Coisa de irmão né? tiração toda hora.
Ele nem demorou muito no chuveiro, saiu rápidão já trajado também.
Esperamo mais vinte minutos e o menor que veio buscar a gente ligou avisando que já tava ali na frente.
Só foi a gente entrar no carro que o menó saiu guiando pro morro.
Tava felizona filho, finalmente voltando pro meu berço, meu morro, minha Rocinha.
•
Continuaaa ✨
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A DONA | SÁFICO
Fanfiction📍Rocinha, RJ Quais as chances de encontrar paz e aconchego num lugar perigoso e cheio de controvérsias? pois é, as chances são poucas, mas eu encontrei minha paz, e foi nos braços da sub dona do morro.