O fliperama vazio

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Kim Minhee não suspira quando Baekhyun solta uma piscadela em sua direção na garagem dos Kim. Ele é bonito e fica estranhamente mais atraente com a guitarra nas mãos e as unhas pintadas de preto. Além do mais, ele beija muito bem. Mas ela não está ali pra lembrar dos beijos de Baekhyun no beco perto da Avenida Principal depois da festa do dia da inauguração da cidade.

Kim Minhee está ali porque sua tia trabalha para os Kim. E ela vai lá para ajudar às vezes, mas a mulher, em determinados momentos do dia, apenas suspira e diz para ela ir ler alguma coisa, fazer suas atividades do colégio, diz que não quer atrapalhar o futuro brilhante da sobrinha. Por isso ela vai até a garagem. É de se esperar que uma casa como a dos Kim tenha uma biblioteca ou um escritório cheio dos mais valiosos exemplares de livros. Mas enquanto ajudava a tia a arrumar a casa, Minhee percebeu que nem mesmo no quarto de Kim Jongdae não há um livro que não esteja no cronograma escolar. Parece que todos os exemplares que já compraram na vida acabam em caixas de papelão no canto da garagem onde nenhum dos garotos chegam perto.

— Mais um livro, Min? — Baekhyun pergunta, a guitarra está jogada nas costas enquanto o rapaz se aproxima.

— Nada que você não tenha lido — responde, virando-se para o rapaz.

Estão muito perto. Mas Minhee não tem certeza se quer o beijar de novo. Não que tenha sido só uma vez. Mas depois que viraram amigos, o que aconteceu durante o último inverno, não trocaram carícias. De qualquer jeito, Baekhyun está perto e dando aquele sorriso idiota que só ele tem.

Jongdae desce as escadas de madeira e a primeira coisa que repara é nos dois. Ele revira os olhos e deixa as garrafas de cerveja na pequena estante no canto da garagem. Minhee o olha nos olhos e ele cruza os braços na altura dos peitos.

— A gente vai ensaiar ou não?

Baekhyun vira, ele ri ladino.

— O Jongin ainda nem chegou, por que está tão estressado?

— É um ensaio privado — Ele diz, e Minhee revira os olhos.

Kim Minhee odeia Kim Jongdae e tudo que ele representa. O odeia desde sempre, desde que sua tia começou a trabalhar para os Kim quando ela tinha oito ou sete anos. O odiava criança, quando ele quebrou a boneca que a menina ganhou de presente antes do pai sumir e achou que podia resolver isso só comprando uma melhor. O odiava na pré-adolescência quando percebeu que se matava de estudar para conseguir um futuro diferente do resto da família e Jongdae jogava o catálogo de videogames em cima da mesa do café da manhã e no jantar tinha o novo Atari. E, acima de tudo, o odiava agora, porque ele continua um extremo babaca que não dá a mínima para nada além do próprio umbigo.

Felizmente o ódio é recíproco. Jongdae lembra de começar a odiar Minhee aos 12. Antes só a achava dramática e meio insuportável, mas todas as meninas eram naquela época. Ela o tratava mal desde os oito, quando ele pôs fogo numa boneca de pano feia dela. Era para ser uma brincadeira, mas ela chorou por horas e Jongdae fez o pai comprar a boneca mais cara do mercado. Ela continuou chorando e o odiando. Mas aos 12 ela o ofendia. O chamava de mauricinho burro. Hoje ela continua se achando só porque lê todos aqueles livros e é a aluna número um do colégio.

Jongdae não precisa ser aluno número um de coisa alguma.

Um dia ele vai pegar o dinheiro do pai, comprar um van e fugir de casa com a bateria.

Só vão ouvir falar dele quando estiver na Europa fazendo shows.

Kim Minhee que se foda com seus livros.

— Eu a convidei para ficar — Baekhyun diz, só para implicar. Ele sabe que os dois não se suportam. Mas acredita que há uma tensão sexual não implícita ali. Qualquer homem ficaria louco perto de Kim Minhee, e ele, como um homem bissexual, sabe que também não negaria Jongdae se já não o conhecesse por completo.

Here, There and EverywhereWhere stories live. Discover now